REPRESENTATIVIDADE NA CAIXA
'Sons do Subúrbio' revela 7 novos artistas e banda cheios de personalidade
Projeto idealizado por Edmília Barros revelou nomes do Subúrbio Ferroviário da cidade
Por Grazy Kaimbé*

Do pagode ao soul, passando pelo rap, MPB e ritmos afro-baianos, esses são alguns dos estilos musicais que marcam a diversidade dos oito artistas selecionados pelo projeto Sons do Subúrbio. A iniciativa vem lançando, desde o início do mês, EPs e videoclipes de cantores do Subúrbio Ferroviário de Salvador.
Os trabalhos estão sendo disponibilizados nas plataformas digitais e no canal oficial do projeto no YouTube, com novos lançamentos previstos até o dia 28 de maio. Segundo os organizadores, a iniciativa ofereceu suporte completo para a gravação dos produtos audiovisuais, sob direção musical de Irmão Carlos.
Idealizado pela produtora cultural Edmilia Barros, a semente do projeto Sons do Subúrbio foi plantada em fevereiro de 2019, durante um sarau artístico no Centro de Referência do Parque São Bartolomeu. Ali, Edmilia teve seu primeiro contato direto com a diversidade de talentos locais, vozes potentes, muitas vezes invisibilizadas pelas lógicas centralizadoras do mercado musical.
“Saí daquele encontro com a cabeça fervilhando. Sentia que era urgente criar um espaço que não só instrumentalizasse os artistas tecnicamente, mas também cuidasse da autoestima e da narrativa de quem vive e cria no Subúrbio de Salvador”, conta.
O projeto saiu do papel com propósito e planejamento, e os preparativos começaram a ser estruturados ainda no ano passado. Para participar, era necessário residir em um dos bairros do Subúrbio Ferroviário aqui da capital baiana e apresentar originalidade, qualidade artística, representatividade e potencial de crescimento. A seleção priorizou pessoas negras, indígenas, quilombolas e LGBTQIAPN+, reunindo 20 nomes nas primeiras etapas.
Dos oito artistas escolhidos para os lançamentos, sete nunca haviam produzido um EP, e um deles retornou à cena após mais de dois anos. A proposta era clara: ser um ponto de partida ou um recomeço.
Os selecionados – Dan e os Caras da Esquina, Alexandra Pessoa, Axel Lór, Luan Carvalho, Silas Niehaus, Brenda Cruz, Nanashara Vaz e a banda Guias Cegos – participaram de um ciclo de mentorias com profissionais das áreas de música, comunicação e gestão, em encontros voltados ao fortalecimento artístico.

Entre os temas abordados, estavam: “Arranjos e sonoridades”, com o guitarrista Jordi Amorim; “Como cuidar da sua voz e melhorar seu canto”, com a cantora Aiace; “Irradiando sua música: princípios da comunicação que todo artista deve conhecer”, com a jornalista e assessora Gisele Santana; “Formalizando o seu corre!”, com o contador Remy De Launay; e “Mentoria Musical – Programa de Desenvolvimento Artístico (PDA)”, com o produtor Ziati Comazi.
“Quero que o Sons do Subúrbio siga se fortalecendo como uma plataforma contínua de formação, visibilidade e profissionalização de artistas do território. A ideia é crescer com consistência e afeto, mantendo o foco nas potências do Subúrbio”, afirma a idealizadora do projeto.
Diversidade cultural
Cada artista selecionado pelo projeto traz consigo uma identidade musical única, mesclando experiências pessoais e vivências no Subúrbio Ferroviário de Salvador.
Com influências afro-baianas, música clássica, MPB, jazz e pagode, a iniciativa mostra a riqueza cultural da região.
No último dia 9, o projeto deu início ao lançamento dos audiovisuais com a banda Dan e os Caras da Esquina. Misturando blues, samba rock, ska e folk, o grupo aposta em arranjos cheios de groove e letras que dialogam com o cotidiano, imprimindo autenticidade e energia ao novo EP.
