MUNDO
O lugar mais difícil de visitar: a ilha onde a viagem é tão épica quanto o destino
Extensão de terra fica a quase 3 mil km da costa mais próxima e tem apenas 205 habitantes
Por Isabela Cardoso

Enquanto destinos como Veneza e Barcelona tentam lidar com o excesso de turistas, uma pequena ilha no meio do Oceano Atlântico vive o cenário oposto. A quase 3 mil km da costa mais próxima, Tristão da Cunha é o lugar habitado mais remoto do planeta e, de certa forma, um dos mais difíceis de visitar.
O local faz parte de um arquipélago britânico composto por outras ilhas vulcânicas, como Gough, Nightingale e Inacessível. Mas é em Tristão, a única ilha habitada, que vive uma comunidade de 205 pessoas, reunidas no pacato vilarejo de Edimburgo dos Sete Mares, segundo o site oficial.
A população se conhece pelo nome e sobrenome, literalmente, com cerca de 11 famílias. A segurança é tamanha que as casas não têm fechaduras.
“Você pode deixar as crianças irem a qualquer lugar, quero dizer, a qualquer lugar. Não trancamos a porta com ferrolho ou chave, deixamos as janelas e portas abertas. Não há fechadura alguma”, disse um morador local em entrevista para o documentário da BBC, Ilhas do Tesouro da Grã-Bretanha (2016).
A ilha habitada mais remota do mundo é um território vulcânico. Dados da Nasa (a agência espacial norte-americana) revelam que o ponto mais alto de Tristão da Cunha é o pico Queen Mary, que atinge 2060 metros acima do nível do mar.
Como chegar a Tristão da Cunha?
A única forma de acesso é por navio, em uma travessia de sete dias a partir da Cidade do Cabo, na África do Sul. Três embarcações fazem a rota, aproximadamente uma vez por mês, e as datas podem mudar sem aviso.

As passagens custam cerca de US$ 1.000 (ida e volta), e é preciso solicitar autorização por e-mail com antecedência mínima de 40 dias. Cartões não são aceitos por lá, por isso, é preciso levar dinheiro em espécie, preferencialmente libras esterlinas, embora também aceitem dólares, euros e rands sul-africanos.
A quantidade de visitantes é limitada devido à falta de atracadouros disponíveis (apenas 12 em barcos de pesca).
O que fazer na ilha?
Esqueça hotéis estrelados ou restaurantes sofisticados. As acomodações são simples, em casas de moradores ou pousadas familiares com refeições caseiras.
"Não há pacotes turísticos para viajantes independentes, nem hotéis, nem aeroportos, nem agências de viagens, nem casas noturnas, nem restaurantes, nem jet skis, nem condições seguras para nadar no mar", segundo o site oficial.
Mas o que falta em infraestrutura sobra em beleza e autenticidade. A fauna local é o principal atrativo: pinguins rockhopper aparecem entre janeiro e setembro, baleias são vistas de maio a outubro e lobos-marinhos habitam as praias rochosas o ano inteiro. A costa tem locais seguros para banho, protegidos por formações vulcânicas.
Para os aventureiros, a subida ao cume do vulcão Queen Mary’s Peak, oferece uma vista para um lago em formato de coração dentro da cratera. A trilha dura cerca de 30 minutos e o acompanhamento de um guia é obrigatório.
Além disso, a ilha possui um pequeno museu, o The Thatched House, duas igrejas, um bar, um café e até um campo de golfe. Na virada do ano, jovens se fantasiam para assustar os moradores em uma tradição local bastante peculiar.

Um lugar onde o tempo anda devagar
Tristão da Cunha funciona em um ritmo próprio. A cada seis semanas, um navio traz mantimentos, jornais e correspondências. A internet é lenta, o clima é imprevisível e a sensação é de que o tempo desacelera.
Morar na ilha é ainda mais difícil do que visitá-la. A residência é restrita a quem tem ligação familiar com os habitantes. Não é possível comprar propriedades, e os poucos empregos disponíveis são temporários, voltados a profissionais como médicos, professores e conservacionistas.
Apesar da vida simples e dos desafios logísticos, os moradores celebram a tranquilidade e o senso de comunidade. “Somos uma família grande”, costumam dizer.
Um refúgio protegido no Atlântico Sul
Em 2020, o governo local criou uma área marinha totalmente protegida ao redor do arquipélago, com o apoio do Reino Unido. A reserva é uma das maiores do mundo, com 687 mil km², e protege espécies únicas, além de garantir a sustentabilidade da pesca artesanal praticada pelos moradores.
Descoberta em 1506 pelo navegador português Tristão da Cunha, a ilha só começou a ser habitada no século XIX, quando marinheiros britânicos decidiram se estabelecer ali. Desde então, o vilarejo de Edimburgo dos Sete Mares permanece quase imutável.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes