OPINIÃO
Perfeição impossível
Confira o Editorial do Jornal A TARDE
Por Editorial
O desenvolvimento das tecnologias, o impacto dos relacionamentos artificiais pela internet e um anseio ancestral dos humanos de tentarem moldar a si próprios, libertando-se da ideia do “deus criador”, são algumas das possibilidades de vetores de forte impacto para a escalada da procura de procedimentos de alteração corporal visando a uma suposta “beleza”.
Como agravante, neste movimento pautado pela vontade de autonomia, aumenta a oferta por parte de clínicas autoproclamadas “estéticas”, nem sempre confiáveis, mesmo assim, resultando num aumento de quase seis vezes no mercado, calculando-se incremento de 141% na busca de alterar a aparência na faixa etária entre 13 e 18 anos, imitando tendência dos pais.
Deste contingente, resultou da interatividade digital a decisão de seis entre dez ansiosos por ver-se no espelho da forma como entendem belos, embora não se saiba até hoje o fundamento da “beleza”, com certeza variando em cada cultura ou grupo social, sem chance de concordância, advindo o espanto ao obter-se uma feição diversa da original, graças a algum modismo passageiro.
Pesquisadores do ciberespaço admitem a hipótese de pêndulo, iniciando com a consagração de tipo ideal via mensagens rápidas de aplicativos, produzindo no internauta novel a decepção e até o desespero – não raro levando ao suicídio – ao perceberem a distância entre o “real” formato do rosto, de partes do corpo, da cor, da textura do cabelo, entre outros detalhes, e o suposto padrão veiculado na web.
O sofrimento emocional, ao destoar da tirania de “normalidade”, pode ser reduzido ou eliminado quando se prefere “consertar” o hipotético “erro corpóreo” em vez de aceitar-se como se é, permitindo forjar tamanhos e consistências de órgãos e até o escurecimento da pele. No entanto, o impulso a novas modificações, em infinito de opções, sem garantia de plena satisfação, tende a gerar angústia devido à ampla liberdade de escolha e o desconforto incessante devido à consciência de uma perfeição humanamente impossível.
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