POLÍTICA
Bolsonaro leva Brasil rumo ao fascismo, afirma ex-presidente Fernando Collor
Por Bruno Luiz

O ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor (Pros-AL) avalia que Jair Bolsonaro tem colocado o país nos trilhos do fascismo. Para o parlamentar alagoano, que governou o país entre 1990 e 1992, quando teve o mandato abreviado por processo de impeachment, o atual presidente tem protagonizado e engendrado uma escalada autoritária com táticas que se assemelham ao regime ditatorial do qual Benito Mussolini se tornou o principal símbolo, implementado na Itália entre as décadas de 20 e 40 do século passado. Na ótica de Collor, não é possível mais normalizar atitudes e declarações de Bolsonaro contra os Poderes, sobretudo o Judiciário, e é preciso que o Legislativo atue como moderador para aliviar as tensões institucionais.
Em entrevista ao “A TARDE Conecta”, nas redes sociais do Grupo A TARDE, o ex-presidente citou como exemplos da aproximação de Bolsonaro com o fascismo a participação do presidente em atos contra a democracia e a recente fala de que não aceitaria mais ações do Supremo Tribunal Federal (STF) contra apoiadores seus. Na quinta, 28, ao comentar a operação da Polícia Federal contra aliados acusados de participação em esquema de disseminação de fake news, ordenada pela Corte, o chefe do Executivo disse, em tom de ameaça, que “não teremos outro dia como ontem, chega”. Já seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, acenou para a ruptura institucional. “Não é mais uma opinião de se, mas de quando ocorrerá momento de ruptura”, afirmou em live na quarta, 27.
“Isso é próprio de uma caminhada rumo ao regime fascista. Não podemos relativizar isso. ‘Ah, vamos colocar pano quente aqui e acolá, deixa passar o fim de semana, na segunda vai ser diferente’. Aí chega outro fim de semana, mais uma aglomeração, mais um pronunciamento, mais um desrespeito às leis da ciência, às leis do Distrito Federal que obrigam uso da máscara. Ele não usa máscara. Já chega. São um ano e quatro meses de conflitos sendo gestados dentro do Poder Executivo. Temos que começar a levar essas atitudes do presidente a sério”, conclamou Collor.
“Vindo do chefe do Executivo uma declaração contundente de que ordens do Judiciário, e, principalmente, ordens do STF não devem ser cumpridas se atingem seu entorno, é muito preocupante. Decisão do Poder Judiciário não se discute, se cumpre. Você debate pelos canais institucionais que a Constituição nos dá. Há recursos para isso”, defendeu.
Ainda segundo o senador, o fato de Bolsonaro não ter vindo a público criticar as declarações do filho sobre ruptura e também punição a ministros do Supremo é indicativo de que o presidente compartilha da mesma opinião autoritária.
“Sabendo que são os filhos, a família do presidente que coordena ações e reações do presidente é algo preocupante ver que um filho dele dê esta manifestação sem seu conhecimento ou que, depois dessa manifestação, ele não repreenda o filho. Quando ele não repreende, quem cala consente, dá o sinal de que ele compartilha da mesma opinião.”
Collor apontou, ainda, que Bolsonaro faz reiteradas “ameaças veladas” contra a democracia ao participar de atos que pedem fechamento do Congresso e do STF.
“Ele participa de aglomerações, desrespeitando as indicações científicas, em que são abertas faixas pedindo AI-5, volta da Ditadura Militar. A participação dele, ficar silente perante essas faixas, indica que ele está apoiando essas manifestações. Ele tinha que se manifestar contrário, mandar retirar essas faixas, não se aproximar delas para demonstrar respeito às instituições e à democracia”, criticou.
O ex-presidente convocou o Legislativo a colocar freio nas atitudes de Bolsonaro e mediar o conflito entre Executivo e Judiciário para evitar uma conflagração ainda mais perigosa. “Vejo em gestação avançada um conflito institucional de proporções inimagináveis.”.
Questionado sobre se o fato de o ministro Celso de Mello ter enviado ao Procurador-Geral da República (PGR) pedido de partidos para apreender o celular de Bolsonaro, algo criticado pelo ministro do Gabinete Institucional general Augusto Heleno e o ministro da Defesa, que cuida das forças militares brasileiras, Collor afirmou não ter visto nenhuma extrapolação das atribuições do STF.
“Qualquer solicitação que se recebe o ministro abre vistas à Procuradoria-Geral da República. Isso é praxe, natural. Recebeu, manda para a PGR. É incontinente, tem nem o que pensar. Aí o presidente se insurge. Isso faz parte do jogo democrático. Não há nenhuma atitude contrária à figura do presidente, que acha que, por ser presidente, é inatacável, é inalcançável.”
Impeachment
Apesar das críticas e do crescente cenário de insegurança institucional patrocinado por Bolsonaro, Collor acredita que não é momento para impeachment. Ele alertou que este instrumento não pode ser banalizado, em alusão ao afastamento dele e da presidente Dilma Rousseff, em 2016.
“Não é o caso de se falar impeachment com uma pandemia desta gravidade entre nós. É lamentável que um instrumento dessa gravidade [impeachment] tenha sido vulgarizado. Em qualquer momento de maior gravidade, fala-se em impeachment. Não é assim”, defendeu.
Centrão
Apesar de apontar contradição na aproximação entre Bolsonaro e o Centrão, Collor avaliou que o movimento é acertado. De acordo com ele, se o presidente não buscar construir base política no Congresso Nacional, não chegará ao fim do mandato.
“Há uma contradição [na aproximação entre Bolsonaro e o Centrão], mas essa contradição precisa ser explicada. No caso do presidente, é absolutamente necessária. Se ele está entrando em contato com partidos para formação de base, todos estão ali em função de deputados eleitos pelo voto popular. É necessário que se faça esse entendimento com todos os partidos, desde que ele seja feito às claras, com participação e escrutínio da mídia e de todos nós, que queremos saber o que está acontecendo”, ponderou.
Paulo Guedes X intervenção estatal
Indagado pelo apresentador Osvaldo Lyra se o ministro da Economia, Paulo Guedes, teria planos para retirar o Brasil da crise econômica que acontecerá no pós-pandemia, Collor avaliou que a concepção de Guedes, de que o Estado não deve intervir na economia, vai contra o remédio necessário para debelar o problema.
“Precisaremos de um estado de linha keynesiana, de participação intensa do estado na sociedade. A linha do ministro Paulo Guedes é do ajuste fiscal. Acontece que somos vítimas de uma pandemia, com consequências terríveis para nossa população mais pobre aqui no Brasil. Cabe ao estado fazer chegar à ponta da linha os recursos para minimizar os impactos dessa pandemia nas pessoas mais pobres”, defendeu.
Imprensa
O ex-presidente ainda defendeu que Bolsonaro não pode continuar atacando a imprensa porque “isso é conspirar contra a democracia”.
“A imprensa tem que ser livre. A pessoa não pode querer uma imprensa que elogie seus atos todos os dias. Se seus atos seus desabonadores, eles precisam ser denunciados. Nada melhor do que uma imprensa livre para guiar nossos mandatos, até para corrigir equívocos do nosso mandato. Essas ameaças de que vai cortar publicidade, de que não vai renovar concessão, são ameaças veladas à liberdade de expressão, à imprensa livre.”
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