EDITORIAL
O poder do caruru
Reconhecimento da iguaria como Patrimônio Imaterial ultrapassa a dimensão da culinária
O reconhecimento do caruru como Patrimônio Imaterial, por parte do Conselho Estadual de Cultura, ultrapassa a dimensão da arte culinária para alcançar a plenitude do reino divinal, uma vez ser a comida feita de quiabo, amendoim e camarão seco uma oferenda aos “Ibeji”, sincretizados com os santos gêmeos Cosme e Damião, embora tenham sua própria história nas nossas origens africanas ancestrais.
Ao referendar o estatuto de pertença ao perfil de afro baianidade, os pesquisadores a serviço do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, vinculado à Secretaria de Cultura (Secult-Ba), contribuem para proteger fração significativa de “essência” identitária, fortalecendo, por extensão, a integralidade da “substância” do ser-baiano, justificando a sanção pelo governador Jerônimo Rodrigues.
O bonito gesto de salvaguarda, como se espera de uma gestão comprometida com as melhores tradições, traz em seu rastro a gratidão aos encantados do dia 27 de setembro, quando se festeja o “Dia das Crianças”, conforme as casas de força do candomblé, em sintonia com devotas e devotos nos lares invadidos pela alegria do convívio inspirado na doação complementar de doces diversos.
Os efeitos do poder de memória afetiva, mencionada com devida ênfase por uma das autoridades responsáveis pela boa ideia, constitui alicerce comum a toda a cidadania, produzindo altivo sentimento de admiração pelo culto, associado à saúde da nutrição, muito além da corpórea, incentivando a liga simbólica, cultural e espiritual de comunidades de Salvador, municípios do Recôncavo e outras regiões.
A benfazeja outorga não se basta no tempo presente, pois transmite a sensação de continuidade, ao sinalizar para as futuras gerações a relevância da fé em “dois-dois”, como também é reverenciada a “ibejada”, representando o equilíbrio e a harmonia nos relacionamentos, em viés participativo, independentemente da forma de louvor, enaltecendo, por tabela, o inegável talento coletivo de concórdia inata e imanente.
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