MUNDO
Ofensiva turca contra curdos no norte da Síria pode causar fuga de jihadistas
Após a retirada das tropas americanas e ataques pontuais contra alvos curdos na fronteira, a Turquia iniciou nesta quarta-feira, 9, uma ofensiva militar para controlar o norte da Síria. Caças bombardearam posições curdas e tanques realizaram incursões. Agências de ajuda humanitárias afirmam que a consequência mais provável é uma nova crise de refugiados. Outra preocupação é o destino de milhares de jihadistas do Estado Islâmico que estão em campos de detenção mantidos pelos curdos, fundamentais na derrota do califado islâmico.
É provável que os combatentes consigam escapar e se reagrupar em outro local. A operação militar começou a ser desenhada no domingo, quando Donald Trump anunciou que não faria objeções à invasão turca, o que colocou o presidente em rota de colisão com os democratas e até com seus aliados republicanos no Congresso, que disseram publicamente que a retirada das tropas foi um "erro grave".
Ao menos oito civis morreram, segundo levantamento de ONGs que monitoram o conflito sírio. Centenas de curdos deixaram a região.
A entrada dos turcos na Síria tem como objetivo criar uma "zona de segurança" e afastar os curdos da fronteira - eles são encarados como inimigos pela Turquia e constantemente chamados de "terroristas pelo presidente Recep Tayyip Erdogan. Eles são criticados por sua ligação com grupos curdos, entre eles o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que está envolvido em um violento conflito na Turquia, que desde 1978 deixou mais de 40 mil mortos.
Erdogan diz que pretende usar a área conquistada para assentar milhões de refugiados sírios que hoje vivem na Turquia. As forças turcas fizeram os primeiros ataques ainda na madrugada de quarta, bombardeando as cidades de Tel Abyad e Ras al-Ayn. As Forças Democráticas Sírias (FDS), milícia curda, disseram que cinco civis morreram - o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), que monitora o conflito, afirma que foram oito mortos.
Os curdos responderam com morteiros lançados contra cidades turcas, mas sem deixar vítimas. As milícias curdas foram responsáveis pela expulsão do EI do Iraque e do norte da Síria e eram um importante aliado dos EUA.
Nesta quarta, Trump se limitou a dizer que a operação militar turca era "uma péssima ideia". "A Turquia prometeu proteger civis, minorias religiosas, incluindo cristãos, e garantiu que não haverá uma nova crise humanitária. Eu pretendo cobrar esta promessa", disse o presidente. Em seguida, ele chegou a criticar os curdos. "Eles não nos ajudaram na 2.ª Guerra, não nos ajudaram na Normandia."
A decisão de Trump de abrir caminho para a ofensiva turca causou indignação no Congresso - de governistas e opositores. Nesta quarta, o senador republicano Lindsey Graham anunciou um entendimento com seu colega democrata Chris Van Hollen para aprovar sanções contra a Turquia assim que os congressistas voltarem do recesso, na semana que vem.
As sanções incluem restrições de viagem aos EUA de autoridades turcas, congelamento de ativos - incluindo de Erdogan -, e punições contra o setor de energia e Forças Armadas. "Rezem pelos nossos aliados curdos, que foram vergonhosamente abandonados pelo governo Trump. Essa decisão assegura o ressurgimento do Estado Islâmico", escreveu Graham no Twitter.
"Impossível entender por que Trump deixa nossos aliados serem massacrados e permite o retorno do EI", tuitou a senadora Liz Cheney, aliada do presidente. "Hoje estamos testemunhando as consequências de uma decisão terrível", disse Susan Collins, também senadora republicana. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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