OPINIÃO
O desespero humano
Confira o Editorial do Jornal A TARDE
O relacionamento muito próximo entre a condição da cidadania de baixa renda e a maior incidência de transtornos mentais aparece com inquietante intensidade em meticuloso estudo assinado pelo relator especial da ONU para Pobreza Extrema e Direitos Humanos, Olivier De Shuffer, apresentada a 193 representantes de países e de populações em busca de soberania e reconhecimento de seus territórios sob dominação, como a Palestina.
Evitando o risco falacioso da petição de princípio, quando o pesquisador tem como certa uma ideia e preenche o trabalho com demonstrações, a hipótese falseável, e portanto, científica, é rigorosamente testada em sem-número de casos nos quais a precariedade no trabalho implica alta probabilidade de desenvolver o empregado sintomas associados aos tipos de doença “depressão” e “ansiedade”.
Enquanto absorve a mente a lacuna no saldo bancário ou a dificuldade de amealhar alguns tostões visando a sobrevivência, tornando-se cotidianos e banais tais desigualdades, por outro lado a limitação produzida pela angústia de alimentar-se é devolvida à combalida Psiquê, manifestação de uma divindade articulada à saúde e à felicidade de gozar a vida com harmonia e amor, como na narrativa de Apuleto.
A “ascensão social”, conceito extraído do manual do liberalismo contemporâneo, torna-se uma questão de sorte, mas o azar de nascer em família desprovida de propriedade leva a pessoa necessitada a buscar vender sua força de trabalho, em contrapecúnia cedida a menor, única forma viável de prosperar a empresa, ao lesar, não apenas o empregado mas levando de roldão a cabeça confusa do peão.
Ao desespero humano, inerente à consciência da finitude impossível de cancelar, comum a todas as classes sociais, acresce a peculiar dor psíquica de quem sobrevive duramente, ao precisar dos carimbos do Estado e da oferta de mão de obra, aproximando o sofrimento da maioria de causa e, ao mesmo tempo, efeito dos custos econômicos da loucura dos pobres, alcançando o trilhão de dólares ao ano.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro