BAHIA
Prévia do G20 em Salvador destaca papel da cultura na crise climática
Abertura do evento se deu na manhã desta segunda-feira, 4, no Centro de Convenções
A última reunião do Grupo de Trabalho (GT) da Cultura do G20 (cúpula dos 20 países mais ricos do mundo) foi aberta, nesta segunda-feira, 4, em Salvador, com a realização de um seminário que relacionou aspectos culturais com o combate às mudanças climáticas. O encontro se deu no Centro de Convenções municipal, com as participações do governador Jerônimo Rodrigues (PT); do secretário municipal da Cultura e do Turismo, Pedro Tourinho; além das ministras da Cultura, Margareth Menezes; do Meio Ambiente, Marina Silva; e dos Povos Originários, Sônia Guajajara.
No seminário, os participantes exaltaram a Cultura como um importante fator de transformação da sociedade, com potencial para impactar na defesa do meio ambiente e no combate às mudanças climáticas.
Representando o prefeito Bruno Reis (União Brasil) no encontro, Tourinho afirmou que é através da cultura que as pessoas conseguem formular suas questões identitárias e, a partir delas, se relacionar com o mundo.
“A grande questão das diferenças, das dificuldades que nós temos em todo o planeta hoje de chegar a consensos, é a insegurança de quem somos. Então a educação intercultural é uma ferramenta fundamental para que a gente consiga ter um mundo mais pacífico, em que as trocas sejam possíveis e que os diferentes sejam respeitados. A gente só respeita o diferente quando a gente se respeita”, afirmou o secretário municipal.
Pedro Tourinho ainda lembrou os 50 anos do bloco afro Ilê Aiyê, comemorados na última sexta-feira, 1º, apontando que a instituição serve de referência para o mundo, no sentido de reforçar o orgulho das origens culturais.
“O Ilê Aiyê nos ensina a ter orgulho de ser quem somos. Então, que o G20 e as delegações que estão aqui presentes vivam nossa cidade e aproveitem essa oportunidade, para entender e ver como é importante ter orgulho de ser quem é, de respeitar as diferenças e de fortalecer nossas identidades”, concluiu Tourinho.
A ministra Sônia Guajajara falou da sua experiência como liderança indígena e sinalizou que a Cultura tem o poder de mobilizar as pessoas para o ativismo socioambiental, diminuindo o impacto das ações humanas no planeta.
“É exatamente a Cultura que faz a gente fazer esse enfrentamento, de impedir a destruição de todo o patrimônio arqueológico e memorial, que faz a gente resistir, para que a gente possa manter nossos modos de vida. Juntar esse tema aqui, mudanças climáticas e cultura, tem tudo a ver para a gente fazer esse enfrentamento mundial”, defendeu a ministra dos Povos Originários.
Tripé de soluções
Marina Silva, que participou do seminário através de videoconferência, identificou três grandes problemas no mundo e apontou quais seriam as três soluções ideais para essas questões.
“É uma tríplice crise: a crise social, com bilhões de pessoas excluídas no mundo inteiro; a crise climática, que está ameaçando o futuro da vida do planeta; e a crise ambiental, que se configura na extinção ou na ameaçada de extinção de milhares e milhares de espécies, bem como em processos abrangentes de desertificação, sem condição de dar vida a si mesma ou a outras formas de vida”, avaliou a ministra, diretamente de seu gabinete em Brasília.
“Esse desafio tem a ver com um tripé inseparável: a proteção das bases materiais da nossa existência, a restauração daquilo que nós já destruímos e o uso sustentável daquilo que temos. Portanto, proteção, restauração e uso com sabedoria dos recursos naturais é o que constitui a base da nossa existência, seja ela material ou simbólica, sem a qual não há como pensar em cultura, riqueza ou absolutamente nada”, acrescentou Marina.
A baiana Margareth Menezes falou em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), garantindo que a Cultura é vista pela gestão federal como fundamental à luta contra as mudanças climáticas.
“Nós, do Ministério da Cultura, do governo do presidente Lula, acreditamos que a Cultura deve ser considerada em todo o seu potencial nas discussões sobre mudanças climáticas. Somente poderemos realizar justiça social e justiça climática se compreendermos que o meio ambiente, a natureza, a fauna e a flora, são parte indissociáveis de nós, seres humanos. Afinal, somos todos natureza. O momento é agora e é muito urgente”, argumentou Margareth.
Luxo americano
Encerrando o seminário, o governador Jerônimo Rodrigues cutucou os Estados Unidos, apontando que o país mais poderoso do mundo não se compromete com as metas climáticas porque não deseja abrir mão de parte de seus ganhos econômicos. Ao mesmo tempo, o gestor estadual disse que o Brasil está assumindo essa responsabilidade e deseja ter a companhia de outras nações.
“É preciso saber se os norte-americanos estão dispostos a fazer isso, a abrir mão do luxo. E nós sabemos da nossa responsabilidade como produtor de alimentos. Os chineses, os indianos, os asiáticos, não têm o que nós temos: os biomas. E nós queremos produzir para matar a fome do mundo, mas nós queremos também igualdade na responsabilidade da manutenção das nossas florestas, dos nossos rios, dos nossos povos, indígenas, quilombolas”, discursou Jerônimo.
“O Brasil está disposto a escrever essa cartilha, a reescrever as nossas ações. É momento da gente, tranquilamente, lançar mão de um conjunto de ações, mas também colocarmos na mesa a responsabilidade do mundo inteiro”, continuou o governador.
Ao final, Jerônimo aproveitou para dar as boas-vindas a todas as lideranças internacionais que desembarcaram em Salvador, mas também às ministras. O governador citou divindades do candomblé e do jarê ao desejar positividades às autoridades.
“Bem-vindos e bem-vindas à Bahia, a Salvador e ao Brasil. Nesta semana, Salvador, na Bahia, é a capital do Brasil e do mundo em temas tão importantes. Ministra Margareth, que os orixás lhe protejam e deem forças. E a senhora Guajajara e Marina, que os encantados possam continuar abençoando a gente. Boas-vindas e boa sorte para a gente”, concluiu.
O GT da Cultura segue se reunindo em Salvador diariamente até a próxima sexta-feira, 8, com uma programação extensa. Nesta terça, 5, o local principal dos seminários seguirá sendo o Centro de Convenções. Já na quarta, 6, e na quinta, 7, o ponto de encontro mudará para o Museu de Arte da Bahia (MAB), localizado no Corredor da Vitória.
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