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Mais de 100 cidades devem recorrer à Justiça contra perda de receita

Diminuição da população local apontada pelo IBGE afeta acesso a recursos do Fundo Participativo dos Municípios

Publicado quinta-feira, 05 de janeiro de 2023 às 13:54 h | Atualizado em 05/01/2023, 16:47 | Autor: Dante Nascimento
Durante reunião, a UPB distribuiu modelo de ação judicial a ser utilizada pelas prefeituras
Durante reunião, a UPB distribuiu modelo de ação judicial a ser utilizada pelas prefeituras -

Mais de 100 prefeitos da Bahia ameaçam ingressar com ação na Justiça nos próximos dias para não perderem recursos do FPM (Fundo de Participação dos Municípios). O depósito será feito dia 10. Eles pretendem acionar a União e o IBGE (Instituto de Geografia e Estatística) por causa dos dados preliminares do Censo, que, segundo a UPB (União dos Municípios da Bahia), indicam redução da população nas cidades. A quantidade de habitantes é critério utilizado para divisão da receita e, em dezembro, novos coeficientes foram aprovados pelo TCU (Tribunal de Contas da União).  

A UPB promoveu uma reunião nesta quarta-feira e distribuiu um modelo de ação judicial que deve servir como base para as prefeituras afetadas. A entidade entende que a decisão do TCU fere a Lei Complementar 165, que congelou os coeficientes até que um novo Censo Populacional fosse concluído, o que só deve ocorrer em fevereiro.

A UPB alega que 80% das cidades dependem quase exclusivamente da receita do Fundo e a perda de recursos “impacta diretamente na prestação de serviços à população e na manutenção de compromissos já assumidos com a contratação de pessoal e fornecedores”.

A prefeitura de Várzea da Roça, por exemplo, calcula uma redução de R$ 500 mil por mês. “Isso é o que mantém o hospital aberto com receita própria. O Jurídico da UPB está nos dando todo o suporte, em contato com o jurídico do município, para reunir todos os dados de comprovação, entrar com uma ação e ver se a gente consegue reverter essa situação. Não há justificativa para uma perda tão grande”, afirmou Danilo Salles, prefeito da cidade.

No dia 28 de dezembro, como determina a legislação, o IBGE enviou ao TCU a prévia da população do Brasil, das unidades da Federação e dos municípios. A UPB disse que “apenas 83% dos domicílios foram recenseados” na Bahia e criticou o uso desses dados pelo Tribunal de Contas da União. Em entrevista ao A TARDE, o vice-presidente da entidade, e prefeito de Belo Campo, Quinho, duvidou das informações coletadas até o momento.

“Vai de encontro ao que a gente acredita, né? A maioria dos municípios não concluiu ainda o Censo e eles [TCU] estão aceitando uma estimativa. Vejo com muita preocupação, uma catástrofe para 101 municípios. Nós estamos na luta, tentando viabilizar possibilidade de minimizar essas questões”.  

De acordo com Quinho, é necessária a conclusão da pesquisa para se tomar qualquer decisão. “Não faz sentido já para o próximo dia 10, os municípios terem perdas de arrecadação, sendo que o Censo não foi concluso. Nós fazemos um apelo ao TCU, ao ministro que é baiano, Ministro Bruno [Bruno Dantas, presidente do Tribunal de Contas da União], que não considere essa estimativa”.

IBGE recenseou 89,9% da população prevista  

Diante das informações apresentadas pela UPB, a reportagem de A TARDE procurou o IBGE. O Instituto informou que 196 municípios baianos tiveram redução na sua população, quando comparada a prévia da população do Censo 2022, divulgada em 28 de dezembro, com o Censo 2010, último a ser feito, mas que esse fenômeno não implica, em todos os casos, em perda de receita. 

O Instituto diz ainda que já recenseou o equivalente a 89,9% da população atualmente prevista para a Bahia, que é de 14.659.023 pessoas, e que também já coletou dados em 26% a mais de domicílios do que o previsto inicialmente.

Segundo o IBGE, 160 municípios no estado estão com 100% dos setores censitários concluídos (38,4% do total de 417 municípios). Outros 50 têm pelo menos 95% dos setores concluídos (12,0%). Outros 207 municípios (49,6% do total) têm menos de 95,0% do setores censitários (ou áreas de trabalho) coletados. 

Além da coleta em si, o Instituto diz que os trabalhos de  supervisão, controle de qualidade e eventuais revisões ainda podem ser realizados em todos os municípios até o fim do mês de janeiro.

O IBGE ainda disse que as prefeituras podem “contestar os dados diretamente ao TCU, no prazo de 30 dias a partir de 30/12, protocolando contestações nas Secretarias do Tribunal de Contas da União nos estados ou na Sede do TCU” ou diretamente ao IBGE, sem limite de tempo, por meio do e-mail [email protected].

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