MÚSICA
Álbuns clássicos dos anos 80 e 90 de Margareth Menezes chegam ao streaming
Para Margareth, realizar o relançamento dessas obras no mês de seu aniversário, traz um gosto ainda mais especial
Por Gláucia Campos*
No carnaval de Salvador, ouvir o refrão “Ele! Ele! Elegibôô-ôô” nas ruas, nos blocos e na boca dos foliões se tornou uma tradição, tal qual o encontro dos trios. O trecho pertence a música Uma História de Ifá (Elegibô), consagrada na voz da cantora, e atual Ministra da Cultura, Margareth Menezes. A faixa faz parte do álbum Elegibo, de 1992, um dos trabalhos mais marcantes na carreira da artista, que foi relançado neste mês de outubro nas plataformas de streaming.
Juntamente com o Elegibô, Margareth também fez o relançamento do primeiro disco de sua carreira, Margareth Menezes, lançado originalmente em 1988 e lançou um clipe inédito de Uma História de Ifá gravado no início dos anos 90, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM).
Os dois trabalhos chegaram nas plataformas nos dias 13 e 20 últimos, em homenagem ao aniversário da cantora. Entre as faixas, estão as primeiras gravações de hits icônicos como a citada Uma História de Ifá (Elegibô), canção que a fez estourar internacionalmente em 1990, e Alegria da Cidade.
Para Margareth, realizar o relançamento dessas obras no mês de seu aniversário, traz um gosto ainda mais especial para o momento. Além disso, a cantora comentou que é uma forma de possibilitar que os discos cheguem a um público ainda maior, e o som que estava sendo feito na época possa ser conhecido e apreciado.
“Fiquei emocionada, é uma celebração sim, e veio junto com o momento do meu aniversário. É sempre muito bom poder me reconectar com o meu público, sobretudo lançando – ou relançando nesse caso – novos trabalhos. Naquele momento, não teve essa oportunidade de todo mundo conhecer meus primeiros discos, e agora depois de tanto tempo, é muito bacana ter essa maneira das pessoas acompanharem como era a nossa sonoridade, a maneira de pensar o arranjo, o andamento das músicas”, disse.
Ao relembrar da gravação do videoclipe no MAM, a cantora disse que foi uma peça fundamental para que seu terceiro álbum, Elegibô , se tornasse conhecido internacionalmente. “É um clipe, gravado para a televisão na época, mas que nunca foi ao ar. Estávamos trabalhando a música Uma História de Ifá e, foi muito interessante, porque o clipe foi gravado com uma câmera só, bem pitoresco de certa forma, trazendo uma representação mais literal da música, com as simbologias da cultura afro brasileira e do candomblé. Foi o começo de tudo. E foi, inclusive, esse clipe que chegou, junto com a música, para David Byrne, e motivou o convite para que eu abrisse a turnê mundial do LP Rei Momo, que ele faria naquele ano”, contou.
Uma História de Margareth
Margareth foi a primeira artista baiana a cantar um samba reggae fora do Brasil, após ter sido convidada por David Byrne, líder da banda Talking Heads e um dos principais nomes da new wave (leva de bandas pós-punks com um som mais pop, como B52’s, Devo e Blondie, entre outras).
Enquanto em Salvador Elegibô era cantada por todos, nacional e internacionalmente, o feito se repetia. A canção ficou onze semanas em primeiro lugar na parada de ‘World Music’ americana e Margareth foi listada pela Revista Billboard como uma das artistas estrangeiras mais conhecidas nos EUA. “Uma História de Ifá virou comercial da Schweppes em toda Europa e isso me abriu portas incríveis. Foi uma mudança muito grande na minha vida e na minha visão como artista”, conta a ministra.
Nos relançamentos também estão presentes faixas conhecidas, como as músicas Alegria da Cidade, Janela das Viagens, de Geraldo Azevedo e Capinan, Maravilha Morena, de Roberto Mendes e Devastação, de Luiz Caldas.
A cantora comentou ter um carinho especial pela canção Alegria da cidade que tem uma letra de protesto contra o racismo. “É de fato um hino, uma música emblemática pela sua força, pela mensagem que traz, desde aquele momento, em que a gravei pela primeira vez, e até hoje, em que continuamos na luta por uma sociedade em que as pessoas negras sejam respeitadas. Essa música é um pedido de atenção, um pedido de clemência, um questionamento sobre porque tanto ódio por causa da cor da pele”, disse.
Para ela, a letra consegue se manter atual e dialogar com a juventude justamente por abordar essas temáticas.
“Não temos como não pensar nos jovens pretos da periferia, nas pessoas que não têm seus direitos cidadãos respeitados, nos cidadãos que são sistematicamente violentados. Essa música chama atenção pra isso, ‘eu sou parte de você, mesmo que você me negue’ e se tornou um grito de socorro, de alegria também, dizendo que a alegria nos salva nesse momento, porque é uma força pra gente se levantar e continuar nossa caminhada na esperança de que um dia a gente consiga ser ouvido, ter os nossos direitos respeitados”, acrescentou.
Para Margareth Menezes, a música tem um papel transformador na cultura ao longo das décadas, especialmente no cenário baiano.
Segundo ela, a música brasileira está em constante evolução e tem a capacidade de incorporar novas linguagens e perspectivas sem perder sua essência. “A cultura baiana tem uma alma, ela tem um diferencial de referência e representatividade que tem a ver com essa construção cultural que brotou do cruzamento de várias claves africanas, indígenas e europeias”, conclui a artista.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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