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ENTREVISTA / ANA PAULA MATOS

“A mulher que cuida também precisa ser cuidada”

Vice-prefeita de Salvador e secretária municipal de Saúde fala sobre a importância de escutar a população

Por Divo Araújo

26/03/2023 - 15:52 h | Atualizada em 27/03/2023 - 11:26
vice-prefeita e secretária municipal da Saúde, Ana Paula Matos
vice-prefeita e secretária municipal da Saúde, Ana Paula Matos -

A vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT) conhece muito bem Salvador. Não só porque está na administração municipal desde 2013, onde exerceu os cargos de secretária de Promoção Social, de Governo e agora no comando da pasta da Saúde. Mas, sobretudo, porque gosta de estar nas ruas, conversando com as pessoas.

“São as pessoas que sabem onde estão as suas dores, que vivem nas comunidades, que nos ajudam a melhorar os estudos técnicos, científicos, os processos”, explica Ana Paula, nesta entrevista exclusiva ao jornal A TARDE. Nessas andanças, ela descobriu a importância de cuidar da mulher. “Nós, mulheres, na sororidade, na busca de cuidar do outro, quando temos oportunidades de gerirmos as políticas públicas, temos esse dever, essa obrigação”. Confira essas e outras questões que preocupam a vice-prefeita de Salvador na entrevista que segue.

Secretária, neste mês dedicado à mulher, queria tratar de uma questão que não é exclusiva de Salvador, mas é mais acentuada em cidades desiguais como a nossa, que é o grande número de famílias pobres ou mesmo extremamente pobres que são chefiadas por mulheres, muitas dessas famílias monoparentais. É uma questão que preocupa muito?

De fato é grande o número de mulheres que chefiam famílias monoparentais. Mulheres que trabalham muito, que buscam diversas alternativas para sustentarem suas famílias. Que tem muito amor pelos seus filhos, mas que vivem com extrema dificuldade. Isso, sim, me preocupa muito. Porque muitas vezes essas mulheres acabam não se alimentando para alimentar os seus filhos, não se cuidando para cuidar dos seus filhos. Não tendo um minuto para cuidar da sua própria saúde e buscando ter outras perspectivas de vida. E é por isso que as nossas políticas públicas para elas são focadas na capacitação, na educação, no empreendedorismo, na criação de novas políticas para as mulheres. Eu tenho total consciência de que a política pública mais efetiva do combate a violência contra as mulheres, do acesso às demais políticas públicas e perspectivas de melhorias de qualidade de vida é a construção da autonomia. E a construção da autonomia passa por conhecimento, por oportunidades e, sobretudo, por identificação de valores e talentos dessas mulheres e de criar estratégias para aprimorá-las . Oferecendo condições para que elas possam sustentar suas próprias famílias. Toda mulher, por mais difícil que seja a sua vida, ela é feliz quando vê os seus filhos felizes. Os seus familiares por quem ela se responsabiliza, felizes. Então, nós mulheres, na sororidade, na busca de cuidar do outro, quando temos oportunidades de gerirmos as políticas públicas ou até instituições privadas, temos esse dever, essa obrigação. Sobretudo essa inspiração, essa motivação de olhar para outras mulheres. Se é na Saúde, como a gente fez agora, é buscar fazer um dia D para as mulheres entenderem que a mulher que cuida também precisa ser cuidada. Como vou permitir que essa mulher tenha acesso a tudo que ela precisa? É investir numa educação melhor, é investir em condições melhores de vida nas suas comunidades, no saneamento público, na iluminação, na requalificação urbana, mas principalmente na autonomia. E é por isso que a gente tem via Semdec (Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda), via Fundação Cidade Mãe, Saúde, demais secretarias, a busca por essa autonomia. E, quando você pega programas como Marias na Construção, agora é premiado internacionalmente. Programas como Caravana da Mulher, que eu participei recentemente. E outros como Mãe Salvador, que você desde a passagem pra se fazer o pré-natal até todos os cuidados sócio-assistenciais e de saúde, até o enxoval quando essa família tiver filho, você está ajudando a construir essa perspectiva de uma vida melhor para essa mãe. Mas, sobretudo, é através do emprego, da qualificação profissional, da oportunidade da renda, que essa mulher consegue sair dessa realidade. A gente tem investido nisso, no microcrédito, priorizando essas mulheres e todas as políticas que priorizam as mulheres. Quando você estuda o Cadúnico, você vê que é real. Essas mulheres estão chefiando famílias monoparentais, quando muitas vezes são mães atípicas, com filhos com deficiência e os companheiros não se mantêm próximos. Ou elas acabam saindo dessa relação em função da preservação da sua própria vida, fugindo da violência contra a mulher, e da vida de seus filhos.

Como você disse, ainda tem a situação de mulheres que, nessa situação de pobreza, têm filhos portadores de deficiências e que muitas vezes, justamente por causa disso, se veem numa situação de cuidarem das famílias sozinhas. Como a senhora vê essa situação e o que fazer para ajudá-las?

É fato que muitas mulheres na nossa sociedade acabam criando, sozinhas, os seus filhos com deficiência. Muitos homens, muitos companheiros, acabam, ao longo dessa jornada, não sabendo como lidar com a complexidade, com a dificuldade de ter um filho com deficiência numa sociedade ainda não completamente inclusiva. Você tem desde dificuldades físicas, até o maior custo e o tempo que lhe é demandado, para com muito amor, compreender as necessidades de seus filhos e ajudar a provê-las. Então, sem julgamentos, mas de modo muito claro, essas mães muitas vezes acabam nos cobrando, com toda razão, o maior cuidado para elas, que são as pessoas que cuidam. E nos ajudam a crescer, enquanto instituição pública. A gente tem feito algumas dessas políticas, tanto com o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comped), quanto com a Unidade de Políticas Públicas para Pessoa com Deficiência (UPCD). Existem alguns centros, mas ainda não são suficientes. A gente precisa, enquanto sociedade, nos unir porque isso exige mudança de cultura, de valores e a construção de uma rede de apoio familiar. E rede de acesso a serviço público. Então, é um conjunto de políticas. Mas a gente está avançando, com fé em Deus, com muito trabalho e com muita escuta dessas mães.

Ainda dentro da questão da mulher, a senhora é vice-prefeita da cidade e foi candidata a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes. Hoje, no Brasil, menos de 15% dos cargos eletivos são ocupados por mulheres. O que falta para que esses espaços de poder sejam ocupados cada vez mais por mulheres?

Na condição de vice-prefeita e ex-candidata a vice-presidente, me perguntaram isso muitas vezes. Por que, em média, as mulheres ocupam 15% das cadeiras e são 52% cento da população do Brasil. E, nas minhas reflexões, eu tenho duas avaliações. A primeira é a forma que a sociedade é organizada e construída. Quem está nos espaços de poder? O presidente do banco que vai gerar o financiamento, ele é homem. O presidente da empresa, que faz suas escolhas, em sua maioria é homem. A própria estrutura de poder que se perpetua é gerida por homens. Mesmo que não seja consciente, existe uma identificação de que aquele espaço não é para mim, é do outro. E, segundo, a mulher muitas vezes está olhando a vida do coletivo e não a sua carreira. Porque ela precisa estudar, mas ao mesmo tempo cuidar da casa, da família, da igreja, do seu bairro. Ela é uma líder nata. Essa sua liderança acaba sendo exercida, no seu dia a dia, com muita naturalidade. Mas, muitas vezes, ela não enxerga por essa representatividade que eu falei um espelho. Que ela pode chegar lá. Ela, às vezes, nem enxerga o seu papel central na comunidade em que vive. Então, nós exercemos as lideranças. Eu faço trabalho social desde os 7 anos de idade. Liderei grupo de jovens, ensinei catequese e, ao longo da minha vida, nunca me enxerguei nessa perspectiva de candidata a nada. E de repente, por uma série de questões, por ter sido liderada por um homem com a visão diferente que foi ACM Neto, que me incentivou. Também por Bruno Reis, que foi meu secretário e é meu amigo, fui entendendo que era possível. Mas muitas vezes a gente não cresce naquela lógica da profissão feminina, do espaço de poder. Pensando que vou ser a governadora, a prefeita, a presidente, a parlamentar. A gente não é criada para isso. Eu só fui entender que podia ser vice-prefeita quando fui vice-prefeita. E olha que eu tenho duas graduações, duas pós-graduações e um mestrado. E sou professora e líder desde que me entendo por gente. Então, o meu entendimento é que primeiro falta, sim, essa representatividade. Segundo, a gente está tão focado em ajudar e liderar o coletivo que não acha que não precisa chegar lá para fazê-lo. Terceiro, e mais fortemente, é sim uma realidade difícil de você adentrar, até porque tem uma estrutura política que é exigida por trás de financiamento, de organização, de liderança, de você estar em alguns lugares. E você tem tanta coisa para fazer na sua casa que, às vezes, não se dá conta e não chega lá. Mas entendo que passa por discutir, demonstrar, construir e isso eu tenho feito. Falando às mulheres, mostrando os seus papéis de liderança, inclusive estimulando candidaturas e mostrando a elas que, sim, é possível. Essa é sua vontade, essa é a sua capacidade, você se enxerga nesse papel e no que você precisa do meu apoio, do nosso apoio. O PDT tem feito isso. Agora mesmo na eleição para deputado, lançamos inúmeras candidatas que já eram lideranças comunitárias, lideranças do seu segmento de atuação e que deram show nas urnas. Jovens até mulheres mais maduras. Então é possível estarmos fazendo isso no coletivo.

Você considera que as mulheres trazem um olhar diferenciado para a política?

Considero sim que nós, mulheres, trazemos um olhar diferenciado como gestora pública. Porque desde o início aprendemos a cuidar, a acolher, a educar. A sermos afetivas, ao mesmo tempo impondo limites. E a mulher tem a escuta. A mulher acolhe, escuta a dor do outro, busca construir empatia. Então, a gestão pública com o diferencial da mulher é aquela gestão pública de pessoas comprometidas, de pessoas estudiosas. Isso é fácil de provar quando você olha o número de pessoas que passa em vestibulares, nas residências, nos concursos públicos. A grande maioria são as mulheres que ocupam esse espaço. É fácil também de compreender nas lideranças familiares, dos bairros, de rede de apoio, são as mulheres muitas vezes que lideram e que constroem. Então, quando a gente leva essa experiência do estudo, do comprometimento, da dedicação pelo outro, sobretudo da escuta, a gente já constrói um caminho de uma liderança mais efetiva. De saber onde está o problema e como construir a solução no coletivo. Ao mesmo tempo, sabemos liderar, sabemos educar. Com muita dor sabemos dizer um não, porque muitas vezes é uma mãe que tem que dar o remédio para filho, levar para tomar um uma vacina, colocar para estudar, ser mais dura. Mas sabemos também dar aquele abraço acolhedor e, com muito afeto, compreender as dores e dizer meu filho ‘eu entendo, está difícil, está doendo, mas isso é para o seu bem. A mulher escuta demais e é por isso que eu compreendo que a mulher tem essa capacidade de gerir, com base no conhecimento, na informação, na escuta com muito afeto e construir os caminhos mais efetivos de políticas públicas.

Falando agora de Saúde, mas ainda com o foco na mulher. Recentemente, a prefeitura promoveu o Dia da Mulher, com uma série de serviços ofertados para esse público. Tem também o programa Mãe Salvador e o projeto de construção de uma maternidade no município. Há um foco da pasta de Saúde nas questões relacionadas às mulheres?

A mulher é tão acolhedora e muitas vezes ela cuida de si e da família que na sua própria pergunta já tem essas questões da mãe e do filho. Quando eu faço um programa Mãe Salvador, eu cuido da mulher. Eu construo condições para que o pré-natal aconteça. Mas estou cuidando da mulher que é mãe. Quando penso na maternidade municipal, estou cuidando da mulher, dando dignidade ao seu parto, mas também desse meu cidadãozinho que está vindo ao mundo. Mas, para saúde da mulher, temos questões muito complexas que precisam ser tratadas. Preciso entender essa mulher que está entrando na puberdade, essa mulher que está entrando na maturidade, nas questões hormonais, que está com alguns traços genéticos que podem indicar um câncer, que eu preciso fazer uma biópsia. Eu tenho que ver a questão da saúde reprodutiva e outras complexidades. Então a mulher requer total atenção. A pasta já tem trabalhos voltados para isso. E, pela mulher, eu trago a família. Quando eu cuido da mulher, quando tenho ações que fazem com que essa mulher venha à unidade de saúde, busquem os nossos serviços, ela vem com o seu filho, vem com seu companheiro, com sua companheira e a família vem toda. Então, cuidar da mulher é cuidar da saúde da família. A gente vai investir cada vez mais e não é à toa que hoje é uma secretária da Saúde, uma mulher que ocupa essa posição.

Sobre a construção da maternidade municipal. Já ouvi você falar em duas possibilidades: uma é aproveitar a estrutura do Hospital Salvador, fechado há pouco tempo. A outra é levantar a maternidade do chão. Como anda essa questão atualmente?

Nós estávamos com alguns estudos em andamento e, quando cheguei, propus outros. A gente buscou resolver da melhor maneira a equação de atender a um vazio assistencial e, ao mesmo tempo, ser um local de fácil acesso, porque uma mulher já grávida, perto de ter o neném, não pode ficar muito em engarrafamento. E pensando também na maior rapidez dessa construção. Hoje, todos os caminhos indicam que faremos no Hospital Salvador. Já iniciamos um processo de desapropriação, a partir do decreto de utilidade pública. Agora estamos na fase da negociação amigável, por um lado. Por outro lado, a nossa equipe técnica está fazendo os estudos na área da engenharia, da infraestrutura em si, dos cálculos estruturais e também da capacidade de equipagem desse local para saber o que é mais viável, em termos de custo, de tempo e de melhor atendimento para a cidade. O mais importante é que essa maternidade vai sair do papel da melhor maneira possível.

Falando de saúde de forma geral agora. Foram quase três anos da pandemia da Covid-19, que deixou um passivo enorme em questões de cirurgias eletivas, exames especializados. O que a Secretaria Municipal de Saúde vem fazendo para agilizar a realização desses procedimentos?

Foram praticamente três anos em que a atenção do mundo estava focada na emergência de saúde pública da pandemia. Tratamos muitas questões como a imunização, salvamos vidas. Mas isso gerou um passivo, porque a atenção primária, a prevenção não pôde ser feita como deveria. Muitas pessoas não se cuidaram na origem, isso gerou alguns adoecimentos, alguns agravos. E muitos atendimentos e exames especializados, cirurgias eletivas não foram feitas. Ao mesmo tempo, muitos profissionais migraram de área, principalmente para área da urgência e emergência porque foram necessários intensivistas. A gente precisa hoje, sim, enfrentar essa questão e estamos fazendo. Estamos fazendo em parceria com as universidades, as instituições que formam os profissionais, mostrando onde estão os gargalos de construção das soluções. Buscando financiamentos nacionais e internacionais para que a gente possa dar algum incentivo nessa tabela do SUS e que as instituições aceitem contratar com a gente porque muitas vezes você tem o recurso, você faz o chamamento e não tem o interessado. Porque a tabela SUS está muito desatualizada. Em algumas situações há o incentivo de 100% da tabela SUS por editais e portarias do Ministério da Saúde, do próprio governo do estado e da prefeitura. Mas ainda não é suficiente. Então, nós temos que buscar outra estratégia de financiamento para dar incentivos maiores, similares aos planos de saúde, por exemplo. Além disso, também estamos investindo na construção de alternativas como o hospital municipal. Desde a sua abertura até agora, ele já teve a incorporação de inúmeros serviços, como de cirurgia bariátrica, de cirurgias não invasivas na área da urologia, agora estamos colocando um tomógrafo lá. A gente tem buscado também pela formação profissional, pelo investimento financeiro, por outras alternativas de contratualizações para resolver isso. E, o mais importante, estamos organizando todo o nosso sistema de fila junto com o Estado, com o Ministério Público, os nossos profissionais. Entender essa fila regulação e fazer com que ela ande de modo mais rápido. Porque muitas vezes nós marcamos os exames, marcamos as consultas e as pessoas não vão pelos mais diversos motivos. Muitas vezes porque teve outro compromisso familiar ou profissional, inadiável ou porque o seu telefone não está atualizado. As estratégias de gestão tecnológicas estão sendo adotadas e esses gargalos serão resolvidos. Agora a questão do desenvolvimento de profissionais, isso exige um tempo maior e um trabalho do coletivo. Desde a gente fazendo uma campanha para que esses profissionais entendam a importância de trabalhar na saúde pública, até a formação de novos profissionais. Mas, sobretudo, com financiamento mais racional e mais adequado e para isso a gente tem pedido muito a colaboração do Ministério da Saúde, dos outros entes, para que a gente reveja essa questão. O prefeito esteve com a ministra da Saúde, Nízia Trindade, junto com outros prefeitos e esse foi um dos assuntos que a gente levou: a necessidade de melhor financiamento para que a gente possa avançar na saúde.

A falta de profissionais especializados em determinadas áreas médicas é um dos grandes problemas na saúde pública e privada. O que fazer para minimizar esse problema?

É, sim, um grande problema. Nós estamos investindo nessa formação, tanto no próprio município como no lançamento da Escola de Saúde Pública. Com as nossas residências, nós já formamos duas turmas de residência na urgência e na emergência, três turmas de residência na medicina de saúde da família e comunidade. Estamos também investindo em residências multidisciplinares e, sobretudo, na relação com as universidades para que essa formação aconteça. E também buscando, junto aos órgãos de controle, mecanismos para contratar esses profissionais especializados de uma maneira mais rápida e efetiva.

Menos de 60 dias após você assumir a subsecretaria de Promoção Social, em 2015, chuvas históricas deixaram 22 mortos em Salvador. Estamos novamente entrando no período que mais chove na capital baiana. Nesses quase oito anos, o que mudou na cidade para que tragédias assim não mais aconteçam?

Nesses quase oito anos, construímos uma nova Defesa Civil, com investimentos cada vez mais intensos em tecnologias de contenção de encostas, meteorológicas, identificação com mais brevidade desses fenômenos e utilização de técnicas que antecipam ações, evitando que pessoas percam suas vidas. Após aquela tragédia, a Defesa Civil de Salvador mudou o paradigma. Até então tínhamos um órgão de resposta, como em regra acontece nas outras áreas do Brasil. Naquele momento, o prefeito ACM Neto mudou o olhar da Codesal para a prevenção, agregando profissionais multidisciplinares, instituiu o Centro de Monitoramento de Alerta e Alarme da Defesa Civil de Salvador (Cemadec), com pluviômetros, estações meteorológicas e implantação de geomantas. Quando assumimos a gestão, já tínhamos uma boa estrutura, os resultados mostravam a eficácia do trabalho preventivo, e para salvar vidas, avançamos ainda mais. Ampliamos nosso parque tecnológico, contamos hoje com 14 sistemas de alerta e alarme, 74 estações pluviométricas, com mais 15 autorizadas, temos quatro estações meteorológicas, e outras cinco também autorizadas, quatro hidrológicas e 15 geotécnicas. Isso nos permite, junto ao radar meteorológico, estudarmos o que está por acontecer e o que aconteceu. E o mais importante: construímos um elo junto à comunidade. Entendemos que não adiantaria termos os equipamentos, bons profissionais, e as pessoas não saberem como se comportar. Pensando nisso, demos continuidade a programas como Nupdec (Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil), e implantamos o Nupdec Mirim e o Mobiliza, que capacitam pessoas e formam uma sociedade mais preparada para o assunto de defesa civil. No total já são quase 3000 mil pessoas capacitadas na área. Também nesse sentido, frequentemente são realizados simulados de evacuação em comunidades de áreas de risco, com objetivo de treinar moradores e equipes. Durante todo o ano, sob a liderança de Sosthenes Macedo, que faz um trabalho de grande dedicação e entrega, a equipe de Defesa Civil realiza vistorias, mapeamento de áreas de risco, ocupações, instalação de lonas, atendimento social, análise e execução de obras. Com isso, já temos 261 geomantas instaladas na cidade, e outras 26 em andamento. Na apresentação da Operação Chuva, realizada na última sexta-feira, o prefeito Bruno Reis assinou a autorização de 50 milhões de reais em serviços de contenção de encostas. Além disso, também executamos obras de macrodrenagem, com galerias, desobstrução de canais, podas de árvores e muitos outros serviços. Então, esse conjunto de ações, gerou um resultado de mais segurança e acolhimento, na perspectiva das ocorrências de chuvas. Entretanto, é importante dizer que nenhuma cidade do mundo está imune a desastres. Graças a Deus, o trabalho tem dado certo, nos últimos dois anos choveu mais do que em 2015 e não perdemos uma única vida na nossa cidade.

Você já disse que a escuta ativa e permanente é uma característica essencial para que a gestão pública dê resultados mais rápidos. Por que ouvir com atenção é tão importante?

É fundamental a escuta. Porque são as pessoas que sabem onde estão as suas dores. São as pessoas que vivem nas comunidades. São as pessoas que nos ajudam a melhorar os estudos técnicos, científicos, os processos. Nós, gestores, tomamos decisões com base nos estudos, nas estatísticas, com a ciência, mas cada um, na sua vivência pessoal, pode nos dar as informações necessárias para aprimorar essas decisões. Para que elas sejam mais efetivas no gasto do recurso público, mas também na melhoria da vida de cada pessoa. Não se faz isso sem escuta. Muito do nosso estado efetivo na pandemia, e vou falar especificamente da atuação da Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza. Por exemplo, um atendimento à população em situação de rua veio de reuniões e de solicitações deles. Ao mesmo tempo em que a gente garantia o aumento das vagas nos hotéis sociais, eles nos solicitaram lavanderia nas ruas, chuveiro nas ruas para aqueles que ainda não tinham o ambiente para aceitarem esse nosso acolhimento pudessem estar ali mais preservados. Eles nos ajudaram, junto com as universidades, a construir as políticas, os protocolos, os fluxos, a distribuição dos EPIs, as orientações, as políticas de alimentação, as políticas de construção e de autonomia. Assim estou fazendo na Saúde. Passei o sábado inteiro ouvindo as pessoas. Comecei no programa a Caravana da Mulher, depois da intervenção na chuva, e muitas vezes é a comunidade que nos diz onde está o problema. Tive a oportunidade de estar em uma comunidade, que me falou, ‘olha antes dessa construção aqui isso não acontecia’. Liguei para o órgão, que era inclusive de outro ente federativo, mas fui muito bem recebida. E disse, a comunidade está aqui, o telefone do senhor Jonas é esse, por favor, fale com ele porque vai dizer o que está acontecendo. A assistente social deste órgão ligou imediatamente e eles já estão marcando uma reunião para que a comunidade explique: “Olha, antes dessa intervenção isso não acontecia”. Você não olhou nessa perspectiva, seus estudos topográficos, os projetos básicos executivos e não viu que aqui mora uma pessoa. “A sua obra, para ser mais rápida, tem que funcionar três turnos, mas o seu refletor está entrando aqui na minha casa e está me impedindo de dormir”. “A sua máquina que trabalha 24 horas está atrapalhando a minha vida”. Essa escuta nos permite ter mais sensibilidade e mais efetividade na gestão pública. Na Saúde está sendo assim. Os fluxos estão sendo reconstruídos pela fala das pessoas. “Isso aqui na ciência, na academia é perfeito, mas na vida real se melhorar esse pouquinho aqui fica melhor ainda”. E a gente está construindo. Está dando certo e com fé em Deus vai dar mais certo ainda.

