SANEAMENTO BÁSICO
BRT leva risco ao esgotamento sanitário de Salvador, diz Embasa
Embasa afirma que obras do trecho 2 do BRT podem comprometer manutenção no sistema de saneamento
Por Lula Bonfim
A Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento) emitiu uma nota técnica, assinada por engenheiros e pela equipe especializada da estatal, afirmando que as obras do trecho 2 do BRT podem gerar riscos incontornáveis ao sistema de esgotamento sanitário de Salvador, que estaria concentrado na região da Lucaia, entre as avenidas Juracy Magalhães e Vasco da Gama.
O portal A TARDE teve acesso aos documentos que foram emitidos pela diretoria de operações da Região Metropolitana de Salvador da empresa pública, que alerta sobre o problema. As sustentações de alguns viadutos do BRT estariam a 0,4 centímetros de distância da tubulação do esgotamento sanitário da cidade, impossibilitando manutenções que podem ser necessárias.
Segundo a Embasa, em alguns casos, devido à proximidade das vigas de sustentação, seria necessário desmanchar algum viaduto do BRT para realizar possíveis reparos na tubulação do sistema de esgotamento sanitário da cidade.
Em entrevista ao programa Isso É Bahia, da rádio A TARDE FM, o vereador Augusto Vasconcellos (PCdoB), ouvidor-geral da Câmara Municipal de Salvador, comentou o tema e fez críticas à prefeitura do município.
“O que a Embasa está apontando é que qualquer eventual dano à tubulação de esgotamento sanitário de Salvador — diga-se de passagem, 70% do esgoto sanitário da cidade passa pelas imediações do Lucaia —, terá muitas dificuldades ou até impossibilidade de fazer a manutenção, de fazer o reparo”, relatou o vereador.
Na avaliação de Augusto, a prefeitura desrespeitou e atropelou um diálogo que foi construído com a Embasa no início das obras do BRT, que teria sido defendido pela gestão municipal devido a uma “rivalidade” com o governo do estado, responsável pelo metrô da cidade.
“Além dos graves problemas ambientais que a obra do BRT trouxe, eu passei agora pelo BRT e não vi ninguém. É uma obra praticamente fantasma. As pessoas não estão usando o BRT, exatamente pela falta de utilidade. Nós tínhamos outras opções inclusive, de fazer interligação com o metrô, mas em uma certa rivalidade em torno de obras, a prefeitura faz a opção de fazer uma obra muito custosa, de uma estrutura que está sendo inutilizada em outras cidades brasileiras e do mundo. Uma obra cara e com pouco fluxo de passageiros”, criticou Vasconcellos.
No documento, a Embasa afirma que, caso haja uma ruptura da tubulação na região da Lucaia, pode haver um aumento do nível de contaminação na orla de Salvador, provocando graves prejuízos ambientais.
“Isso é estarrecedor, porque isso deveria ter sido observado antes da obra. Me parece que, com os apontamentos que a Embasa fez e as sugestões que foram feitas de adaptação da obra para não gerar esse comprometimento, como elas talvez encarecessem o projeto original, não foram observadas e foram atropeladas”, avaliou o vereador.
Em sua nota técnica, a Embasa também diz que tem mantido contato com a prefeitura de Salvador para resolver os problemas, mas que não foram atendidos da maneira adequada.
“A Embasa vem, desde então, tentando promover diálogo junto a Prefeitura de Salvador a fim de alertar e propor soluções para minimizar os impactos operacionais causados pela obra, uma vez as estruturas do BRT estão sendo construídas em cima dos interceptores de esgoto, impossibilitando o acesso às tubulações para limpeza e eventuais reparos, além de promover riscos as próprias estruturas do BRT em casos de quebramentos, que devido às estruturas de concreto só poderão vir a ser identificados tardiamente”, diz o documento.
“Diante do cenário narrado e demonstrado, fica constatado que a Prefeitura de Salvador deliberadamente ocupou a faixa de servidão do interceptor sem a discussão e anuência da Embasa. Todas as tratativas realizadas não serviram para nenhuma modificação da concepção proposta, prestaram-se apenas a comunicar a Embasa sobre detalhes de projeto”, reclamou a estatal.
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