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Mestre Didi está de volta ao reino dos ancestrais

Publicado segunda-feira, 07 de outubro de 2013 às 07:36 h | Autor: Gildeci Oliveira Leite*
Deoscóredes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi, era homem de múltiplas habilidades
Deoscóredes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi, era homem de múltiplas habilidades -

Do alto de uma das pedreiras de Xangô, na Boa Vista de Seabra, meu celular toca. O adivinho José Félix disse que seu avô havia falecido. A semana foi marcada por premonições. O Alapini, supremo sacerdote do culto aos ancestrais, partiu. Assobá de Omulu do Ilê Axé Opô Afonjá e Balé Xangô, Mestre Didi reunia em si parte da representação negra brasileira. Quando criança a preocupação de Mãe Senhora com a saúde do filho a fez levar o menino para o culto de Babá Egum (culto aos ancestrais) na ilha de Itaparica.

Ela estava certa, ele só viria a fazer a passagem para o orum (mundo espiritual), quase 90 anos depois, em 6 de outubro de 2013.

Poucas pessoas mereceram e merecem o respeito das entidades como Mestre Didi. Na festa de Babá Olukotum, ancestral da linhagem de Oxalá, os espíritos se materializaram e na luz do dia vieram saudar o Mestre numa alegria nunca vista antes. Seria mais um aviso da passagem?

Em festas de Xangô, dia 2 de dezembro no Ilê Asipà, mesmo com a idade, ele dançava o alujá, ritmo de Xangô. Era seu aniversário e os orixás festejavam com ele.

Imagino que hoje o zelador de Babá Alapalá, ancestral da linhagem de Xangô, esteja dançando o alujá rumo aos seus. Deoscóredes Maximiliano dos Santos era homem de múltiplas habilidades: escritor, artista plástico, religioso de duas negras tradições: o culto aos orixás e aos ancestrais. Na década de 1980 criou o Ilê Asipà.

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Este terreiro essencialmente de culto aos ancestrais leva o sobrenome de sua família africana. Por esses dias e até o sétimo dia os tambores Asipà comunicarão ao orum o retorno de um nobre Asipà.
Didi faz a passagem maduro para a morte, na hora certa, cumpriu sua missão aqui na terra.

Além de seguidores, netos e bisnetos biológicos, Mestre Didi deixa a esposa Juana Elbein dos Santos e três filhas: Inaycira, Jaguaracyra e Dona Nídia de Iêmanjá, a mais velha. Deixa também a comunidade negra e de Axé fortalecida com suas conquistas e na certeza de ter mais um guardião entre os ancestrais. A bênção, Mestre Didi!

*Gildeci Oliveira Leite é escritor e professor da Uneb

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