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Yeda Pessoa de Castro

Publicado sábado, 08 de outubro de 2016 às 11:58 h | Autor: Marlon Marcos*

Talvez ela seja a mais importante estudiosa de línguas africanas no Brasil, principalmente os idiomas abrigados pelos povos de cultura banto. Graças à professora Yeda, sabemos das ações transformativas que o quicongo e quimbundo ocasionaram no português falado entre os brasileiros, e ela, como uma desbravadora linguística, em seus estudos, trouxe outros aspectos civilizatórios das etnias negro-africanas que aqui chegaram e construíram nosso país.

No último 3 de outubro, a eminente professora aposentada da Ufba completou 80 anos, viva e pronta para ter desta cidade o  devido reconhecimento, e para que, através da sua presença física, o seu trabalho etnolinguístico seja espraiado, já que demonstra o quão negro-africano é a nossa fala neste país cada vez mais apartado entre si.

Falares africanos na Bahia, seu livro mais famoso, serve como testemunho da grandeza intelectual da professora, doutora pela Universidade Nacional do Zaire, ex-diretora do Centro de Estudos Afro-Orientais, da Ufba, no qual introduziu, com força e eficiência, cursos em quicongo, que foi muito frequentado pelo povo de santo congo-angola no nosso estado. Sua voz ecoou e ecoa a favor do entendimento das especificidades e semelhanças culturais de muitos povos africanos com o povo baiano e, por extensão, o  brasileiro. É um legado reconhecido por jovens pesquisadores que seguem a sua linhagem dos estudos afro-brasileiros voltados para idiomas bantos, como Tiganá Santana, músico e intelectual, que a tem como maior referência em suas construções analíticas sobre as línguas e os falares vindos da África e amalgamados no chamado "português brasileiro".

Ela está aposentada, mas continua na ativa, e da Uneb rege com veemência o NGEALC, promovendo debates, simpósios, pesquisa, auxiliada por pesquisadores das mais diversas áreas, defendendo a necessidade de cursos em idiomas africanos para fortalecer o nosso pertencimento ancestral à África negra. Obrigado, professora!

*Marlon Marcos l Jornalista e antropólogo l [email protected]

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