OPINIÃO
Capitã da parvoíce
Confira o editorial deste domingo, 22, de A TARDE
Por Da Redação

Seja por despreparo, má consciência ou intenção de atacar um luminar das multiculturas brasileiras, uma vereadora do PL, de quem nem se deve citar o nome, decidiu arremessar pedra no clássico Capitães da Areia.
A peculiar hermenêutica da parlamentar de Santa Catarina avaliou cegamente a monumental obra de Jorge Amado, traduzida em 49 idiomas, como uma “tentativa de marginalizar” as crianças.
O argumento falacioso de quem oferece indícios de parvoíce irretocável não pode prosperar para a abjeta censura, sabendo-se alvos de ataques anteriores “O Menino Marrom”, de Ziraldo; e o “Avesso da Pele”, de Jefferson Tenório.
São os profissionais de pedagogia os autorizados a indicar as bibliografias escolares pertinentes, como é o caso da ficção disponível também em linguagem fílmica.
A proposta estapafúrdia reativa momento sombrio: 2 mil exemplares de livros amadianos foram para a fogueira em 1937, primeiro ano do autogolpe do Estado Novo.
Uma breve genealogia do livro no Brasil dá ideia de como é difícil retirar antolhos do sem-número de biltres; na ocupação lusitana, sequestravam-se bibliotecas clandestinas, pois o livro era tratado como “tráfico”.
Vieram a independência, a República, a Constituição Cidadã de 1988, mas seguem recentemente os flagrantes perfeitos de estultícia, uma chaga recidiva.
No período ditatorial mais recente, pessoas flagradas de posse de publicações proscritas eram convidadas a sentar na temível “cadeira do dragão”.
Quantos tiveram o crânio esmagado porque estudavam a arte cubista? Nada a ver com La Havana. O culto às trevas do terror de Estado instaurado em primeiro de abril de 1964 guarda semelhanças com a atual distopia.
Décadas de democracia depois, a luta pelo livro continua, pois o crescimento de práticas fascistas vem acompanhado do delírio persecutório contra a estante – maior inimiga da estupidez.
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