MUNDO
Crise global: o que une Lula, Trump, Israel e Irã?
Entenda a relação do Brasil na nova crise global
Por Flávia Requião

Em meio à crescente tensão global provocada pelo confronto no Oriente Médio, o governo Lula tem mantido uma postura mais neutra em relação às ações de Israel, embora demonstre preocupação com a escalada do conflito.
Leia Também:
Apesar disso, o Brasil já reforçou o apelo por um cessar-fogo duradouro e pelo respeito ao direito internacional, sinalizando um distanciamento diplomático diante da ofensiva israelense contra o Irã.
Dado o contexto, um dos principais desafios é entender os desdobramentos do conflito para diversas nações, incluindo o Brasil.
Cenário atual
Apesar do anúncio de uma trégua após 12 dias de confronto entre Israel e Irã, mediada pelos Estados Unidos em parceria com o Catar na madrugada do dia 24 de junho, o clima de tensão entre os dois países persiste e a tensão global se eleva.
Mesmo com a trégua, Irã e Israel trocaram ataques e acusações. O presidente dos EUA, Donald Trump, criticou a conduta de ambos os lados, mas, após conversar com o premiê israelense Benjamin Netanyahu, afirmou que a trégua está em vigor.

Embora tenha lançado mísseis contra Israel após o horário combinado, relataram fontes do Portal A TARDE no local, o presidente iraniano Masoud Pezeshkian garantiu que o Irã manterá a trégua se Israel fizer o mesmo.
Enquanto isso, Netanyahu declarou vitória, dizendo que Israel eliminou ameaças nucleares e balísticas. O chefe do Exército israelense afirmou ainda que a ofensiva retardou o programa nuclear iraniano por anos.
Do lado iraniano, o Conselho de Segurança Nacional celebrou o que chamou de “vitória” e alertou que está pronto para responder se necessário.

Com o “fim” dos combates, Israel suspendeu restrições internas e retomou o tráfego aéreo normal. O conflito começou com uma ofensiva israelense alegando prevenir o avanço nuclear iraniano.
O Brasil está de que lado ?
O governo brasileiro já anunciou algumas vezes ser contra os ataques de Israel. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil expressou nos últimos dias uma "firme condenação" e ressaltou uma forte preocupação com a ofensiva aérea israelense lançada contra o Irã. “Clara violação à soberania desse país e ao direito internacional". Itamaraty afirmou que os ataques "ameaçam mergulhar toda a região em conflito de ampla dimensão".
O que diz o presidente Lula
Apesar das críticas do Ministério das Relações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem adotado uma postura mais neutra e só se pronunciou uma vez sobre o assunto.
Em discurso no G7 na última semana, ele disse que o conflito ameaça fazer do Oriente Médio "um único campo de batalha, com consequências globais inestimáveis". Ele pediu diálogo para acabar com os conflitos no Irã, na Ucrânia e em Gaza. "Só o diálogo entre as partes pode conduzir a um cessar-fogo e pavimentar o caminho para uma paz duradoura", afirmou.

"Qualquer conflito que me preocupe. Sou um homem que nasceu para a paz. Então, em um momento em que o mundo está precisando de muito recurso para a transição energética, para combater a miséria no mundo, você vê o dinheiro sendo gasto com conflito, obviamente me incomoda profundamente", ressaltou na ocasião.
Conforme apuração do Metrópoles, o presidente Lula se prepara para abordar o conflito durante a cúpula do Brics que ocorrerá nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro.
No discurso, Lula deve voltar a defender uma reforma no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Ao Portal, a assessoria do presidente disse que Lula ainda não tem previsão de falar publicamente sobre o tema.
O Brasil será impactado com a guerra?
Ainda é cedo para definir com precisão os possíveis impactos da guerra no Brasil. No entanto, já há uma sinalização sobre a movimentação do mercado do petróleo, que serve como um bom indicativo ao futuro. Com a agitação do setor, há uma expectativa de constantes subidas no preço do barril, junto elevam-se as chances de um fenômeno inflacionário.
As cotações do petróleo aumentaram já no domingo, chegando a níveis que não eram vistos a cerca de cinco meses. Isso é uma resposta ao aumento das chances de retaliação iraniana contra a infraestrutura energética regional ou embarcações que transitam pelo estreito de Ormuz – pedaço de oceano entre o golfo de Omã ao sudeste e o golfo Pérsico ao sudoeste. Na sua costa norte está o Irã e na costa sul os Emirados Árabes Unidos e um enclave de Omã, local onde passa cerca de 20% do petróleo mundial, além de uma parte significativa do gás natural.
A localidade também é uma rota obrigatória para derivados petroquímicos, incluindo gás natural liquefeito e fertilizantes nitrogenados. No caso do Estreito ser bloqueado, as embarcações precisariam passar por outros trajetos mais extensos, o que poderia modificar prazos e os próprios custos logísticos.
Com isso, pode afetar também diretamente o transporte marítimo de fertilizantes e insumos agrícolas, produtos que o Brasil adquire do exterior.
Mesmo com esse receio especulativo, o Brasil não é um parceiro estratégico do Irã ou de Israel.
De que lado estão os outros países
China
A China declarou apoio ao Irã e condenou o ataque de Israel, defendeu o direito de "salvaguarda" iraniano.
"A China condena explicitamente a violação por parte de Israel da soberania, segurança e integridade territorial do Irã [...] e apoia o Irã na salvaguarda da sua soberania nacional, defendendo os seus direitos e interesses legítimos", disse o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi.
A China é o maior importador de petróleo do Irã, hoje sob sanções dos Estados Unidos. Apesar das medidas restringirem o comércio chinês com os iranianos, 90% da produção de petróleo do país é adquirida pela China, conforme indicou o jornal New York Times.
Rússia
O presidente russo, Vladimir Putin, também condenou as ações israelenses e "expressou a disposição de fornecer serviços de mediação para evitar uma nova escalada de tensões", embora viva uma guerra com a Ucrânia.
A Rússia tem destaque por ser uma importante aliada militar e política do Irã. A imprensa russa indicou que Moscou pode até se beneficiar do conflito entre Israel e Irã. "Por mais cínico que isso possa parecer em um nível tático, há vantagens [para a Rússia] no conflito entre Irã e Israel", disse artigo do jornal russo Moskovsky Komsomolets .
Brics
O Brics também se pronunciou sobre a disputa no Oriente Médio. Com a recém inclusão do Irã, o grupo, composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos, “expressou uma profunda preocupação com os ataques militares” em nota publicada nesta terça.O comunicado afirma que as operações militares no território da República Islâmica do Irã são uma "violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas".
O grupo também menciona ataques às instalações nucleares de "natureza importadora", a versão oficial do Irã, apesar de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (AIEA) monitorarem o programa nuclear iraniano há mais de duas décadas e não terem garantias de sua natureza devido à falta de cooperação e transparência total de Teerã.
“Conclamamos a comunidade internacional a apoiar e facilitar os processos de diálogo, defender o direito internacional e contribuir construtivamente para a solução pacífica de controvérsias em benefício de toda a humanidade”, ressaltou o Brics.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes