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06/05/2023 às 18:23 • Atualizada em 08/05/2023 às 6:58 | Autor: Divo Araújo

ENTREVISTA - JEAN WYLLYS

‘A internet deveria ser um terreno democrático’

Ex-deputado começa a preparar retorno ao Brasil onde deve assumir um cargo no governo Lula

O ex-deputado federal Jean Wyllys vive hoje em Barcelona após sofrer ameaças de morte
O ex-deputado federal Jean Wyllys vive hoje em Barcelona após sofrer ameaças de morte -

Perto de retornar ao Brasil, o que deve ocorrer entre junho e julho, o ex-deputado federal Jean Wyllys (PT) acompanha com atenção o que acontece no ambiente político do país, em especial as idas e vindas do PL das Fake News no Congresso.

Alvo de uma intensa campanha de difamação nas redes sociais, ele se auto-exilou na Espanha após ter a vida ameaçada e transformou o “terrorismo e a violência política” no ambiente digital na sua tese de doutorado. Nesta entrevista exclusiva ao jornal A TARDE, ele é muito incisivo ao defender a necessidade de regulamentação das plataformas.

“Não se trata só de conter a circulação de notícias falsas, calúnias e teorias conspiratórias. Trata-se de algo maior: proteger a civilização e o mundo comum”, diz o ex-parlamentar, jornalista e professor baiano, de Barcelona, onde mora atualmente. Confira essas e outras opiniões de Jean Wyllys na entrevista que segue.

Esta semana foi adiada a votação do projeto de lei que regulamenta as redes sociais, conhecido como PL das Fake News. Você, que foi alvo de uma intensa campanha de difamação sobretudo pelas redes sociais e escolheu o tema para seu projeto de doutorado, como está vendo todo esse processo?

É fundamental regulamentar as redes sociais porque elas nos impactam como indivíduos e como sociedades, e têm produzido danos à saúde mental e às relações sociais. O fluxo de informação e desinformação a que estamos submetidos nas chamadas mídias sociais, bem como o tempo gasto sob este fluxo, tem gerado ansiedade, depressão, estimulando comportamentos anti-sociais e polarizado politicamente a sociedade de modo a deteriorar a democracia. Isto não pode seguir assim. Claro que as mídias sociais têm seus aspectos positivos também. Mas estes não são suficientes para que não se exija responsabilidade por parte das big techs, cujos algoritmos nos exploram como força de trabalho gratuita e manipulam nossas decisões. Veja, portanto, que não se trata só de conter a circulação de notícias falsas, calúnias e teorias conspiratórias como as que foram usadas de maneira organizada e deliberada contra mim. Trata-se de algo maior: proteger a civilização e o mundo comum.

As plataformas digitais podem e devem operar de acordo com a regulamentação aprovada em cada país ou região. Elas não foram eleitas

Jean Wyllys - ex-deputado federal

Você deixou o Brasil após constatar que sua vida estava em perigo, pelas ameaças constantes feitas através das redes sociais. Você acredita que elas podem influenciar em comportamentos violentos como os ataques ocorridos em escolas do Brasil? As plataformas devem ser responsabilizadas de alguma forma por esses atos?

A desinformação, principalmente as teorias conspiratórias, estão por trás ou são o combustível para a associação de pessoas em seitas ou redes criminosas que atuam na deep web, que, apesar deste nome, não é subterrânea, mas, sim, não facilmente rastreável. As novas tecnologias da comunicação e da informação engendraram redes sociais para diferentes fins, nem todos lícitos ou saudáveis. Muitos dos machos heterossexuais jovens ou maduros que se sentem subtraídos em seus supostos “privilégios naturais” por causa das conquistas políticas e da visibilidade dos feminismos e do movimento LGBTQ estão associados em fóruns masculinistas na web e já perpetraram massacres em diferentes países; bem como os supremacistas brancos, que odeiam não apenas os negros e asiáticos, mas sobretudos os semitas (judeus e árabes). A primeira vez que um destes grupos me ameaçou de morte, tendo inclusive mapeado os pontos cegos do sistema de vigilância da Câmara Federal, foi em 2011, o mesmo ano em que um de seus membros perpetrou o massacre na Escola Tasso da Silveira, em Realengo, RJ. Desde então, e sobretudo por eu representar e defender nas mídias sociais, tudo que eles detestam, tornei-me um alvo, mas também um estudioso dessas novas formas de terrorismo e violência política.

A própria União Europeia já atribui certas responsabilidades às plataformas digitais. O que o Brasil pode aprender com outros países?

Todos os países da União Europeia bem como os Estados Unidos e o Canadá vêm enfrentando dificuldades para regulamentar a atuação das big tech em seus territórios. A primeira dificuldade vem do fato de que elas atuam como o que o filósofo Pierre Lévy chama “Estados-plataformas” que estão acima dos estados-nações e suas leis. Seu argumento é de que não podem responder a distintos sistemas legais. Mas se trata de uma falácia. Sim, as plataformas podem e devem operar de acordo com a regulamentação aprovada em cada país e/ou região. Elas não foram eleitas, são corporações que crêem que mandam no mundo e podem moldá-lo à maneira de seus donos bilionários e irresponsáveis. Creio que a solução para esse desmando deverá vir da atuação conjunta do mundo democrático. Na Alemanha, quando o parlamento começou a discutir a regulamentação das big tech, elas ameaçaram deixar o país, ao que o primeiro-ministro respondeu que “tudo bem, a vida era melhor sem a presença de vocês”. E não deixa de ser uma verdade (rs). A internet não deveria ter sido colonizada por essas corporações gananciosas, exploradoras e deletérias. A internet deveria ser um terreno democrático.

