EDITORIAL
Caminho da rapina
Confira o editorial do Jornal A TARDE desta sexta-feira
Por Editorial

Seria temer errar a aposta em um dos males o maior: o furto e a avaria de obras de arte do “Caminho da Fé”, entre o Santuário de Santa Dulce dos Pobres e a Basílica do Bonfim, ou a indiferença de quem deveria protestar. De 28 peças cuidadosamente posicionadas no percurso, seguindo o conhecimento do artista plástico Juarez Paraíso, 22 foram surrupiadas e as seis restantes sofreram danos deliberados.
A rota pensada para impulsionar o turismo religioso da Bahia reunia totens de madeira com placas de metal, em exposição ao ar livre com a assinatura de convidados pelo grande mestre, e também o mais longevo.
Ao decorrer de 91 anos de vida, dificilmente Juarez terá visto, ao longo de suas décadas de inspiração, um desmanche tão implacável de obras desrespeitadas na terra respeitada por sua inclinação multicultural.
Tão grave quanto a ação dos ladrões é a indisposição da cidadania, pois reagiram os soteropolitanos em silêncio, em vez da esperada grita geral, deixando “pasmo” e em “choque” o organizador da divinal “expo”.
Os poucos soteropolitanos a manifestar preocupação levantam a hipótese de ter motivado a inopinada rapina o material metálico, porque facilitaria a receptação por parte de mercadores clandestinos.
A subtração pede os cuidados dos homens da Civil, no sentido de planejarem estratégia suficiente para proteger as peças do trajeto inaugurado em 2020, registrando-se perdas desde então.
A violência gerou indignação nos filiados da Associação de Artistas Plásticos e Visuais da Bahia (Abarvi), tendo destacado o presidente Celso Cunha, o fato de os crimes desdobrarem em ofensa à liberdade religiosa. Não está descartado viés de fanatismo, sabendo-se o perfil de intolerância verificado em seitas espalhadas por Salvador, sem escapar do contágio os bairros da região transformada em cenário do absurdo.
Em busca de encontrar aspecto positivo, em tão enigmático enredo, pode-se citar o diagnóstico de baixo engajamento da população, ao revelar pouco caso apesar da gravidade do problema.
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