DAQUI A 3 DIAS
Ambulantes 'penam' na fila de cadastramento para Festa de Iemanjá
Trabalhadores acampam para tentar garantir vaga na tradicional festa popular de Salvador
Por Lucas Franco e Thiago Conceição
As longas filas para o cadastramento de ambulantes que desejam trabalhar na Festa de Iemanjá, que acontece no dia 2 de fevereiro, são marcadas por discursos de revolta e pedidos por "dignidade". O cenário é flagrado por A TARDE nesta segunda-feira (30).
A maior parte dos ambulantes que estão na frente Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), na Mata Escura, passaram a madrugada acampados para a realização dos cadastros.
A Rita de Cássia Melo, 47,ambulante há 23 anos, está acampando embaixo de um viaduto próximo da Semop. Ela mostra indignação com a situação de espera e falta de resposta sobre a situação.
"Estou acampada para tentar garantir o trabalho nas festas, no Carnaval. A gente tem família para criar. Tenho meu companheiro, minha filha, neto. E não podemos voltar para casa sem o pão de cada dia. O certo era pensar alternativas como um carnê, algo para evitar esse constrangimento", disse Rita.
A trabalhadora Sueli Santos, 40, desde criança atua como ambulante na capital baiana. Ela recorda que sempre participou de festas populares, em regiões como a Praça da Sé e o Rio Vermelho. Ela define o cenário como humilhante.
"É humilhação demais. Sempre trabalhei como ambiente. E a principal renda da casa é daqui. Moro com o meu marido e duas filhas, uma adulta e outra criança, que precisam de mim e do trabalho nas festas", desabafou Sueli.
A Ouvidoria da Câmara Municipal de Salvador (CMS), que tem à frente o vereador Augusto Vasconcelos (PCdoB), enviou para o Secretário Municipal de Ordem Pública (SEMOP), Luciano Ribeiro, um Ofício (nº 17/2023) exigindo respostas sobre a situação das longas filas que os trabalhadores precisam enfrentar para a atuação nas festas populares da capital baiana. O documento foi enviado pela pasta no último dia 23.
"Essa questão das filas de cadastramento de ambulantes precisa ser resolvida com planejamento. São famílias inteiras que enfrentam péssimas condições, dormindo nas ruas para conseguir uma vaga. Como Ouvidor-Geral da Câmara solicitei informações da Prefeitura e pedi a apresentação de estudos para encontrar uma solução que garanta dignidade para esses trabalhadores. Salvador é uma cidade com muitas pessoas desempregadas, o que aumenta a procura pelo trabalho informal, mas não é possível que todo ano a cena se repita", disse ouvidor Augusto Vasconcelos, em entrevista para o Portal A TARDE.
O prefeito Bruno Reis (União Brasil) disse que as pessoas que estão nas filas para o credenciamentos precisam retornar para as suas casas e seguir os protocolos que são disponibilizados pela Prefeitura, que tem estrutura para a organização online dos dados daqueles que irão trabalhar nas festas da capital baiana.
"Não adianta ficar acampado, não vai ser através da pressão [ que o problema será resolvido]. Hoje foi lançado um processo para o credenciamento da Festa do Rio Vermelho, dia 2. Nós ainda vamos lançar o credenciamento para o Carnaval. Aqueles que têm dificuldade de acessar os meios tecnológicos, a Prefeitura oferece o suporte e o amparo. Agora, não vai ser assim que vamos resolver o problema. É com diálogo. É o mesmo critério [de 2018, 2019]. Mas é preciso explicar que pessoas de fora de Salvador não vão driblar o procedimento padrão de todos os anos. A gente pede que as pessoas voltem para as suas casas. Aqueles que tiveram dificuldade no online, nós vamos ajudar”, disse Bruno Reis, em coletiva nesta segunda-feira (30).
A reportagem de A TARDE fez contato com a Semop, mas até o momento não recebeu informações sobre a situação da fila dos ambulantes.
Após a inscrição, os ambulantes ainda precisam fazer o pagamento do DAM, que varia de R$25,06 para tabuleiro de baiana, e R$35,47 para isopor de bebidas, podendo chegar até R$451,13 para food trucks acima de 10 metros de comprimento.
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