Uma noite de felicidade

A noite de São João traduz uma forte identificação da gente baiana e nordestina a partir de aspectos de manifestações culturais preciosas devido a misturas ancestrais impossíveis de se definir.

A intensidade vem desde os detalhes, do caroço do menor amendoim ao entusiasmo da multidão gigante tomando toda a praça.

É o momento de magia no qual a estima do nosso povo alcança sua máxima potência, dada a admiração produzida pela coreografia colorida das quadrilhas, com talento e esforço dos ensaios para o maior espetáculo.

Poucas festas no mundo, produzidas por comunidades rurais, algumas delas de baixa renda e enfrentando dificuldades cotidianas para sobrevivência, alcançam esta sensação de beleza e desenvolvimento afetivo.

A defesa do forró, como suposto gênero genuíno, revela um imaginário compartilhado por etnias e classes sociais distintas, pois mesmo a música aparentemente original é resultado de fusões antigas, perdidas no resfolego do tempo.

O encontro de quem se quer bem, em meio a bebericagem do licor, ao calor das fogueiras, aquece os corações joaninos, não raro repercutindo em nova geração, tal o poder de aproximar casais encantados no culto aos prazeres.

Em um contexto de tal forma influenciado por Dioniso e Cibelle, não é difícil perder-se nas trilhas, portanto a prudência não pode faltar. São tantos os motivos de alegria a ponto de produzir o risco de desdenhar do perigo, pois quando se está feliz o pensamento torna-se volátil ao limite de entregar a ponderação ao império dos desejos.

Vamos lembrar, por escrito, da necessidade de cautela no uso de fogos de artifício a fim de impedir bolhas de queimaduras capazes de causar indesejada tristeza.

Também manda a moderação jamais mesclar bebida alcóolica e psicoativos com o volante e o guidom, pois seria estultícia desperdiçar os forrobodós dos anos vindouros, para quem tirou a sorte grande de nascer numa região tão competente para aproveitar as delícias da vida.