OPINIÃO
Zumbi todo dia
Confira o Editorial do Jornal A TARDE
Por Editorial
Hoje é o dia de celebrar o legado de Zumbi, líder da comunidade erguida na Serra da Barriga, Alagoas, traduzindo-se o feriado nacional no reconhecimento tardio das lutas dos africanos e dos afrobrasileiros descendentes dos escravizados durante o período da diáspora – quatro séculos de sequestro, tráfico, tortura e genocídio produzidos para custear o “mercantilismo” protagonizado pelas naus de nações corsárias.
Engana-se, porém, quem doa sentido limitado de folga ou oportunidade de recreio e lazer a esta quarta-feira, o meio de uma semana cercada de dias úteis, pois, a bem da verdade, trata-se de preciosa efeméride, na qual a distinção dispensada à comuna preta de antanho gera a positiva vibração no tempo presente visando dar sequência ao escapar dos grilhões impostos pela estrutura socialmente desigual.
No Brasil, há como agravante a coincidência identitária entre a gigantesca massa de explorados nas relações trabalhistas, remanescentes das escravocratas, e a carga de melanina impregnada na epiderme, unindo, portanto, a necessidade de sobrevivência individual à luta pela perpetuação da espécie, mantida a pluralidade de etnias ou “raças”, no caso de diferenças biológicas ressignificadas no convívio humano.
A implementação de políticas públicas, pautadas na busca de justiça reparadora, tem sido a melhor participação do governo federal, associando-se a setores da sociedade civil organizada com o objetivo de ampliar as oportunidades a quem foram e continuam sendo negadas, produzindo a sensação de engodo a assinatura da lei áurea pela Princesa Isabel, pois 136 anos depois, segue o massacre.
O incentivo à atuação das religiões de matriz africana, a premiação de linguagens artísticas em concursos pretos e inclusão na academia, promovendo-se os espoliados aos cargos de poder nas empresas, não são poucas as estratégias possíveis de reduzir a dor da maior parte da população, em alinhamento pleno com o sonho de uma sociedade “sem amos”, nem quem os sirva, privados de seus direitos.
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