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Turistas revivem imaginário de Jorge Amado em Ilhéus
Espaços que inspiraram a obra do escritor estão entre os principais atrativos do município baiano

Por Claudia Lessa

Um dos escritores brasileiros mais lidos e traduzidos no mundo, autor de uma obra literária que alcançou reconhecimento internacional, já tendo sido traduzida para cerca de 80 países, em 49 idiomas, Jorge Amado (1912-2001) continua atraindo turistas estrangeiros e nacionais de todas as partes a Ilhéus.
Os visitantes ficam contagiados pelo imaginário de reviver os cenários de lugares como Cabaret Bataclan e o Bar Vesúvio, reproduzidos nos romances do autor de mais de 40 livros publicados. Com a permanente repercussão das narrativas amadianas ambientadas no município do sul da Bahia, vizinho à Itabuna (sua cidade natal), a cidade se consolidou como um dos destinos turísticos baianos mais concorridos.
Alguns dos lugares pitorescos dos livros de Jorge Amado, o histórico Bar e Restaurante Vesúvio, que serviu de ambiente no romance “Grabriela, Cravo e Canela” (1958) com o nome Bar de Nacib, é ponto de parada obrigatório para turistas. No local, que mantém até hoje a aura do século passado, os visitantes saboreiam os famosos quibes e tiram fotos ao lado da estátua do escritor, fixada na frente do estabelecimento.
O Cabaret Bataclan, famoso bordel comandado pela personagem Maria Machadão e frequentado pelos coronéis da época, local de referência para as discussões políticas e a vida boêmia, é outro ambiente icônico que se consolidou como ponto turístico. Atualmente, no espaço renomeado de Centro Cultural Bataclan funciona restaurante e um pequeno museu do cacau.
Outro atrativo turístico em Ilhéus relacionado à obra do escritor com parada indispensável é a Casa de Cultura Jorge Amado. O lugar onde ele passou parte de sua infância foi transformada em museu, com o objetivo de preservar a sua memória através de objetos pessoais, fotos e exposições que contam um pouco da sua história de vida e do autor de romances como “O país do Carnaval” (1935), sua estreia na literatura, “Dona Flor e seus dois maridos” e Tieta do Agreste, entre outros tantos. Há, ainda a Catedral de São Sebastião e a Igreja Matriz de São Jorge, equipamentos com arquiteturas imponentes, localizadas no centro histórico, também mencionadas nos livros de Jorge Amado.
O antigo porto e as ruas do comércio com seus casarões antigos também transportam os turistas para a Ilhéus dos anos 1920, época retratada pelo escritor em suas obras. O porto, no caso, era um equipamento importante para a economia cacaueira e foi cenário de idas e vindas de personagens.
Estes e outros ambientes que inspiraram Jorge Amado viraram locais de “peregrinação literária”, como dizem os guias turísticos. Eles ressaltam que a interação entre ficção e realidade é a marca do seu ofício quando o tema está relacionado às obras de Jorge Amado e terras ilheenses.

Clima dos livros
Os guias turísticos contam que muitos turistas chegam a Ilhéus certos de que vão encontrar o mesmo clima descrito nos livros. Como eles próprios definem, “é o real se misturando com o imaginário literário”. Assim, eles buscam incrementar a narrativa e proporcionar “experiências inesquecíveis”, através da gastronomia, especialmente a culinária baiana e o fruto do cacau, que rende produtos como chocolate, geleias, licores, sucos e manteiga.
Ao transcenderem o mundo real, as histórias relacionadas a Ilhéus e Jorge Amado ganham voz no imaginário coletivo. Algumas soam até improváveis, como a de um turista que quase foi preso por ter sido flagrado quebrando um pedaço da parede do Vesúvio para levá-lo na mala como souvenir da viagem. Este e outros casos acabam virando lendas pela falta de comprovação sobre a sua veracidade.
Arthur Gregório, guia turístico há 35 anos, atesta que são muitas histórias envolvendo os turistas que desembarcam em Ilhéus com o propósito de conhecer de perto a atmosfera que inspirou Jorge Amado.
Algumas delas, revela, são “engraçadas”, como foi a protagonizada por um grupo de promotoras de justiça de Brasília e Goiânia. Ele recorda que estavam saindo da catedral com as turistas, rumo ao Bataclan, e começou a contar a história envolvendo o árabe Nacib, proprietário do Vesúvio, e Maria Machadão, dona do Bataclan, ambos personagens do livro Gabriela, Cravo e Canela, cuja trama central é ambientada na Ilhéus dos anos 1920 e focada no romance entre Nacib e a retirante Gabriela e na modernização da cidade em meio à sociedade patriarcal que convivia com coronéis, religiosos, comerciantes e profissionais do sexo.
“As senhoras promotoras me pediram para que eu as levasse em uma loja de ‘roupas de quenga’. Compraram os tais figurinos e quiseram finalizar a noite no Centro Cultural Bataclan. No local, havia uma mostra de indumentárias em alusão às roupas das prostitutas da época. As turistas pegaram as peças em exposição e deixaram no lugar as que tinham comprado por uma mixaria. Quando a administradora do espaço descobriu veio me perguntar de onde eram aquelas mulheres. Ela ficou indignada com a troca das peças que tinha mandado confeccionar para ambientar o local”. O resultado dessa história? “Ninguém conseguiu mais contato delas. Tentei ligar, mas o telefone delas não atendia mais. Ficou por isso mesmo, vida que segue! E até hoje a gente sabe que tem turista que troca as poucas indumentárias que ainda restam só para levar de souvenir”, conta Arthur.

O também guia turístico Aloísio Freitas, há 15 anos no ofício, conta que um episódio que chamou a sua atenção foi a de uma turista do Rio Grande do Sul. Ele relata que a gaúcha tirou a roupa, ficando só de biquini, tão logo chegou no Centro Cultural Bataclan e ficou sabendo que era oferecido aos visitantes o “certificado de quenga” ou o “certificado de coronel”, diplomas simbólicos e divertidos como parte da experiência turística e cultural de rememorar a história do Bataclan original.
“Ela subiu de imediato ao palco e fez fotos com o intuito de garantir o certificado, que foi uma ideia minha sugerida à casa, como forma de unir literatura, história e humor”, diz.
Para Aloísio, histórias curiosas como esta e outras tantas são frequentes porque os turistas ficam em êxtase ao conhecer a cidade que inspirou a obra de Jorge Amado. “É a realização de um sonho. É caminhar no cenário do romance desse escritor que foi um grande romancista e, como tal, leva os seus leitores ao mundo imaginário de suas histórias. Os visitantes ficam deslumbrados quando se deparam com lugares relacionados à obra dele”.
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