DIA DO ROCK!
Dia do Rock: Black Sabbath, o berço do metal e seu adeus eterno
Em sua última apresentação, Ozzy Osbourne e o Black Sabbath encerram uma história que moldou o metal e deu origem a seus subgêneros mais extremos
Por Luan Julião

No último sábado, 5 de julho, o estádio Villa Park, em Birmingham, foi palco de um momento histórico. A cidade onde nasceu o heavy metal viu o retorno — e a despedida — de seus criadores.
Diante de 40 mil pessoas e quase 6 milhões de espectadores online, Ozzy Osbourne, aos 76 anos, se despediu dos palcos em um espetáculo épico, marcando também a última reunião da formação original do Black Sabbath em duas décadas.
Batizado de “Back to the Beginning”, o festival não só homenageou a trajetória da banda como também reuniu lendas do rock mundial para interpretar seus clássicos: Metallica, Slayer, Guns N' Roses, Pantera, Alice in Chains, Steven Tyler (Aerosmith) e Ronnie Wood (The Rolling Stones) prestaram tributo ao Sabbath antes da entrada triunfal do "Príncipe das Trevas", que subiu ao palco em um trono negro, visivelmente fragilizado pelo Parkinson, mas ainda com a aura sombria que marcou sua carreira.

Ozzy fez dois sets: o primeiro, solo, com sucessos como “Crazy Train” e “Mama, I’m Coming Home”; o segundo, com Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria), encerrando o espetáculo com hinos como “War Pigs”, “Iron Man” e “Paranoid”. Foi o último rugido de uma lenda.
Como o Black Sabbath criou o heavy metal e tudo o que veio depois
Lá em 1969, quatro jovens operários de Birmingham — Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward — mudaram o curso da música. Batizando-se de Black Sabbath (antes eram "Earth"), lançaram em 1970 um álbum sombrio e enigmático numa sexta-feira 13: Black Sabbath.
A faixa de abertura, com sinos, trovões e um riff baseado no “trítono” — conhecido desde a Idade Média como “o intervalo do Diabo” — definiu um novo território sonoro.

O som denso, o clima ritualístico e as letras recheadas de ocultismo, crítica religiosa e apelos ao sobrenatural romperam com a estética psicodélica e colorida do fim dos anos 1960.
Tony Iommi, que perdeu parte dos dedos em um acidente industrial, adotou afinações mais graves para conseguir tocar. Isso moldou o peso inédito que se tornaria a espinha dorsal do heavy metal.
Subgêneros nascidos das sombras
A influência do Black Sabbath não se restringiu ao heavy metal tradicional. A banda pavimentou o caminho para quase todos os subgêneros da música extrema.
Abaixo, listamos os principais — todos com raízes profundas fincadas nos riffs soturnos e atmosferas criadas pela banda inglesa:
Black Metal
Inspirado diretamente pelo primeiro disco do Sabbath, o black metal é sombrio, anticristão, ocultista e ritualístico. A sonoridade arrastada e ameaçadora do álbum Black Sabbath foi o molde. Bandas como Bathory, Celtic Frost, Sarcofago (Brasil), Venom e Mayhem ajudaram a construir esse estilo controverso e extremo.

Doom Metal
O peso lento e a densidade emocional de músicas como “Black Sabbath” e “Into the Void” deram origem ao doom metal. Bandas como Candlemass, Saint Vitus, Pentagram e Witchfinder General beberam diretamente dessa fonte, criando faixas marcadas por riffs lentos, guitarras sujas e atmosferas sufocantes.

Thrash Metal
A velocidade e agressividade de faixas como “Symptom of the Universe” e “Children of the Grave” abriram as portas para o thrash metal. O estilo, com riffs acelerados e letras combativas, ganhou o mundo com Metallica, Slayer, Megadeth, Exodus, Sepultura, Anthrax, Sadus, Kreator, Destruction e Sodom.

Death Metal
O álbum Sabbath Bloody Sabbath trouxe temas de decadência, morte e caos que mais tarde se tornariam pilares do death metal. Com vocais guturais e riffs brutais, bandas como Death, Possessed, Cannibal Corpse, Morbid Angel e Obituary definiram o estilo.

Groove Metal
Também herdeiro de Sabbath Bloody Sabbath, o groove metal desacelerou o thrash e investiu em peso rítmico e repetição hipnótica. Bandas como Pantera, Sepultura, Machine Head, Lamb of God e Gojira seguiram essa linha.

Gothic Metal
A melancolia de “Solitude” e o clima soturno dos primeiros álbuns influenciaram o gothic metal. Com vocais femininos, letras introspectivas e estética sombria, o gênero foi desenvolvido por bandas como Type O Negative, Tristania, Theatre of Tragedy, Lacuna Coil e Moonspell.

Stoner Metal
Com “Sweet Leaf”, o Sabbath praticamente inventou o stoner metal: groove sujo, riffs psicodélicos e afinações baixas. Bandas como Kyuss, Sleep, Orange Goblin e até a própria Black Sabbath em fases posteriores, moldaram o gênero.

Progressive Metal
Faixas como “The Writ”, com estruturas não lineares, variações de andamento e uma teatralidade ousada, anteciparam o metal progressivo. Bandas como Dream Theater, Queensrÿche, Tool, Opeth e Fates Warning seguiram esse caminho.

Grunge
A crueza de “Hole in the Sky” (1975) prenunciou o grunge, com sua sonoridade suja e letras carregadas de dor emocional. Bandas como Nirvana, Soundgarden, Pearl Jam e Alice in Chains carregaram essa tocha nos anos 1990.

Muito além do metal tradicional
Mesmo subgêneros mais distantes do universo sombrio do Sabbath — como o power metal, o glam, o sludge e o industrial — absorveram elementos estruturais, líricos ou rítmicos plantados pela banda britânica. O peso, a atmosfera e a ousadia sonora deixaram sementes em praticamente todas as vertentes do rock pesado.
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