MUNDO
"Relatório cheio de mentiras", diz Venezuela em ataque a ONU
Documento do painel de especialistas eleitorais era inicialmente privativo ao secretário-geral da ONU
Por AFP
A rejeição das autoridades da Venezuela a um relatório de especialistas da ONU que denuncia falta de "transparência" na reeleição do presidente Nicolás Maduro em 28 de julho continuou na quarta-feira: o texto está "cheio de mentiras", reagiu o órgão eleitoral do país.
O relatório do painel de especialistas eleitorais era inicialmente privativo ao secretário-geral da ONU, António Guterres, mas a organização tornou pública na noite de terça-feira uma versão preliminar na qual sustenta que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) "não cumpriu com as medidas básicas de transparência e integridade que são essenciais" para "eleições críveis".
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A autoridade eleitoral, acusada de servir ao chavismo, movimento que lidera o país há 25 anos, afirmou que havia uma "intencionalidade política perversa" com a divulgação do relatório, "cheio de mentiras".
"É um documento panfletário" para "tentar deslegitimar o impecável e transparente processo eleitoral realizado em 28 de julho", acrescentou.
Maduro foi proclamado pelo CNE como vencedor com 52% dos votos, mas a oposição, liderada por María Corina Machado, denuncia fraude e reivindica a vitória de seu candidato, Edmundo González Urrutia.
O anúncio da autoridade eleitoral provocou protestos desde a própria noite das eleições, nos quais foram registradas 25 mortes, 192 feridos e mais de 2.400 detidos, que foram tachados pelo mandatário de esquerda de tentativa de "golpe de Estado".
Os especialistas da ONU se juntam às críticas feitas por outros observadores, como os enviados pelo Centro Carter.
O presidente do Parlamento, o chavista Jorge Rodríguez, propôs proibir a observação de "estrangeiros" em pleitos futuros. "Por que eles têm que vir? A conta de quê?", expressou o legislador, que classificou o painel da ONU de "lixo".
Os relatórios do painel de especialistas da ONU e do Centro Carter "confirmam a falta de transparência nos resultados", publicou González Urrutia na rede social X. "A vontade do povo de mudar em paz (...) é sagrada e deve ser respeitada", acrescentou.
Ciberataque terrorista
O CNE, que ainda não publicou os resultados desagregados por cada seção eleitoral, insistiu em que o seu sistema foi alvo de um "ciberataque terrorista". Seu site segue fora do ar, mais de 15 dias depois das eleições.
O painel de especialistas da ONU alertou que "o anúncio do resultado de uma eleição sem a publicação de seus detalhes ou a divulgação de resultados desagregados aos candidatos não tem precedente em eleições democráticas contemporâneas".
"Apesar dos atrasos no processo de transmissão de resultados", respondeu o CNE em seu comunicado, "foram aplicados os protocolos de contingência" para "ter uma transmissão de 80% das atas, com um resultado irreversível a favor do candidato Nicolás Maduro".
"Não foi possível realizar a divulgação dos resultados por ataques contínuos às plataformas de divulgação", acrescenta o texto.
Maduro garante que as redes sociais são utilizadas para atacar sua reeleição: suspendeu a rede X por 10 dias e promove um boicote ao WhatsApp.
Ele pediu a prisão de Corina Machado e González Urrutia, depois de acusar os dois de promover a violência.
Urnas hackeadas?
A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse na quarta-feira que "está cada vez mais claro para a maioria do povo venezuelano, os Estados Unidos e um número crescente de países que o CNE não proporcionou uma apuração detalhada porque isso demonstraria que Edmundo González ganhou a eleição".
"Maduro deve reconhecer e iniciar um diálogo construtivo, inclusivo e de boa-fé com a oposição", continuou.
Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Colômbia, Gustavo Petro, conversaram por telefone em meio aos esforços por uma "solução política", informou o presidente brasileiro na quarta-feira. Os chanceleres dos dois países, Mauro Vieira e Luis Gilberto Murillo, ser reunirão nesta quinta-feira em Bogotá.
A oposição venezuelana publicou pouco depois das eleições em um site cópias de mais de 80% das atas de urna que, garante, comprovam sua vitória. O chavismo, em contrapartida, afirma que os documentos são falso.
Além disso, Maduro pediu ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), também acusado de alinhamento ao chavismo, para "certificar" o resultado do pleito, o que vários acadêmicos consideram improcedente.
"Ninguém tem acesso ao expediente, opacidade completa", denunciou o ex-candidato opositor Enrique Márquez, que foi reitor do CNE entre 2021 e 2023.
"Que a Sala Eleitoral [do TSJ] ordene a contagem de votos", pediu Márquez, ao solicitar uma investigação criminal contra as autoridades eleitorais. "Queremos 100% das urnas eleitorais [...], ou será que as caixas também foram hackeadas?"
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