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OPINIÃO

Artigo: Etnia não é fantasia! O problema das fantasias de índio e ‘nega maluca’ no Carnaval

Por Ashley Malia

19/02/2020 - 15:24 h | Atualizada em 19/02/2020 - 15:47
Fantasias de índio e 'nega maluca' reforçam estereótipos racistas associados a negros e indígenas | Foto: Reprodução
Fantasias de índio e 'nega maluca' reforçam estereótipos racistas associados a negros e indígenas | Foto: Reprodução -

Com a chegada do Carnaval, voltam as discussões sobre fantasias que são usadas por alguns foliões, como pessoas se vestindo de índio e ‘nega maluca’, um personagem historicamente racista. Apesar de todos os anos essas discussões voltarem, e os indivíduos pertencentes àquelas culturas continuarem afirmando o quanto é ofensivo usar essas identidades como fantasia, as pessoas ainda continuam usando.

As fantasias de índio e ‘nega maluca’ são ofensivas, pois brincam com estereótipos racistas associados a esses povos. A ‘nega maluca’, por exemplo, é uma prática de ‘blackface’, que é quando pessoas brancas pintam a pele de preto e reproduzem estereótipos ligados à população negra. Com a personagem, esses estereótipos aparecem em tom depreciativo à mulher negra, principalmente, com o uso de enchimento nos seios, na bunda, o tom bem avermelhado nos lábios e trejeitos ofensivos, muitas vezes de forma sexualizada.

Historicamente, o ‘blackface’ era utilizado pelos europeus e norte-americanos para ridicularizar a população negra e nos colocar em forma de piada. A prática surgiu por volta de 1830, em Nova York. Muito longe de ser apenas o ato de pintar a pele de preto, o ‘black face’ ganhou muita força no teatro, quando os brancos se apresentavam em espetáculos humorísticos e ilustravam comportamentos associados aos negros de forma exagerada e depreciativa. Na época, inclusive, os negros nem eram autorizados a subir no palco de um teatro, contexto que contribuiu também para a invisibilização no cenário artístico, que segue até os tempos atuais.

No Brasil, os negros estão, muitas vezes, em um contexto de piada. O racismo, enquanto estrutura social se apresenta de diversas formas no nosso país, inclusive no formato de racismo recreativo. Usar os negros como piada é nos tirar da condição de humanos e usar nossos traços, o formato do nosso corpo e a forma como nos expressamos, apenas para fazer graça, enquanto a nossa população vive em uma conjuntura de violência racial diária, com a negação de direitos básicos.

Com relação à fantasia de índio, se torna ofensivo também por trazer a imagem folclórica e mística. Os indígenas vivem em uma realidade de genocídio no Brasil, vendo o seu povo sumir a cada governo que entra e sai. Muitos lutam para manter suas tradições e muitos lutam para se integrar à sociedade, e mesmo assim são excluídos e ridicularizados, mesmo que haja no país um discurso de democracia racial.

No imaginário social, o índio é aquele ser que vive no mato e não tem acesso à educação. É muito comum ver pessoas fantasiadas de índio que batem na boca para fazer o que elas acham ser “barulho de índio”, que é uma forma de animalizar e reforçar o estereótipo de "canibal". A reprodução desses estereótipos reforça a ideia de que o indígena é apenas fantasia ou um povo extinto. Esse reforço, inclusive, contribui para a invisibilização dos povos originários na nossa sociedade, tornando-os sempre não-vistos e, assim, o racismo e a violência que vivem diariamente não são discutidos.

Além disso, um adereço bastante popular na “fantasia de índio” é o cocar, um símbolo que para eles é sagrado. Li um dia desses no Twitter da artista e escritora Jé Hãmãgãy que nem todos são dignos de usar. Existem significados por trás de cada tipo de cocar, formas de utilizar cada tipo de pena. Se torna ofensivo quando essa tradição é desrespeitada e usada em tom de brincadeira ou romantização da cultura.

Etnia não é fantasia e, na maioria das vezes, elas vêm acompanhadas de estereótipos e preconceitos vividos diariamente por esses povos no contexto brasileiro. É uma forma de apagar as histórias reais e invisibilizar, ainda mais, os indivíduos, em busca da própria diversão.

Muitos acreditam que essas fantasias são formas de “homenagear” índios e negros, entretanto, quando essas dores se transformam em brincadeira, elas estão longe de serem vistas como homenagem. Só é homenagem quando o alvo se sente homenageado, e não é o que acontece.

Homenagear de verdade é demonstrar respeito e se atentar à realidade vivida por esses povos, ouvi-los e buscar mudanças efetivas na sociedade para que parem de nos ver como piada e enxerguem a nossa realidade como algo que exige mudança urgente.

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