LESTE EUROPEU
Promovida pelo A TARDE, mesa-redonda discute guerra na Ucrânia
Assunto mais quente da semana chegou a atrair mais de 2 mil pessoas simultaneamente na transmissão
Por Lucas Franco
Com as presenças do jornalista e economista Armando Avena e do professor e cientista político Cláudio André, além da mediação do jornalista Osvaldo Lyra, uma mesa-redonda sobre a guerra na Ucrânia trouxe um debate acerca do conflito e suas possíveis consequências para o mundo e em específico, para o Brasil.
O evento foi promovido pelo grupo A Tarde, que fez a transmissão no canal de YouTube e página do Facebook do grupo jornalístico. Em alguns momentos do debate, que durou 46 minutos, mais de 2 mil pessoas acessaram simultaneamente o canal do YouTube para assistir a mesa redonda.
Armando Avena acredita que embora a inflação vá impactar o Brasil, não será da mesma forma que na Europa, que deve sofrer mais. Mas o fato de o conflito ter sido desencadeado em um ano eleitoral no Brasil traz algumas especificidades.
“Vai ser dramático e dos mais polarizados [período eleitoral]. Com essa incerteza, o que vai acontecer é o que os analistas estão dizendo: a inflação vai ficar por mais tempo acima dos dois dígitos, e teremos pouco crescimento econômico. A previsão é de 0,5% se muito. Com isso, mais desemprego, e passaremos 2023 com uma guerra de um lado e uma pandemia ainda a acabar”.
O jornalista e economista enxerga que a guerra na Ucrânia pode tomar dois rumos. Um deles minimizará as consequências, enquanto o outro pode tornar a questão ainda mais grave. “Um [caminho] é [a Rússia] tomar o poder [na Ucrânia] e colocar alguém vinculado à Putin. Se ele parar aí, tudo bem, teremos uma nova ordem internacional, mas não estaríamos à beira da guerra. Mas se ele [Putin] quiser ampliar seu território em direção aos países bálticos, aí pode gerar algo muito mais grave”.
Cláudio André acrescentou que o conflito no leste europeu pode enfraquecer o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), pela inflação a ser esperada do cenário geopolítico internacional em ano em que o chefe do executivo tenta a reeleição.
“A subida de preços leva a um problema político que talvez seja o mais frágil do governo Bolsonaro. Para 63% da população brasileira [segundo pesquisa do Ipespe], a economia está no caminho errado. Em um cenário de pressão inflacionária e de maior dificuldade de o Auxílio Brasil dar conta, de geração pujante de emprego em curto prazo, de fato isso vai levar ao reforço dessa pauta no ambiente das eleições presidenciais deste ano”.
Nota desastrosa
Para o professor e cientista político, a nota emitida pelo Itamaraty nesta quinta-feira, 24, após os ataques da Rússia à Ucrânia, teve um caráter desastroso por não reafirmar a soberania dos povos e a perspectiva de que as invasões precisam ser abolidas. “O Brasil de imediato não quer se posicionar e se alinhar diretamente aos Estados Unidos e penso que eles vão esperar o que vai acontecer nos próximos dias, das condições que serão colocadas na mesa por Vladimir Putin”.
A Rússia começou os ataques à Ucrânia nesta quinta-feira, 24, inclusive na capital, Kiev. Parte da União Soviética até o colapso do país socialista, no início dos anos 1990, a Ucrânia chegou a estar próxima dos interesses do governo russo até a destituição de Víktor Yanukóvytch da presidência, em 2014.
A partir da mudança de cenário político no leste europeu, deu-se início ao atrito que dura até hoje entre os dois países. “A Rússia não quer só os territórios separatistas. A intenção é maior do que apenas a proteção da sua fronteira. Ela quer a Ucrânia inteira”, disse Armando Avena.
“A decisão tomada por Vladimir Putin tem uma relação diretamente voltada para a construção de intervenção, de uma guerra, que consiga frear o intuito do governo ucraniano de se aliar à Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e estas tratativas já vinham sendo construídas, dialogadas também”, contextualiza Cláudio André.
A Otan é uma organização que tem como membros alguns países europeus, Estados Unidos e Canadá. A inclinação da Ucrânia ao bloco desperta, desde 2014, um clima de tensão no leste europeu. Naquele ano, a Rússia anexou a região da Crimeia e atualmente, tem suas atenções voltadas especialmente à região de Donbass.
Confira abaixo a mesa redonda na íntegra:
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