OPINIÃO
Um homem de palavra e das palavras

Por Inaldo da Paixão Santos Araújo | Mestre em contabilidade, presidente do Tribunal de Contas do Estado, professor, escritor | [email protected]
Parafraseando Bertolt Brecht, entendo que há homens que pensam, há homens que sonham e há homens que realizam. Mas quando o espírito humano é impulsionado por esta tríade de motivações, abre-se o espaço para a jornada rumo à construção da história para a transformação do mundo. Valho-me desta assertiva para falar de um homem que não tive o prazer de conhecer pessoalmente, mas que admiro pelo que ouço contar e pelo que li a seu respeito, devido, principalmente, às posições firmes e à grandeza de caráter que ficaram marcadas em sua trajetória.
Refiro-me a Jorge Calmon Moniz de Bittencourt, saudoso jornalista, deputado estadual constituinte, secretário do Interior e Justiça, professor emérito da Ufba, membro da Academia de Letras da Bahia e Ministro do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, cargo este cuja denominação hoje atribuída é a de Conselheiro.
Com muita honra, recebi o convite da Associação Baiana de Imprensa (ABI) para integrar a comissão que organiza as comemorações pelo centenário de nascimento de Jorge Calmon. Por feliz coincidência, o mesmo ano em que o Tribunal de Contas do Estado, Corte que presido com orgulho e dedicação, completa um século de existência. No primeiro encontro dos integrantes da comissão, coube a mim um breve pronunciamento a respeito do homenageado. Diante do que ouço dizer a respeito de Jorge Calmon, destaquei as características que considero as mais marcantes: "Era um homem de palavra e das palavras".
Acredito que não há melhor forma de esboçar um juízo sobre alguém do que observar se as suas palavras correspondem aos seus atos. O perfil de retidão comportamental de Jorge Calmon me foi traçado por colegas e amigos que tiveram um convívio estreito com ele. No seu entendimento, o compromisso e o cumprimento do dever estavam em primeiro lugar. Eis o homem de palavra. Já na trincheira do jornalismo, o homem das palavras contribuiu na construção dos pilares do estado democrático de direito. Como diretor de redação do jornal A TARDE por quase 50 anos, ele se empenhou em manter o periódico a serviço da cidadania e da liberdade de expressão.
Nada obstante a sua contribuição para com o jornalismo, fiquei muito orgulhoso de constatar que foi com a Casa de Controle baiana que ele mais se identificou. E sei disso, pois foi o próprio Jorge Calmon a revelar esta sua identificação na conferência O Tribunal de Contas na Concepção de Ruy Barbosa, que proferiu como orador da sessão comemorativa do Dia dos Tribunais de Contas, em 7 de novembro de 1984.
Jorge Calmon deixou um legado de trabalho e conhecimento para as novas gerações, principalmente no jornalismo. Que todos nós lhe prestemos esta justa homenagem. Salve, Jorge! Sempre, pois foi com ele que, em vez primeira, compreendi "o anátema de Ruy Barbosa", cuja poderosa voz ainda se ouve, 150 anos depois, a exclamar: "Não há tribunais que bastem para abrigar o Direito quando o dever se ausenta da consciência dos magistrados!".
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