Além da escuta, você já destacou também a importância do diálogo com os outros entes federativos. Nesse sentido, pergunto: como está a relação com o governo do estado, mais especificamente com a Secretaria de Saúde, e com o novo Ministério da Saúde?

A relação está melhor a melhor possível, porque tanto o prefeito Bruno Reis, quanto eu e a nossa equipe, temos clareza de que o mais importante da nossa gestão é a melhoria da vida das pessoas, é uma gestão pública mais eficiente. Estamos numa república federativa e isso só acontece se a gente deixa de lado a política partidária como estamos deixando e buscamos ter como norte a política pública e a vida das pessoas. O próprio prefeito já esteve com a ministra da Saúde, eu estou conversado com as suas equipes, e terei a oportunidade de ir também lá, mas como o prefeito tem essa atuação nacional e tem lutado por não só por Salvador, mas por outras cidades, como vice-presidente da Federação Nacional dos Prefeitos, a gente tem evitado se ausentar ao mesmo tempo da cidade. E ele tem feito mais esse papel representativo e nos liderando muito bem nisso. Em que pese esta semana esteja indo para Brasília para também fazer esse papel. E no âmbito estadual estou com excelente relação com a secretária de Saúde Roberta Carvalho, com toda a sua equipe. Nós temos discutido, juntas, políticas de melhoria da regulação, tenho pautado os nossos problemas. Ela também tem pautado questões que podemos melhorar em conjunto. Agora mesmo estamos buscando estratégias para ter mais eficácia no aumento do número de pessoas vacinadas com a bivalente. O diálogo está sendo o melhor possível. Os palanques estão desarmados e a construção técnica e política de uma saúde mais eficiente e focada na prevenção está acontecendo.

Para concluir, falando um pouco de política. Acabamos de sair de uma eleição, mas o fato é que já temos outra na porta, a eleição municipal do próximo ano. A senhora espera repetir a “dobradinha” com o prefeito Bruno Reis no próximo pleito?

Sou uma professora, advogada, administradora, concursada da Petrobras, que nunca teve aspirações políticas, que se filiou no mesmo ano em que se candidatou e se tornou vice- prefeita da cidade, em 2020, e nesse pouco tempo teve grandes oportunidades de representação, inclusive nacional, como candidata a vice-presidente de Ciro Gomes. Eu sou uma pessoa que entrego a minha vida a Deus, compreendo que com a orientação e permissão dele, mas também com muito estudo e trabalho, a gente cresce. Não esperava ocupar essa posição, mas aonde vou escuto das mulheres, senhoras, jovens, meninas, as seguintes frases: “Você me representa”, “Que bom que você está aí”, “Se você pode eu também posso”. Então não seria correto com essas mulheres eu abrir mão dessa posição de representatividade que elas, com muito carinho, estão me possibilitando ter. O prefeito fala muito bem que ano de política não é 2023, é o ano que vem. Concordo, e nesse momento o que posso dizer é que vou continuar trabalhando muito, me dedicando a ser a melhor profissional e pessoa que eu puder. Nessa perspectiva, eu entrego a Deus, ao povo de Salvador, ao prefeito, a minha coligação, ao meu partido, essa possibilidade de repetir a dobradinha com Bruno Reis. Se Deus continuar entendendo que esse é o meu papel, a história poderá me manter nessa posição. Não escolherei sair, nem abrir mão, porque represento mulheres. Estou sentada na cadeira, estou trabalhando pelas pessoas que mais precisam e pelo trabalho, com respeito e com a permissão de Deus, estarei nessa dobradinha. Mas isso é a história que vai mostrar, e ainda temos um grande caminho a percorrer. Represento as mulheres, e não seria apenas a minha história, mas a história de uma coletividade. Estou à disposição, aqui, pronta, e vou buscar me preparar mais ainda pelo trabalho, dedicação, escuta e respeito às pessoas.

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