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OPINIÃO

Sobre o significado de nagô

Por João José Reis*

11/02/2015 - 7:00 h

Em coluna de 7/02, Luiz Mott diz que errei ao afirmar que o termo nagô deriva de anagô, pequeno grupo iorubá na fronteira entre Nigéria e Benim. Cita Vivaldo da Costa Lima para definir nagô como "piolhento" em fon. Em A família de santo (pp. 23-24), este escreveu que, no Benim, nagô é "o povo de fala iorubá", mas também ouvira aquela e outras acepções derrogatórias serem confirmadas por "informante" educado na França, "mas... dotado de um grande sentimento etnocêntrico." Os iorubás seriam assim chamados por chegarem ao Daomé de suas guerras "esfarrapados, cheios de piolhos, famintos e doentes", e aqui Vivaldo cita seu informante etnocêntrico. Comenta: "Daí o antigo apelido de anagô, em fon, que significaria 'piolhento'".

Notem a forma verbal: significaria, e não significa. Pois Vivaldo cita Paul Mercier, que ouvira a versão insultuosa para nagô mas, conhecendo iorubás "que se autodenominam Anago e só conhecem este nome," concluiu que não se autoinsultariam. Lança então dúvida de que o vocábulo fosse criação fon. De fato é iorubá. O historiador Robin Law mata a charada: "a omissão da sílaba inicial, abreviando 'anagô' para 'nagô', é característica nos empréstimos de palavras iorubás pelo fon." Vivaldo escreveu ainda que a "suposta conotação" negativa de nagô não atravessaria o oceano, "vez que os iorubás da Bahia eram chamados e se chamavam a si mesmos de nagôs." Ecoa o Mercier da África dos anos 1940.

Disse em minha palestra desconhecer que Islã teríamos numa Bahia malê, que talvez fosse um Islã mais 'negociador'. Apontei, na revolta e no cotidiano, convergências entre afro-muçulmanos e não muçulmanos. Finalmente, concordo ser abominável "apedrejar as adúlteras e os gays" e conheço muitos muçulmanos que concordariam conosco, alguns dos quais presentes à palestra.

* Professor titular do Departamento de História da Ufba

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