ELEIÇÕES NA BAHIA
Maior desafio será realinhar MDB à base, diz cientista político
Anúncio de chapa para o governo e janela partidária movimentam fim do mês de março na política baiana
O cientista político e colunista do A Tarde, Claúdio André, avalia que a reaproximação do PT com o MDB ao escolher o presidente da Câmara de Salvador, Geraldo Jr, como vice na chapa de Jerônimo Rodrigues surge com a necessidade de ocupar o espaço deixado pelo PP. “A atração do MDB ocorre como uma espécie de ‘reposição de estoque’ no espaço político deixado pelo Progressistas (PP) ao sair do governo. O primeiro não possui o tamanho eleitoral do segundo, mas é a aquisição de um partido com muitos diretórios e lideranças políticas na Bahia, assim como verba de fundo partidário e eleitoral”.
Em entrevista à TV Itapoan, o governador confirmou a reaproximação com o MDB baiano, com quem o PT da Bahia volta a se aliar após a ruptura com o vice-governador João Leão (PP) e o desembarque do apoio progressista no pleito de outubro, que acabou por embarcar na candidatura de ACM Neto (UB).
Até as eleições municipais de 2020, PT e MDB estiveram em campos opostos em cidades de grande importância no cenário estadual. “O maior desafio da aliança a curto prazo é realinhar o partido a base governista do PT, já que ele foi nas últimas eleições um ferrenho opositor aos petistas, vide as eleições de Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista, os três maiores colégios eleitorais do estado”, avaliou o cientista.
“Teremos um Geraldo na vice-presidência e um na vice-governadoria”, disse Rui durante a entrevista ao se referir ao time de "Geraldos" do seu partido, fazendo alusão ao nome do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), que será o vice na chapa presidencial do ex-presidente Lula (PT).
O Novo Rui
Durante a entrevista também, o governador brincou dizendo que “Jerônimo é o novo Rui”. Ele disse isso para argumentar a respeito da falta de experiência do secretário de Educação em cargos eletivos. “Eu disse que ia ganhar a eleição e ganhei no primeiro turno. Jerônimo é a mesma coisa. Nós vamos apresentar ele. Se eu fiz muito sem o apoio do ex-presidente, ele pode fazer muito mais dando as mãos ao Lula", disse o chefe do Executivo estadual ao tentar minimizar o desconhecimento de Jerônimo Rodrigues com o eleitorado.
Na análise de Cláudio André de Souza, contudo, a prática pode ser mais complicada no atual contexto para o PT conseguir dar continuidade à sua hegemonia do comando do estado. “Não podemos comparar Rui a Jerônimo, já que possuem carreiras políticas distintas, sendo que o primeiro foi preparado para suceder Wagner e o segundo foi o ‘Plano C’ do PT e nunca disputou uma eleição, tornando a sua pré-candidatura ainda mais desafiadora, o que requerá mais coesão do grupo e uma maior presença de Lula na Bahia do ponto de vista de agenda e mobilização da militância. A sua presença será determinante para o sucesso dos petistas no estado”.
A vida da oposição não deve ser fácil diante do enfrentamento de um nome ainda desconhecido pelo eleitorado baiano. O “fator Lula” pode diminuir a resistência ao nome de Jerônimo e pode complicar a vida da candidatura de Neto, ainda que apareça nas pesquisas de intenção de votos com vantagem diante do candidato petista.
“A liderança de ACM Neto nas pesquisas decorre de uma pré-campanha exitosa desde o final do seu mandato em 2020, quando anunciou a disposição de concorrer ao governo do estado, passando a organizar o campo da oposição, visitando a maioria dos grandes e médios municípios baianos. Além disso, é um nome conhecido, mas frágil diante da iminente ausência de um palanque unificado na esfera nacional, além do fato que Lula tem sido nas últimas três décadas a maior liderança eleitoral na Bahia”, disse o cientista político.
Janela partidária
Outro ponto que movimentou o campo político da Bahia no mês de março foi o "troca-troca" de partidos durante o período da “janela partidária”, que segue aberta até o próximo dia 02. Chamou a atenção o esvaziamento do PDT na Assembleia Legislativa da Bahia. Com a confirmação do apoio do partido à chapa de ACM Neto (UB), os três deputados da sigla em exercício na Casa resolveram buscar novas legendas para apoiarem a candidatura governista. É o caso do deputado estadual Euclides Fernandes que saiu do PDT e se filiou ao PT nesta quarta-feira, 30. Além disso, prefeitos do PP trocaram de legenda para seguir no apoio ao governo.
Até o fim do prazo da “janela” nos próximos dias, muita coisa pode acontecer, é o que prevê Cláudio André de Souza. “Em especial, o caso do PP que fora para o campo da oposição e o MDB, se tornando um novo satélite governista no estado. Ainda assim, tem a situação do PV, que passará a compor a federação partidária nacional com PT e PCdoB, mas na Bahia esteve com ACM Neto desde 2012”.
A definição do vice do principal candidato da oposição pode ajudar a frear o desembarque de apoios à candidatura de Neto. “A pré-campanha de ACM Neto precisará monitorar o nível de fidelidade da oposição com um mapeamento político minucioso, o que requerá uma articulação veloz para manter a coesão do grupo, o que passa, obviamente, pelo anúncio da sua chapa nos próximos dias”, aponta Souza.
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