GUERRA
Israel segue atacando Gaza, mesmo após decisão de tribunal da ONU
Testemunhas e jornalistas relatam bombardeios das tropas israelenses
Por AFP
Israel bombardeou, neste sábado (25), a cidade de Rafah, que considera crucial em sua guerra contra o Hamas, apesar de a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ter ordenado a suspensão das operações nesta área do extremo sul da Faixa de Gaza.
Testemunhas e jornalistas da AFP reportaram bombardeios das tropas israelenses contra Rafah, Khan Yunis, também no sul do território, e a Cidade de Gaza, no norte.
Os ataques continuam apesar de o principal tribunal da ONU ter ordenado na sexta-feira a Israel que interrompa a operação na cidade fronteiriça com o Egito e qualquer ação que possa provocar a "destruição física total ou parcial" do povo palestino em Gaza.
A CIJ também exigiu a abertura da passagem de fronteira entre Egito e Gaza em Rafah, porta de entrada da ajuda humanitária que Israel fechou no início do mês ao iniciar as operações na cidade.
O tribunal, cujas decisões são vinculantes, embora a corte não tenha recursos para implementá-las, também exigiu que o Hamas liberte imediatamente todos os reféns sequestrados no ataque de 7 de outubro contra Israel.
Mas nenhuma parte parece ter acatado as demandas do tribunal.
O exército israelense anunciou que vários milicianos morreram em "combates corpo a corpo" na sexta-feira em Jabaliya, no norte, e por "disparos de tanques" no centro. Também afirmou ter "eliminado uma célula terrorista" em Rafah.
O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, recordou Israel que as medidas cautelares determinadas pela CIJ são "obrigatórias".
"Retomar as conversações"
Neste sábado, uma fonte do governo israelense afirmou à AFP, sob anonimato, que o país tem a "intenção de retomar as conversações" com o Hamas, mediadas por Estados Unidos, Catar e Egito, "esta semana", com vistas a um acordo de trégua.
Os contatos internacionais foram retomados em Paris, onde se reuniram representantes americanos e israelenses, depois de uma estagnação resultante da operação militar israelense em Rafah.
Veículos de comunicação israelenses reportaram que o chefe do Mossad - o serviço de inteligência -, David Barnea, acordou, durante reuniões na capital francesa com o diretor da CIA, William Burns, e o primeiro-ministro catari, Mohamed bin Abdulrahman al Thani, um novo marco para os diálogos.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, também falou com o ministro do gabinete de guerra israelense, Benny Gantz, sobre os novos esforços para conseguir um cessar-fogo e a reabertura da passagem de Rafah o mais rapidamente possível.
O conflito começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas mataram mais de 1.170 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Os integrantes do Hamas também sequestraram 252 pessoas. Segundo Israel, 121 permanecem cativas em Gaza, das quais 37 teriam morrido.
Em resposta ao ataque de outubro, Israel iniciou uma ofensiva contra a Faixa de Gaza, na qual morreram mais de 35.900 palestinos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.
"Tirá-los do inferno"
Neste sábado, em Tel Aviv, milhares de pessoas foram às ruas pedir uma ação urgente do governo israelense que permita a libertação dos reféns, depois de o exército anunciar, na véspera, ter recuperado em Gaza os corpos de três pessoas sequestradas pelo Hamas, entre elas o brasileiro Michel Nisenbaum.
"Devemos tirá-los desse inferno agora", disse Avivit, irmã de Hanan Yablonka, um dos reféns mortos, cujo corpo foi repatriado.
As tropas israelenses entraram em algumas partes da cidade de Rafah no início de maio, apesar da oposição da comunidade internacional, incluindo seu principal aliado, os Estados Unidos.
Os soldados tomaram o lado palestino da fronteira com o Egito, o que reduziu ainda mais o ritmo de entrada de ajuda humanitária para os 2,4 milhões de habitantes de Gaza.
Israel "só escuta a sua ideologia extremista de morte e destruição com o objetivo (...) de aumentar os destroços", disse Yahya, um palestino de 34 anos, em Rafah.
A situação humanitária no território é alarmante, com risco de fome, hospitais fora de operação e quase 800 mil pessoas que foram obrigadas a fugir de Rafah, segundo a ONU.
Além disso, a operadora palestina de telecomunicações Paltel informou pelo X, neste sábado, que o acesso à internet na Cidade de Gaza e arredores tinha sido interrompido "devido à agressão atual".
O exército israelense informou, por sua vez, que quatro navios que dão suporte ao porto temporário instalado em Gaza para descarregar ajuda humanitária encalharam em meio ao "mar agitado".
Apesar disso, "o cais continua funcionando plenamente", destacou o Comando Central dos Estados Unidos (Centcom).
Por outro lado, os ministros das Finanças do G7, grupo das sete maiores economias industrializadas, pediram a Israel que "garanta" serviços bancários aos bancos palestinos, depois que autoridades israelenses ameaçaram negar-lhes acesso ao seu próprio sistema.
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