Por eu representar e defender nas mídias sociais, tudo que eles detestam, tornei-me um alvo, mas também um estudioso dessas novas formas de terrorismo e violência política

Jean Wyllys - ex-deputado federal

Você, que também é jornalista, não exime de culpa as mídias tradicionais pelo o que ocorreu no Brasil nos últimos anos. Onde erramos?

O grande erro da mídia tradicional ou hegemônica é o fato de estar concentrada nas mãos de oligarquias políticas e famílias que são em sua quase totalidade de direita e neoliberais. Isto faz desta mídia tradicional uma mídia anti-esquerda, anti-socialista e anti-pobre. Sendo assim, entre deixar que os eleitores elegessem mais um governo petista e apoiar um deputado delinquente do baixo clero, mas comprometido com a agenda econômica ultraliberal, a mídia tradicional optou por este último. A mídia tradicional foi especialmente danosa à democracia e ao país quando serviu de assessoria de imprensa à Orcrim chamada “Lava Jato”. A mídia perpetrou tanta desinformação nesse momento que ela falar hoje em desinformação exige que antes faça alguma autocrítica. O resultado dessa irresponsabilidade por parte da mídia tradicional foram as trevas bolsonaristas que engoliram o país e levaram à morte mais de 500 mil sem contar aí o genocídio ianomâmi.

Mudando um pouco de assunto, você tem defendido a necessidade de ‘desbolsonarizar’ o Brasil e argumenta que, para isso, é preciso responsabilização dos culpados por ilegalidades cometidas no governo passado. Está satisfeito com as respostas dadas pelas instituições até o momento ou considera que é necessário algo a mais?

Estou. É o começo de alguma justiça num país que, antes, anistiou torturadores. O STF está tentando reparar os danos que cometeu ao avalizar o golpe contra Dilma e a prisão injusta de Lula. E está fazendo isto porque os corvos que eles ajudaram a criar tentaram arrancar seus olhos. Espero por mais justiça ainda assim.

Por falar em responsabilização, também esta semana ocorreu a operação da Polícia Federal para apurar fraudes do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus assessores em cartões de vacinação. Como você, que nunca escondeu seu desejo de ver Bolsonaro preso, recebeu a notícia da ação na casa do ex-presidente?

Recebi a notícia com entusiasmo. Mas é importante que se diga que meu desejo de ver Bolsonaro preso está ligado à profunda indignação por todo mal que ele me causou impunemente. Está ligado ao sofrimento de vê-lo e à sua quadrilha perpetrarem todas as barbaridades - incluindo o funcionamento de uma máquina de mentira, difamação e ódio - e seguirem rindo de nossa cara. Alguma justiça há de haver, não? O lugar desse criminoso contra humanidade é atrás das grades, condenado ao lixo da história.

Prefiro estar na linha de trás do governo, ligado mais diretamente ou ao gabinete do presidente ou ao Ministério das Relações Institucionais

Jean Wyllys - ex-deputado federal

Falando ainda sobre esse caso, a operação trouxe a tona declaração de um dos suspeitos sobre o assassinato de Marielle Franco. Em uma conversa interceptada, o advogado e ex-militar Ailton Barros afirmou saber quem mandou matar a vereadora. Como você viu essa declaração?

Acho que é um blefe de bandido tentando se cacifar dentro da máfia. Mas não custa nada à PF investigá-lo mais a fundo. O país segue esperando saber quem mandou matar Marielle e por quê.

Seu retorno ao Brasil está muito próximo, em junho ou julho. Essa questão da segurança está sanada? A medida cautelar de proteção à sua vida requerida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA será reconhecida pelo governo?

A questão da segurança nunca estará fechada. Mas a Medida Cautelar me dará proteção em eventos e aparições públicas. Eu seguirei tomando cuidados, claro. Mas Lula e seu governo, bem como o STF estão conseguindo restabelecer um clima de segurança maior para nós todos.

Você se reuniu durante quase três horas com o presidente Lula e a primeira-dama Janja durante a visita recente deles à Espanha. Na reunião, Lula disse que pretende contar com você no governo. De que forma você acredita que melhor pode contribuir para o governo?

Acho que sou um tipo de inteligência estratégica que pode atuar na reflexão política e na construção de políticas de forma interministerial e interinstitucional. Os anos de exílio ampliaram minha experiência política. Prefiro estar na linha de trás do governo, ligado mais diretamente ou ao gabinete do presidente ou ao Ministério das Relações Institucionais.

Para concluir, você deixou a Bahia há muitos anos e foi inclusive eleito deputado federal duas vezes por outro estado, o Rio de Janeiro. Mas sei também que você tem muitos amigos por aqui, pessoas com quem mantém relações frequentes. Onde fica a Bahia nessa sua trajetória? O que você levou daqui que segue de alguma forma reverberando na sua vida?

Amado, como já disse Gilberto Gil, que também deixou o estado cedo, a Bahia me deu régua e compasso. Eu sou o que sou por causa da Bahia, dos anos em Alagoinhas, Pojuca e principalmente Salvador. Meu caráter foi formado aí. Minha mitologia é toda baiana. Eu sou um cidadão do mundo, cosmopolita, mas sou antes de tudo baiano.

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