OPINIÃO
'Direitas', as novas donas do poder

Por Ranulfo Bocayuva*
Concordemos ou não, ganha impulso no Brasil, Estados Unidos, Reino Unido e em países europeus o pensamento de direita e de extrema-direita adotado por líderes políticos em discursos e planos de governo, essencialmente marcados pelo conservadorismo social, nacionalismo, xenofobia e protecionismo econômico.
Pressionados por grave crise econômica, aumento do desemprego e surtos imigratórios, que acabam resultando em atos de xenofobia, o candidato republicano americano Donald Trump; o presidente recém-empossado Michel Temer; Theresa May, nova primeira-ministra britânica (após o Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia); e a candidata da Frente Nacional às próximas eleições presidenciais na França, Marine Le Pen, adotam a postura de "salvadores com pulso forte" para responderem a desafios econômicos e políticos próprios da democracia.
Os americanos se deixam seduzir pelo estilo "zombador" de Trump em função da crise de confiança na democracia e nas tradicionais alianças em troca de interesses nem sempre transparentes. Já os britânicos se manifestaram a favor de sua identidade nacional, mas vão ter que arcar com as consequências de isolamento comercial fora do bloco europeu. Há também o risco de a Escócia se tornar independente do Reino Unido por preferir se reintegrar à União Europeia.
Enquanto Temer terá que fazer, certamente, concessões políticas para aprovar suas reformas urgentes e isolar, ao máximo, o Partido dos Trabalhadores, que durante mais de 12 anos estimulou políticas sociais significativas mas com inaceitáveis custos éticos e econômicos.
A francesa Marine Le Pen segue os princípios xenófobos e racistas da extrema-direita amparada no medo dos franceses por uma onda terrorista orquestrada habilmente pelo Estado Islâmico (EI). Lembremos que este grupo terrorista se estruturou graças ao financiamento saudita e devido às caóticas intervenções ocidentais no Iraque e na Síria.
"Ideias, como as de Trump ou as dos nacionalistas xenófobos europeus, não são uma onda passageira, mas vieram para ficar", profetizou o colunista Martin Wolf do "Financial Times" em entrevista à revista "Piauí".
Na Itália, Dinamarca, Áustria, Holanda e Noruega, partidos de extrema-direita ganham votos, poder e apoio da sociedade, propagando o sentimento "de uma Europa livre de imigrantes".
Ressalvadas, obviamente, as particularidades políticas e econômicas de cada país, notam-se tendências para a redução de benefícios sociais com base nas reformas (trabalhista e previdenciária).
Medidas de austeridade são, em geral, anunciadas quando a festa acaba e a corda se rompe do lado mais fraco. Alguém poderia duvidar do rombo nos cofres públicos decorrente dos gastos astronômicos para a realização da Copa do Mundo no Brasil, em 2014, ou dos Jogos Olímpicos no Rio? E quem paga a conta dos custos do sistema de corrupção político e empresarial?
Estagnação salarial e imigração, no Reino Unido e nos Estados Unidos, tornaram-se argumentos fortes contra a globalização e a favor da xenofobia.
O mais grave é que, provavelmente, políticas isolacionistas conservadoras e medidas de austeridade serão, a curto prazo, ineficazes, porque a automação tecnológica acelerada e a busca de mercados emergentes com mão de obra barata deverão piorar o desemprego crescente em economias desenvolvidas.
As "esquerdas" defenderam causas importantes, como a luta contra a ditadura brasileira, os direitos dos homossexuais, das mulheres e dos negros, mas perderam o controle ao entrar no jogo sujo da corrupção.
Nunca é demais ouvir os sábios em tempos de incerteza: "Se o velho morre e o novo não nasce, neste interregno, ocorrem os fenômenos mórbidos mais diversos" (Gramsci citado por Zigmunt Bauman).
*Ranulfo Bocayuva l Jornalista l [email protected]
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