EDITORIAL
Combucas cibernéticas
Confira o Editorial do Jornal A TARDE
Por Editorial
A superexposição das crianças nos relacionamentos virtuais alcança a proporção de uma a cada três com perfis abertos nas redes, em cálculo capaz de perturbar o desenvolvimento afetivo e cognitivo de uma geração refém das tecnologias desde a certidão de nascimento, expedida por meio digital em mecanismo de integração entre cartórios e maternidades.
A estatística foi divulgada ontem, Dia Internacional da Proteção de Dados, quando os institutos “Único” e “Locomotiva” alertaram, em análise qualitativa, para a gravidade do cenário, a exigir uma articulação de todos e todas quantas possam sentir-se moralmente mobilizados para ajudar a infância impactada por padrões de sociabilidade construídos nas interações inseguras e, portanto, perigosas, via computadores.
Como é fácil verificar pelo efeito da arquitetura horizontal da internet, sem a mínima hierarquia ou governo, o público infantil interage muitas vezes por meio de apelidos, sem confiabilidade, em “adições” nos dois sentidos, o da mania geradora da substância química dopamina, produzindo o prazer escravizante, e o da permissão de acesso à conta vulnerável de quem é facilmente conquistado por conta da imaturidade psíquica alcançando quase metade o grupo de pequenos internautas em descontrole.
O contexto tem inegável reflexo nocivo para a formação do caráter novel, pois o monitoramento por aplicativo dos movimentos de filhas e filhos implica não apenas em estresse e discussões intergeracionais: há também graves prejuízos para a educação se a criança perde o estímulo por questionar a si mesma sobre suas ações, devido ao impacto da sensação de ser vigiada.
Como agravante, os genitores dos meninos e meninas semirobóticas enfrentam dificuldades de lidar com os aparelhos, não raro tornando-se referência negativa de prática viciosa, deixando de dar o “bom exemplo” de equilíbrio, ao contaminarem suas proles, permitindo-se “comandar” pelas máquinas, em projeção de futuro sombrio para os novíssimos primatas capturados nas “combucas” cibernéticas.
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