A Seleção voltou
Confira o Editorial do Jornal A TARDE
O resgate da Seleção Brasileira de futebol, única e escassa pentacampeã mundial, da condição de refém de um projeto de poder de viés autoritário, para tornar-se referência de combate ao racismo, merece reacender a paixão de torcedores cidadãos pela amarelinha.
Vítima de ofensas na Espanha, onde o fascismo dominou nas décadas do generalíssimo Franco, o jogador Vini Jr. ajudou a recuperar o perfil construído ainda no primeiro título de Copa, na Suécia, em 1958, quando o escrete do adolescente Pelé, mestre Didi e o caboclo Garrincha calou o preconceito então prevalecente, vencendo as seleções dos brancos.
O atacante do Real Madri ganhou destaque internacional, saindo aplaudido da coletiva de imprensa, ao criticar o fato de, mesmo após 20 denúncias explícitas, flagrados os agressores pelas câmeras de tevê, ninguém tenha sofrido punição, em evidente e inaceitável omissão da polícia e da magistratura.
Em 40 minutos lembrando denúncias sem efeito, o artilheiro precisou interromper a narrativa, sem evitar a comoção de quem sofre duas vezes, ao ser tratado como inferior e ao não sentir-se protegido pelas leis e instituições. O auge da escalada insana levou a comparações com os macacos, imitando os bandos celerados os gestos e urros de primatas, em triste episódio registrado em Valencia.
Talvez como forma de realinhar-se em perspectiva terapêutica, os madrilenhos manifestaram apoio ao brasileiro, quando foi substituído no jogo de ontem. Para coroar de êxito a mudança na Seleção Brasileira, dentro do clima de reconstrução, Rodrigo e Endrick levaram o Brasil a reagir diante da Espanha, em amistoso encerrado em 3x3, com duas penalidades ofertadas pela arbitragem aos donos da casa.
A nova seleção caprichou também no visual, ao apresentar-se para cantar o Hino Nacional vestida em uniforme preto ilustrado por uma marca de impressão digital, além de padrões diferentes, sinalizando, também no plano simbólico, o esforço para enterrar de vez o período sombrio de associação com propostas anticivilizatórias.