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Operação da Fafen será retomada em Camaçari
Iniciativa visa reduzir importações e pode favorecer o agronegócio baiano

Por Miriam Hermes

A retomada da operação das Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados da Bahia e Sergipe (Fafen-BA e Fafen-SE) faz parte do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) para aumentar a produção brasileira de fertilizadores agrícolas e reduzir a dependência externa, com reflexo positivo na economia regional.
A expectativa é que as duas unidades comecem a produzir ainda este ano através da empresa Engeman, que foi selecionada em edital da Petrobras com contrato de cinco anos em modelo de Operação e Manutenção (O&M). Com as estruturas existentes, juntas elas podem chegar a 3,1 mil toneladas de ureia por dia, dentre outros produtos.
Na Bahia, a fábrica está no Polo Industrial de Camaçari, com capacidade diária de produzir 1,3 mil ton. de ureia perolada/dia, além de amônia e agente redutor líquido automotivo (Arla 32). O contrato ainda inclui a operação dos Terminais Marítimos de Amônia e Ureia no Porto de Aratu, em Candeias, para escoar a produção para outros estados por via marítima.
Quando estiver em plena produção, a estimativa é gerar cerca de 450 empregos diretos no estado entre a fábrica e o terminal portuário. A previsão é que até final de outubro a Unigel, que até então operava a planta, entregue as instalações para a Engeman iniciar o processo de arrumação e adequação, visando o reinício da produção.
Vale destacar que a Proquigel, subsidiária da Unigel, tinha arrendado a unidade em 2020 por 10 anos, mas em 2023 parou a produção. Em maio deste ano, a Petrobras e a empresa assinaram acordo encerrando aquele contrato, possibilitando a abertura do edital para novos interessados, que selecionou a Engeman.
Grande produtor mundial de alimentos, o Brasil é deficitário no setor, pois, dos 45,61 milhões de toneladas destes fertilizantes consumidos em 2024, as importações totalizaram 41,34 milhões de toneladas, conforme dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
Com a meta de chegar em 2050 com produção interna entre 45% e 50% da demanda nacional, o processo para reforçar a produção brasileira foi iniciado em 2024 com a retomada da Fafen PR, que deve entrar em funcionamento este mês com capacidade de produzir por dia 2 mil toneladas de ureia, 1.300 toneladas de amônia e 1.680 toneladas de Arla 32.
Também a Fafen MS teve as obras de construção retomadas, após dez anos paralisadas. Considerada a maior do Brasil, a fábrica do Mato Grosso do Sul terá capacidade anual de produção de mais de 1,2 milhão de toneladas de ureia e amônia.
Atualmente os produtores rurais baianos e de outros estados importam a maioria destes insumos de países como Rússia, China, Canadá e Marrocos, dentre outras nacionalidades, com preços majorados devido aos conflitos mundiais.
IMPACTO POSITIVO
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Martins, o recomeço das atividades da fábrica é uma conquista relevante para toda a cadeia do agronegócio.
“Ter uma unidade como a FAFEN em operação significa mais segurança no fornecimento, redução de riscos logísticos e maior previsibilidade no planejamento da produção”, afirmou. Ele pontuou que o estado tem uma agricultura das mais diversificadas e “todos esses segmentos dependem fortemente de fertilizantes para garantir produtividade e competitividade”, ressaltou.
Sobre a expectativa de os fertilizantes terem preços reduzidos pelo aumento da produção nacional, Miranda disse que a proximidade com a indústria “traz vantagens logísticas, que podem refletir em maior eficiência na distribuição e, consequentemente, em preços mais competitivos para o produtor rural”.
No entanto, ele lembrou que o mercado de fertilizantes é global e sofre influência direta de fatores externos, como câmbio, custos de matérias-primas e cenário internacional. “O que esperamos é que, com a FAFEN de volta, o produtor baiano e nordestino tenha mais acesso, estabilidade e condições de negociação, reduzindo nossa vulnerabilidade às importações”, asseverou.
Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Camaçari (Acec), Manuelina Oliveira Ferreira disse que a reativação da unidade baiana “tem o potencial de estimular novos investimentos no município, já que empresas fornecedoras e de apoio passam a ver em Camaçari um ambiente positivo, estratégico e favorável para crescer”, resumiu.
“A retomada representa um marco importante para a economia de toda a região metropolitana”, disse, acrescentando que o reflexo deste movimento tem efeito direto no dia a dia da cidade. Ela destacou que novas vagas de trabalho na indústria têm efeito multiplicador e que, além do comércio, outros segmentos são impactados, como os serviços de transporte, lazer e saúde, dentre outros.
“Não é apenas quem trabalha diretamente na fábrica que ganha, mas toda a comunidade ao redor”, ressaltou, enfatizando que a reativação da indústria afeta empreendedores locais em geral, “consolidando um ciclo de desenvolvimento sustentável para a população”.
A FORÇA DO TRABALHO
“O anúncio da retomada da produção de fertilizantes na Bahia e em Sergipe deveria ser um marco de esperança para a classe trabalhadora e para o Brasil, que precisa recuperar sua soberania na produção de insumos estratégicos”, destacou em Boletim o Sindicato dos trabalhadores do ramo Químico, Petroquímico, Plásticos, Fertilizantes e Terminais Químicos da Bahia (Sindiquímica).
De acordo com o diretor do sindicato, José Pinheiro, embora os sindicatos já tenham conquistado a formação de cinco turmas de trabalho para tocar a fábrica, os salários oferecidos pela empresa contratada estão aquém dos pisos da categoria. “A FAFEN é uma unidade de alta complexidade e periculosidade, que exige trabalhadores qualificados, experientes e reconhecidos”, enfatizou.
Coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar afirmou que a FUP e o Sindipetro (filiado à federação) também estão nesta briga pela retomada da FAFEN e pelos trabalhadores, explicando que o efetivo da Petrobrás está defasado como resultado de oito anos sem concurso e que no momento não tem pessoal próprio suficiente.
Ele salientou que neste cenário, para garantir a operação e manutenção das unidades, estão sendo convocados os efetivos da Petrobras que atuavam nas fábricas antes de serem fechadas. No momento, ressaltou, o processo é de negociação acerca do restante dos trabalhadores necessários para tocar as fábricas.
Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (CDESS) do governo Lula, Bacelar ressaltou que a produção destes fertilizantes no Brasil dará mais independência ao país. “O setor havia sido totalmente desmantelado e a reconstrução exigirá um esforço coletivo sem precedentes, baseado na união e na determinação de todos os envolvidos”, asseverou.
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