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Editorial - A bola explosiva

Publicado sábado, 30 de abril de 2022 às 00:01 h | Autor: Da Redação
A bola, cultuada em manifestação cultural festiva e artística, 
sai de campo 
em troca de
explosivos
A bola, cultuada em manifestação cultural festiva e artística, sai de campo em troca de explosivos -

A substituição dos valores do ideário desportivo pela busca das vitórias como único objetivo, independentemente dos meios; a mecânica de mercado privilegiando investidores; a disseminação das narrativas de violência em redes sociais.

Não se esgota nestas três hipóteses a produção de combustível para a mistura explosiva verificada nas praças esportivas, mas seriam prováveis causas da indesejada ignição da máquina de ameaças a jogadores, dirigentes e familiares.

Estudo desenvolvido pelo Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia já antevia entre protagonistas do contexto de ofensas, as representações de coberturas de jogos, com destaque para rivalidade e ódio mútuo.

Rompeu-se, assim, tomando a linguagem como a morada do ser, o recurso de educação não-formal produzido pelo desporto, saindo derrotados a fraternidade, o respeito aos vencidos, o aprendizado pelos erros e a capacidade do bom convívio.

Embora o princípio agonístico seja necessário ao jogo, pois o tensionamento entre contrários produz a sensação da disputa pelo triunfo, a situação atual indica perigo de aumento do descontrole, arriscando o sucesso dos negócios hoje prevalecentes.

Somente ações repressivas seriam insuficientes para evitar novos incidentes como aqueles envolvendo recentemente jogadores do Corinthians, Internacional, Grêmio, Sampaio Corrêa e São Paulo.

A sensação de impunidade pode atualizar guerrilhas potenciais, como a registrada no atentado aos jogadores do Bahia, tendo sido atirada uma bomba no ônibus da delegação sem nenhum dos autores ter sido detido.

O resultado se percebe, ademais, em atos simbólicos de racismo, como a recente oferta de bananas, por parte de torcedores do River Plate da Argentina, na visita do Fortaleza a Buenos Aires, pela Copa Libertadores.

A ascensão de lideranças com discurso extremista teria sua parte neste cenário entristecedor no qual a bola, cultuada em manifestação cultural festiva e artística, sai de campo em troca de explosivos.

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