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Camaçari: uma cidade de polos que precisam se unir

Tratados como ilhas, potenciais de Camaçari precisam se integrar para manter o município relevante

Flávio Oliveira

Por Flávio Oliveira

28/09/2025 - 4:01 h
Vista aérea de Camaçari
Vista aérea de Camaçari -

Com um território maior que o de Salvador (785,4 km² contra 693,8 km²), Camaçari completa neste domingo (28) 267 anos de emancipação política ainda buscando integrar seus dois polos, sede e orla.

O movimento é estratégico para manter a relevância econômica do município, hoje detentor do segundo maior PIB municipal (soma de todos os bens e serviços finais produzidos numa cidade) da Bahia e do maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul.

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O destino, que nesse caso quer dizer a tendência da economia global, trabalha a favor desse movimento, pois a preservação ambiental é cada vez mais um ativo importante para o setor industrial.

Camaçari foi fundada em 29 de maio de 1558, fruto da primeira demarcação indígena do Brasil, segundo o historiador Diego Copque. Ele conta que ainda durante os primeiros anos de colonização do Brasil, o império português, com o apoio dos jesuítas, avançou pelo chamado Recôncavo Norte em uma estratégia de defender a costa brasileira de invasores, principalmente franceses e holandeses.

Foram fundadas, então, os seguintes aldeamentos:

  • Divino Espírito Santo, onde hoje está a Vila de Abrantes, em 1558;
  • Santo Antônio de Rembé: fundado em 1560, deu origem à atual povoação de Arembepe;
  • Santo Antônio da Ressaca, também em 1560, local hoje conhecido como Barra do Jacuípe;
  • Bom Jesus de Tatuapara, em 1561 e que é a origem da Praia do Forte e hoje faz parte do município de Mata de São João.

Desse momento até o final do século XIX, ainda segundo o historiador, o protagonismo econômico do município era a orla, principalmente a Aldeia do Divino Espírito Santo, a mais populosa de todas.

Ao longo dos anos, as aldeias foram crescendo e suas divisas desaparecendo. Contudo, suas praias ainda permaneciam um tesouro escondido, principalmente para os moradores da sede.

“O acesso da sede até a costa do município era muito difícil, os moradores da sede não frequentavam as praias da própria cidade. Era mais fácil que essas praias fossem usufruídas por habitantes de Salvador”, afirma Copque.

DESFILE CÍVICO DE VILA DE ABRANTES
DESFILE CÍVICO DE VILA DE ABRANTES | Foto: Seduc Camaçari / Divulgação

O jogo muda a favor da sede com a abertura de duas estações da Ferrovia da Bahia ao São Francisco na sede em 1861, a de Parafuso e a de Água Comprida. Esta última ajudou no povoamento e futura emancipação de Dias d’Ávila.

A linha férrea ligava Salvador a Alagoinhas e foi criada para chegar até a região do Rio São Francisco. Nesse período, a sede se desenvolvia, mas ainda estava apartada de sua orla devido à geografia local, com leitos de rios e matas, e falta de estradas e pontes.

Com o protagonismo econômico da sede, o nome Camaçari ganha força entre os moradores e políticos. Mesmo assim, houve uma tentativa de mudá-lo, não para Abantes em respeito ao passado do local, mas para Município de Montenegro, em homenagem ao desembargador Thomás Garcês Montenegro.

Falecido em 1914, o magistrado realizou ações importantes no comando da cidade, que recebeu seu sobrenome entre 1938 e 1943.

“O nome não pegou e o clamor popular fez os políticos recuarem e o município voltou a se chamar Camaçari”, conta Copque.

O historiador defende que a mesma classe política que tentou mudar o nome da cidade está por trás da estratégia econômica que transformou Camaçari em uma cidade industrial, o que trouxe diversos impactos sociais, econômicos e ambientais.

A descoberta de petróleo em áreas do Recôncavo Norte está na raiz da chegada da Petrobras no Estado e da criação do Centro Industrial de Aratu (CIA) e da instalação da Companhia Baiana de Petróleo (Copeb) onde hoje está a Fafen, entre as décadas de 1950 e 1960.

Ainda segundo Copque, nos anos seguintes, os governos militares adoraram uma política de criação de regiões metropolitanas que aproximou Camaçari de Salvador e cortou a identidade da cidade com o Recôncavo.

Também nessa época, foi decidido que a capital, Salvador, seria um centro de serviços, cultura e turismo, enquanto as indústrias seriam instaladas nas cidades vizinhas, como Camaçari e Simões Filho. Até esse momento, Camaçari era uma cidade com uma economia agrária de subsistência e alguma produção de carvão.

Em meados da década de 1970, Camaçari ganha uma espécie de disputa com outras cidades da Região Metropolitana para abrigar o Polo Petroquímico, hoje, Polo Industrial.

“Certamente por Camaçari ser mais plana e por causa da água de qualidade”, observa Copque. Ele ainda lembra que a construção do Polo chegou a empregar 25 mil pessoas, representando uma explosão demográfica no município. A maioria dessas pessoas, de baixa escolaridade, ficou desempregada com o fim das obras de implantação e o início de funcionamento do Polo Petroquímico.

Pólo petroquímico industrial de Camaçari

Na foto: Vista do pólo industrial de Camaçari

Foto: Olga Leiria / Ag.  A Tarde

Data: 12/04/2022
Pólo petroquímico industrial de Camaçari Na foto: Vista do pólo industrial de Camaçari Foto: Olga Leiria / Ag. A Tarde Data: 12/04/2022 | Foto: Olga Leiria / Ag. A Tarde

Tanto a sede quanto a orla ganharam adensamento populacional. Para a orla, no entanto, e principalmente as áreas mais perto do mar, foram ocupadas por segundas residências (casas de veraneio) de moradores da capital, e não há, entre outros empreendimentos, grandes hotéis e resorts. O modelo de casas de veraneio ganhou ainda mais força na década de 1990 com a abertura da Linha Verde, quando hotéis de bandeiras internacionais se concentraram em Mata de São João.

