MUNDO
Rússia e Coreia do Norte assinam acordo de defesa
Kim ainda expressou apoio à guerra contra a Ucrânia
Por Cat Barton e Claire Lee / AFP
A Coreia do Norte e a Rússia assinaram, nesta quarta-feira, 19, um acordo de defesa mútua, durante uma visita a Pyongyang de Vladimir Putin, que agradeceu ao líder do país comunista asiático, Kim Jong Un, por apoiar a ofensiva militar russa contra a Ucrânia.
No início da visita oficial, o líder norte-coreano recebeu Putin na pista do aeroporto. As ruas de Pyongyang foram decoradas com as bandeiras dos dois países, além de fotos gigantes do presidente russo, que continuou seu giro asiático nesta quinta-feira (20, tarde de quarta em Brasília) no Vietnã, um aliado de Moscou desde a época soviética.
"O tratado de associação global assinado hoje prevê, entre outras coisas, uma assistência mútua em caso de agressão a uma parte", declarou Putin, antes de explicar que a Rússia "não descarta" uma cooperação militar-técnica com a Coreia do Norte.
"Hoje, lutamos juntos contra as práticas hegemônicas e neocolonialistas dos Estados Unidos e de seus satélites", afirmou o presidente russo, citado pela imprensa de Moscou, durante uma festa de gala em sua homenagem.
Segundo o líder norte-coreano, o tratado "garantirá de forma confiável a aliança" entre os dois países e contribuirá "plenamente para a manutenção da paz e da estabilidade na região".
As potências ocidentais, que acusam a Coreia do Norte há vários meses de fornecer munições e mísseis à Rússia para a ofensiva na Ucrânia, temem um reforço da cooperação militar entre Moscou e Pyongyang.
O assessor da Presidência ucraniana Mikhailo Podolyak acusou Pyongyang de ajudar militarmente a Rússia e exigiu medidas mais fortes para isolar os dois países.
"A Coreia do Norte coopera hoje ativamente com a Rússia na esfera militar e fornece-lhe deliberadamente recursos para o assassinato em massa de ucranianos", criticou.
'Pleno apoio' da Coreia do Norte
Durante a visita, Putin reiterou que "Rússia e Coreia têm uma política externa independente e não aceitam a linguagem da chantagem por parte do Ocidente", enquanto Kim celebrou uma "nova era" das relações bilaterais.
"A Coreia do Norte expressa pleno apoio e solidariedade ao governo" em sua ofensiva na Ucrânia, que motivou uma série de sanções contra Moscou, afirmou o dirigente norte-coreano.
Kim Jong Un destacou que o acordo de assistência mútua é de natureza "defensiva", segundo as agências de notícias russas, e chamou Putin de "melhor amigo" da Coreia do Norte.
O presidente russo agradeceu a Kim pelo apoio "constante e inabalável" da Coreia do Norte, o convidou a visitar Moscou e afirmou que as sanções contra Pyongyang devem ser "revistas".
Moscou e Pyongyang são aliados desde o fim da Guerra da Coreia (1950-1953) e reforçaram as relações desde o início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Putin foi recebido com grande pompa na praça Kim Il Sung de Pyongyang, com banda militar e um espetáculo de dança, algo habitual nas cerimônias da Coreia do Norte.
Depois, os chefes de Estado iniciaram a reunião, o segundo encontro de ambos em menos de um ano. Kim visitou a Rússia em setembro. A visita anterior de Putin ao isolado país comunista aconteceu no ano 2000.
Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse à AFP que "a profundidade da cooperação entre" ambos os países "deveria preocupar qualquer um interessado em manter a paz e a estabilidade na península coreana".
"A Rússia precisa do apoio da Coreia do Norte em termos de armamentos devido à prolongada guerra na Ucrânia, enquanto a Coreia do Norte precisa do apoio da Rússia em alimentos, energia e armas de ponta para aliviar a pressão das sanções", disse à AFP Koh Yu-hwan, professor emérito de estudos norte-coreanos na Universidade de Dongguk, em Seul.
EUA expressa 'preocupação'
Pyongyang chamou as acusações de que fornece armas para a Rússia de "absurdas".
A Rússia utilizou em março o direito de veto no Conselho de Segurança da ONU para acabar com o sistema que monitorava as sanções impostas à Coreia do Norte, instauradas sobretudo para vigiar o programa nuclear de Pyongyang.
Putin viajou com o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, e com o ministro da Defesa, Andrei Belousov.
O presidente da Rússia, alvo de um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), reduziu as viagens ao exterior, mas visitou alguns aliados cruciais, como a China.
O apoio de Putin permite a Kim "equilibrar sua dependência" do seu outro aliado importante, a China, explicou à AFP Vladimir Tikhonov, professor da Universidade de Oslo. Em troca, "ele obtém um fornecimento seguro dos projéteis de artilharia de tipo soviético de que precisa".
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