No dia 16, foi a vez da artista Alexandra Pessoa, que, com raízes profundas na percussão afro-baiana e nordestina, traduz mais de duas décadas de trajetória em composições que entrelaçam emoção, crítica social e ancestralidade.
Amanhã, será a vez do rapper, escritor e ator Axel Lór, cujas músicas transformam sua vivência no Subúrbio Ferroviário em arte que denuncia, acolhe e inspira. Seus temas abordam desigualdade, superação e identidade negra, com beats que misturam força e lirismo.
“Eu gosto de um som fora do comum. Nunca sigo o hype. Minha prioridade é sempre a poesia, a ideia. Só depois disso é que penso nas minhas referências musicais, que vão do rock à música clássica, sempre buscando os extremos. Isso acaba conferindo uma vibe experimental ao meu som, e é exatamente isso que me atrai", destacou o artista.
Refletindo profundamente sobre sua arte e humanidade, Axel compartilhou suas perspectivas sobre vulnerabilidade: "Falo das minhas vulnerabilidades porque acredito que isso é muito poderoso na arte. Hoje, as pessoas têm dificuldade em lidar com suas próprias fragilidades, o que é uma pena, pois a vulnerabilidade é um dos sentimentos mais genuínos da nossa espécie", disse.
Após o lançamento de Axel Lór, outros cinco artistas terão seus discos lançados. No dia 30 deste mês, será a vez do cantor Luan Carvalho, que trará um pagode contemporâneo com pegada pop, influências de trap e uma levada mais arrastada. Já no dia 7 de maio, Silas Niehaus combinará samba, MPB, pop e trap em um trabalho sensível e pessoal, trazendo a voz de um jovem artista negro, drag queen, poeta e multi-instrumentista, com uma visão profunda sobre o mundo e as emoções.
Caminhando para os lançamentos finais, a cantora Brenda Cruz, do bairro de Coutos, apresentará seu disco no dia 14 de maio. Com passagens pelo canto lírico e experiências como backing vocal no pagode, sua musicalidade atravessa diferentes ritmos e temas ligados ao universo feminino, destacando-se pela força emotiva de suas letras.
A cantora Nanashara Vaz, uma das artistas contempladas, compartilhou a felicidade de lançar um disco. “Foi uma experiência inspiradora e surpreendente, cheia de aprendizados. Conheci talentos incríveis do meu querido Subúrbio, muitos dos quais eu ainda não conhecia. Fiquei muito feliz em fazer parte! Além de participar de um processo lindo e grandioso, fui presenteada com novos amigos, novas ideias e uma perspectiva renovada sobre a minha missão de cantar”, destacou.
O último lançamento do projeto será com a banda Guias Cegos, que mistura pagode, ijexá, trap e axé em uma proposta sonora ousada e original, com letras que abordam identidade, território e disputa simbólica.
Segundo Edmilia, mais de 70% dos clipes foram filmados no próprio Subúrbio Ferroviário, com as demais gravações ocorrendo na Gamboa e na Cidade da Música. O projeto também dedicou atenção à construção da identidade visual de cada artista, por meio de ensaios fotográficos e da criação de materiais como releases e encartes digitais.
Ao refletir sobre a importância da iniciativa, Barros compartilha sua visão sobre o impacto cultural e social do projeto no cenário. "Vejo o 'Sons do Subúrbio' como uma plataforma fundamental para novos lançamentos, um projeto que não só valoriza a representatividade, mas também fortalece as narrativas artísticas do Subúrbio Ferroviário de Salvador", destaca.
Já Nanashara Vaz afirma: "Com este projeto, consegui revelar um lado de mim que sempre desejei. Foi um espaço onde pude contar minhas histórias, criar melodias e explorar os 'floreios' que tanto gosto de fazer. Já lancei alguns singles antes, mas acredito que este projeto seja, de fato, um reflexo completo de quem eu sou hoje", finaliza.
O projeto é realizado por Edmilia Barros Produção & Gestão em Cultura, tem patrocínio do Guaraná Antarctica e do Governo do Estado, através do Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda.
Ouça: sonsdosuburbio.com.br
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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