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A dívida de Portugal

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Publicado sábado, 27 de abril de 2024 às 00:00 h | Autor: Editorial
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Um ano após o comitê das Nações Unidas recomendar meios de reparação dos efeitos do cativeiro e tráfico de africanos, tratados como mercadorias ou coisas, Portugal, enfim, teve uma atitude honrada e decidiu retratar-se.

Reconheceu o presidente do país, hoje coirmão, terem sido os lusitanos autores de crimes contra a humanidade, representada pelos povos assaltados e sequestrados, incluindo as tribos originárias encontradas pelas caravelas.

A confissão de Marcelo Rebelo de Sousa soou como alento em todo o mundo livre, no qual a chaga dos males produzidos pela ganância dos corsários europeus causa repugnância e exige indenização por danos prolongados.

Não se sabe como pagar por 6 milhões de pessoas arrancadas de seus lares e até de palácios pelos arcabuzes de Lisboa, embarcadas nuas, entre roedores e baratas, nos navios tumbeiros, chamados assim pela probabilidade de óbito.

Possível fosse retirar toda água do Atlântico a separar as costas de Brasil e d’África, e em grande parte do hipotético trajeto a pé seria possível ouvir-se o crepitar dos ossos de quem perdeu a vida, por desnutrição e maus tratos.

Assumem os herdeiros das caravelas, em digna revelação, o erro moral do saque dos bens, notadamente o ouro, mas também o pau-brasil, quase extinto, e tantas outras riquezas, exaurindo jazidas, em incontido ímpeto.

Resta mencionar outros graves danos causados até hoje à população brasileira, capturada por grupos articulados para propagar mentiras, aproveitando-se dos efeitos tardios da ausência de livros e escolas pela cruel política dos invasores.

O domínio bestial das tropas de Cabral e Tomé, seguidas pelos joaninos, devido à falta de educação, reflete-se na semente do mal gerando genocídio do povo preto, dos yanomamis da Amazônia e dos crucificados contemporâneos.

Como o regime português tem no primeiro-ministro a sua figura de proa, a fala presidencial habita o domínio retórico, no entanto, seu luzidio pedido de desculpas representa um exemplo para o bom convívio entre os povos.

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