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Resposta a mãe Stella de Oxóssi

Publicado segunda-feira, 14 de setembro de 2015 às 08:16 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Marlon Marcos | Jornalista e antropólogo | [email protected]

Manhã de quinta-feira, página de Opinião do jornal A TARDE, e as palavras de uma escritora que é iyalorixá, e que banha de humanidade e sabedoria os seus apaixonados leitores. A caçadora trouxe alegria. E, falando dos desencontros que experimentamos nos tempos atuais, arrancou-me lágrimas, ao questionar sobre os motivos que devemos ter ou não para estarmos vivos agora. A intelectual trouxe tristeza ao constatar a dureza deste mundo que tanto maltrata os humanos mais sensíveis.

Que mulher é esta senhora de 90 anos! Uma liderança religiosa que escreve com a destreza do seu orixá, Odé, e nos ensina a favor da integridade coexistencial e de valores que permitam que todos se expressem e que sejam, ontologicamente. E mais ainda: haja espaço para a vida dos mais sensíveis, que nós, que doemos neste tempo, tenhamos direito à vida, e não sejamos empurrados para a morte precoce, para o suicídio induzido pelo dessentido desta cruel reunião humana atual que chamam de civilização.

A leitura de mãe Stella, a literata, no artigo "Não me deem motivos", me fez clamar aos céus para que ela esteja por mais e mais anos entre nós, nos representando nesta religião que dá sentido à minha vida. Religião que perfila a grandeza inventiva dos negros que nos ergueram como povo, tão vilipendiada ainda por forças externas a nós, e tão desencontrada ainda por muitos irmãos que não alcançam o teor da nossa espiritualidade. Mãe Stella, em sua crônica, assinalou a condição nauseabunda dos que ardem por expressão e sentem dor por não aguentar a rotina perversa e individualista que faz com que muitos desistam de viver.

Lê-la foi mergulhar na Náusea, de Sartre, e vagar no meu pensamento, ora alegria ora agonia por fruir as palavras da rainha do Ilê Opô Afonjá. Alegria que vira tristeza quando pensamos em perdas. Mas ninguém me tira o orgulho de estar sendo contemporâneo de uma líder negra que educa o seu povo.

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