MUNDO
Biden mostra confiança na vitória e pede união nacional
O democrata Joe Biden, que está prestes a conquistar a Casa Branca, pediu nesta sexta-feira aos americanos que virem a página em suas divisões, e prometeu que não perderá tempo diante da Covid-19, no momento em que o país registrou um recorde de novos casos da doença pelo terceiro dia consecutivo.
Em discurso pronunciado esta noite com tom de presidente eleito, Biden repetiu que acredita na vitória, mas disse que irá aguardar o fim do processo eleitoral. Também garantiu que irá combater a pandemia, que deixou mais 127 mil infectados no país nas últimas 24 horas.
"Devemos deixar a raiva - e a demonização - para trás. É hora de nos unirmos como nação e nos curarmos", disse Biden em sua cidade natal, Wilmington, Delaware, acompanhado de sua companheira de chapa, a senadora Kamala Harris.
"Minha responsabilidade como presidente será representar toda a nação", assinalou o democrata, traçando um forte contraste com os quase quatro anos de governo provocador de Trump.
Biden indicou que ele e Kamala já haviam se reunido com especialistas para discutir como conter o forte aumento dos casos de Covid-19 no país, o mais atingido pela pandemia. "Quero que todos saibam que, desde o primeiro dia, colocaremos em prática nosso plano para controlar esse vírus", garantiu. "Isso não pode trazer de volta nenhuma das vidas perdidas, mas irá salvar muitas vidas nos próximos meses."
Biden estava mais perto de tomar a Casa Branca do republicano Donald Trump, mas a apuração lenta dos votos seguiu mantendo os Estados Unidos e o mundo em suspense, três dias após o fechamento das urnas.
Trump advertiu nesta sexta-feira que seu rival não deveria reivindicar uma vitória eleitoral "erroneamente", apontando que ele também poderia assumir o triunfo. "Os processos judiciais estão apenas começando!", alertou no Twitter.
A vantagem do presidente, 74 anos, foi diminuindo em vários estados quando começaram a ser contados os votos pelo correio, que bateram recorde este ano devido à pandemia de covid-19, o que tem favorecido principalmente Biden.
Biden, 77 anos, continuava a crescer na Pensilvânia, que lhe daria 20 votos eleitorais cruciais para cruzar o limiar dos 270 votos exigidos no Colégio Eleitoral para ganhar a presidência dos Estados Unidos.
Na Pensilvânia, estado natal de Biden, onde Trump venceu há quatro anos, o candidato democrata liderava o presidente republicano por 20.000 votos, uma margem estreita, que, provavelmente, exigirá uma recontagem.
Em comunicado divulgado hoje, Trump pareceu mais moderado, depois de um discurso na Casa Branca na véspera, em que insistiu nas acusações, sem provas, de fraude, que lançou na madrugada de quarta-feira, quando se declarou vencedor horas após o fechamento das urnas. No entanto, ele continuou a ameaçar ir à justiça para contestar supostos votos "ilegais".
'Presidente eleito'
A presidente da Câmara dos Representantes e líder dos democratas no Congresso, Nancy Pelosi, referiu-se a Biden pela manhã como "presidente eleito", dizendo que "está clara" sua vitória. Mas a disputa ainda continua acirrada.
Biden, que acumula pelo menos 253 votos eleitorais, está à frente na Pensilvânia (que lhe renderia 20 votos eleitorais), Arizona (11) e Nevada (6).
Na Geórgia, onde nenhum democrata vence desde 1992, a diferença era tão pequena que haverá uma contagem de votos, segundo uma autoridade local.
Trump, que tem um total de 214, lidera a corrida na Carolina do Norte (15) e no Alasca (3), os outros dois estados nos quais a contagem segue em andamento A campanha de Trump afirmou que a eleição "não acabou".
Sua equipe alegou que havia cédulas "irregulares" na Geórgia, onde uma recontagem era esperada, e em Nevada, alegando que os observadores republicanos da contagem de votos tiveram o acesso negado na Pensilvânia.
Além disso, garantiu que Trump caminhava para a vitória no Arizona, criticando, mais uma vez, a rede Fox News e a agência AP por concederem o estado a Biden. Outros grandes meios de comunicação dos EUA ainda não se manifestaram.
A campanha de Biden respondeu sarcasticamente. "O povo americano vai decidir essa eleição", disse. "E o governo dos EUA é perfeitamente capaz de escoltar intrusos para fora da Casa Branca".
OEA não vê irregularidades
A missão eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) para as eleições nos Estados Unidos disse nesta sexta-feira que não "observou diretamente nenhuma irregularidade grave" nas eleições e pediu aos candidatos que evitem "especulações danosas".
É "crítico" que "os candidatos ajam com responsabilidade, apresentando e defendendo demandas legítimas nos tribunais e não especulações infundadas na mídia", disse em seu relatório preliminar.
Os republicanos não se manifestaram em massa para apoiar Trump em suas acusações de "roubo", embora algumas figuras influentes as apoiassem.
"Não ouvimos falar de nenhuma evidência", disse Chris Christie, ex-governador de Nova Jersey e aliado de Trump, à ABC, alertando sobre o risco de alimentar tensões em um país altamente dividido.
"O presidente tem o direito de pedir uma recontagem" de votos, mas "ele está errado ao dizer que a eleição foi fraudada, corrompida e roubada", tuitou o senador republicano Mitt Romney, um crítico frequente do presidente.
"Acho que tudo deveria estar sobre a mesa", disse a senadora Lindsay Graham quando questionada pela conservadora Fox News se a assembleia de maioria republicana da Pensilvânia deveria verificar os resultados.
"O presidente está com raiva, eu estou com raiva e os eleitores deveriam estar com raiva", disse o senador Ted Cruz.
Os advogados de Trump iniciaram várias ações legais para contestar a apuração de votos em vários estados. Os democratas acreditam que essas alegações são infundadas, mas esses recursos podem atrasar a aprovação dos resultados por dias ou semanas.
Com a atitude de Trump, o temor por distúrbios sociais cresceu, em um país cada vez mais polarizado. O dispositivo de segurança do Serviço Secreto em torno de Biden será reforçado, informou o Washington Post.
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