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Milei surpreende e é o mais votado nas primárias da Argentina

Candidato de extrema direita se diz antissistema e aproveita crise econômica do país

Publicado segunda-feira, 14 de agosto de 2023 às 11:13 h | Autor: AFP e Redação
Milei se diz 'anarcocapitalista'
Milei se diz 'anarcocapitalista' -

O economista libertário de extrema direita Javier Milei surpreendeu ao obter a maior votação nas primárias argentinas, neste domingo, 13, e disputará a Presidência com a ex-ministra de Segurança Patricia Bullrich (centro direita) e o ministro da Economia, Sergio Massa (peronismo).

Em um país marcado pela crise econômica, com uma inflação que chega a 115% interanual, e a pobreza em ascensão (40%), o discurso de Milei contra o que chama de "casta política" capitalizou o descontentamento e obteve 30,31% dos votos em sua primeira eleição nacional com seu partido, Libertad Avanza, com 92,00% das urnas apuradas.

Estes resultados, que mostram o eleitorado argentino dividido praticamente em três terços, foram recebidos com euforia na sede de campanha dos libertários, onde se ouvia rock nos alto-falantes para celebrar o surpreendente primeiro lugar.

“Conseguimos construir esta alternativa competitiva que dará fim à casta política parasitária, que rouba, inútil", declarou Milei em seu primeiro discurso após o anúncio dos resultados. "Estamos em condições de vencer a casta no primeiro turno", acrescentou.

As eleições para escolher o substituto do presidente Alberto Fernández (peronista de centro esquerda) serão celebradas em 22 de outubro. Um eventual segundo turno está previsto para 19 de novembro.

Com 27,07% dos votos, a aliança governista Unión por la Patria (União pela Pátria, peronismo) disputará a Presidência com Massa, um advogado de 51 anos que tem boas relações com diversos atores do poder, sejam empresários, sindicatos, ou o Fundo Monetário Internacional (FMI). 

Bullrich, de 67 anos, presidente do Partido Republicano (PRO), que mantém um discurso de linha-dura, deve aglutinar o apoio de seu adversário interno derrotado, o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta. Sua coalizão, a Juntos por el Cambio (Juntos pela Mudança) obteve 28,25% dos votos.

As eleições de domingo, com participação de 69% dos mais de 35 milhões de eleitores, dividiram o eleitorado em três partes de peso similar.

Mais à direita

Milei surgiu nesta eleição como um fenômeno inovador, que catalisou a frustração dos eleitores. Anteriormente, ele tinha conquistado um assento nas eleições legislativas de 2021, quando recebeu 17% dos votos na cidade de Buenos Aires. 

Milei "é reflexo do desencanto que levou muitos eleitores a desacreditarem dos partidos políticos", comentou Juan Negri, professor de Ciência Política da Universidade Torcuato di Tella. 

"Após o fracasso do governo de Mauricio Macri (2015-19), muitos se voltaram para uma direita mais radical", disse Negri. 

Milei propõe eliminar o Banco Central e dolarizar a economia, bem como permitir o livre porte de armas e chegou a defender a venda de órgãos humanos. Denúncias de ex-colaboradores de que pedia dinheiro em troca de candidaturas não arranharam sua popularidade em ascensão.

Fernando Cerimedo, coordenador de campanha de Milei, resumiu parte de seu sucesso em uma receita simples. "Foi o único candidato que apresentou um projeto, que contou o que queria fazer. Goste você ou não, foi o único a fazê-lo. O povo se cansou de tudo o que vinha acontecendo, das promessas não cumpridas", disse à AFP.

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