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Anúncio de reestruturação e crise do setor derrubam papéis da Gerdau

Publicado quarta-feira, 15 de julho de 2015 às 10:07 h | Atualizado em 19/11/2021, 06:54 | Autor: Mônica Scaramuzzo e Fernanda Guimarães | Estadão Conteúdo

As ações da siderúrgica Gerdau SA e de sua controladora, a Gerdau Metalúrgica, da família Gerdau Johannpeter, despencaram na terça-feira, 14, na Bolsa. A queda dos papéis da siderúrgica gaúcha, em parte, foi atribuída ao cenário negativo do setor, que também tem golpeado as principais produtoras de aço do País, como Usiminas e CSN. Mas, no caso da Gerdau, outro fator não foi digerido pelo mercado: a companhia anunciou ontem uma reestruturação societária, que resultou na compra de participação acionária de quatro de suas subsidiárias que estavam nas mãos de minoritários, totalizando cerca de R$ 2 bilhões.

Enquanto as ações preferenciais da Gerdau SA fecharam a R$ 6,52, queda de 7,25%, atingindo a mínima desde o dia 1º de agosto de 2005 e a maior baixa do Ibovespa, de acordo com dados da Economática, os papéis da holding Gerdau Metalúrgica caíram 10,52%, a R$ 4,68. Nos últimos 12 meses, as ações da Gerdau SA acumulam queda de 52,4% e sua controladora, que está altamente endividada, desvalorização de 72,2%.

Fontes ouvidas afirmam que não entenderam bem a operação, considerando o valor pago muito caro por ações residuais detidas por acionistas minoritários em empresas controladas pela Gerdau SA, em um momento de crise do setor siderúrgico.

A siderúrgica gaúcha divulgou ontem ao mercado que adquiriu 4,77% de ações da divisão Gerdau Aços Longos, mais 3,5% da Gerdau Açominas, outros 2,39% foram adquiridos da Gerdau Ações Especiais e mais 4,9% na Gerdau América Latina. Com essa operação, passou a deter 99% de participação de suas controladas, com o desembolso de R$ 1,986 bilhão.

A empresa não divulgou de quem adquiriu essas ações, mas fontes ouvidas pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, apontam a siderúrgica indiana ArcellorMittal e o Itaú Unibanco entre os minoritários que teriam vendido ações para a Gerdau SA. Procuradas, Gerdau, Itaú e ArcelorMittal não comentaram. A interlocutores, a Gerdau afirmou que a família não está entre os vendedores das ação.

"Esse valor representa 18% das ações da Gerdau S.A.", disse um acionista minoritário da Gerdau SA, que pediu anonimato. "A Gerdau foi procurada por vários analistas hoje (ontem) e não deu explicações sobre a venda das ações. Falta transparência."

A reportagem falou com outros dois analistas de banco, que também confirmaram não ter obtido detalhes da operação. "Há uma fuga de acionistas nos últimos meses dos papéis da Gerdau, que é considerada uma das mais eficientes do mundo, porque a empresa não é transparente", afirmou outro acionista, ao lembrar que em abril a companhia convocou uma assembleia para reduzir o número de assentos de conselheiros. "Nenhum minoritário tem voz na companhia", disse. A gestora Tarpon e a Guepardo Investimentos estão entre os minoritários. Procurados, não comentam o assunto.

"O anúncio foi repentino e estamos em um ano de baixa, com necessidade de preservação de caixa", disse Victor Penna, analista do BB Investimentos, acrescentando que o mercado foi surpreendido pela decisão. O BTG, em relatório, informou que a Gerdau está pagando caro em uma operação de simplificação corporativa. A instituição destacou, no documento, que preferia ver outro uso para esse capital. Ainda por conta de uma fraca atividade para o setor, o BTG reduziu o preço-alvo das ações de R$ 12,50 para R$ 9, redução de 28%.

Os analistas do BTG, Leonardo Correa e Caio Ribeiro, afirmam, em relatório, que a simplificação da estrutura da empresa pode resultar em redução de custos e ganho de sinergia, apesar de ainda não ser possível quantificar. Para Bruno Piagentini, analista da Coinvalores, a Gerdau foi blindada da queda forte das ações nos últimos meses por ter unidades nos EUA e produzir aços longos, mas agora tem seus papéis atingidos.

Controladora

Uma outra operação, desta vez, realizada pela Gerdau Metalúrgica, em dezembro passado, também é questionada por acionistas minoritários. Àquela época, a holding anunciou que o braço de participações do BNDES, o BNDESPar, reduziu participação no capital da controladora de 6,6% para 0,6%, em uma operação intermediada pelo BTG, que passou a deter essa fatia. Acionistas minoritários contestam, afirmando que houve triangulação e que essas ações passaram para a controladora.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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