A sede ficou como local de trabalho e a orla, de lazer. A Linha Verde, pedagiada, dividiu comunidades. A poluição causada pela indústria se tornou uma preocupação. Ainda hoje, moradores do distrito de Areias denunciam que sofrem problemas de saúde causados pela poluição de aquíferos por parte da Tronox (empresa que sucedeu a Tibras e a Millenium).

A presença de uma classe média, mais escolarizada nas praias, por um lado, e o aumento da força de grupos ambientalistas na Europa e nos Estados Unidos, por outro, pressionou as indústrias do Polo a adotarem políticas de sustentabilidade, que incluem abrir mais vagas para a população local, reduzir emissões, a geração de resíduos e a redução e reutilização de recursos naturais. Ter ar, solo, rios e praias limpas e despoluídas se transformou em um aspecto crucial para a atração de investimentos, até mesmo os industriais.

Turismo

Nesse sentido, o turismo também se transforma em um importante vetor para a diversificação econômica do município e de geração de emprego e renda para sua população. A atividade cria vagas para pessoas de baixa escolaridade e exige um ambiente preservado e tem o poder de atrair investimentos, seja para construções de hotéis e condomínios, seja para restaurantes, centros de lazer e comércio. Na atualidade, a localidade de Guarajuba vive um boom de investimentos imobiliários.

A secretária municipal de Desenvolvimento Econômico, Adriana Marcele, reconhece que entre os principais desafios para o Polo Industrial estão a modernização tecnológica, a sustentabilidade ambiental, a capacitação da mão de obra e a atração de novos investimentos frente a uma concorrência global acirrada. Mas ela acredita que a indústria local é resiliente e inovadora, o que garante sua perenidade.

“O polo industrial, que nasceu como petroquímico, hoje abriga setores automotivo, químico, celulose, energia renovável e tecnologia, destacando-se nacional e internacional como um polo misto, refletindo um processo contínuo de diversificação”, diz.

Costa de Camaçari
Costa de Camaçari | Foto: Divulgação

“Para enfrentar os desafios, a prefeitura, na gestão de Luiz Caetano, atua de forma integrada aos governos do Estado e Federal e ao setor privado, fortalecendo o Cofic (Comitê de Fomento Industrial de Camaçari) e as indústrias do Polo para projetos de inovação e qualificação profissional, implantação e ampliação de centros de apoio ao empreendedor e ao trabalhador, que oferece orientação, capacitação e acesso ao crédito”, completa, para, então, concluir:

“Estamos também aprimorando a logística para dar suporte às operações industriais e melhorar a competitividade através da exportação, incentivando projetos de energia limpa e economia verde em alinhamento às metas globais de sustentabilidade, e promovendo um ambiente regulatório estável e favorável aos negócios, inclusive com ações de escuta ativa e diálogo permanente com a sociedade civil. Nosso compromisso é manter o Polo Industrial de Camaçari relevante e protagonista da nova economia, um polo inovador, sustentável e preparado para o futuro”.

Praia de Arembepe, Costa dos Coqueiros
Praia de Arembepe, Costa dos Coqueiros | Foto: Marcelo Poletto/ Divulgação

Secretário municipal do Turismo, Patrício Oliveira garante que, “neste momento”, já existe transporte ligando a sede e a orla. E defende que a cidade tem potencial maior que as belezas de suas praias.

“Essa questão da gente unir sede e orla, a gente precisa entender que a cidade é uma só. A gente tem Parafuso, a gente tem um turismo rural, étnico, o turismo de experiência, agricultura familiar. Camaçari não é só um local de turismo de sol e mar. Nós temos o turismo de esporte e turismo de negócios”, defende.

Oliveira também aponta que apesar da fama de cidade industrial, o turismo se constitui em fator de desenvolvimento econômico e social.

“O turismo que a gente vai trabalhar aqui é um turismo de inclusão, que ele pensa na justiça social, na prudência ecológica e na eficiência econômica. O turismo que pensamos e apregoamos aqui na Secretaria de Turismo, nesse novo momento do prefeito Luiz Caetano, é um turismo que vamos utilizar para promover e gerar riqueza e também uma inclusão social”, afirma.

Reconhecendo que a atividade turística pode empregar uma mão de obra “não tão qualificada”, Oliveira afirma que a prefeitura vai investir em cursos profissionalizantes para que a cidade ofereça aos visitantes um serviço de excelência.

Entre seus planos também estão a construção de um centro de convenções e de um equipamento que batizou de Cidade do Turismo, “um aparelho que agente precisa ter arte, cultura, entretenimento, artesanato e qualificação de mão de obra”.

Imagem ilustrativa da imagem Camaçari: uma cidade de polos que precisam se unir
| Foto: José Carlos Almeida / Divulgação

O historiador Diego Copque, que tem Camaçari como seu principal objeto de estudo, acredita que a política mais importante para desenvolver o turismo na cidade é reconectá-la com seu passado.

Ele acredita que a criação de um sentimento de pertencimento e de amor ao local pelos seus habitantes pode estabelecer conexões e superar a divisão da cidade em polos (Altas escolaridade e renda x baixa escolaridade e renda; sede x litoral; indústria x meio ambiente; Região Metropolitana x Recôncavo).

“Camaçari é uma das primeiras cidades brasileiras. Temos muitas riquezas históricas. Há muitas coisas para se conhecer, valorizar e preservar aqui”, aponta

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