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ENTREVISTA/ JOSÉ GOMES DA COSTA

“O crescimento da economia vai surpreender em 2022"

Superintendente do Banco do Nordeste da Brasil diz que instituição está "pronta para a grande retomada"

Por Osvaldo Lyra

06/03/2022 - 18:38 h
Superintendente do Banco do Nordeste, José Gomes da Costa
Superintendente do Banco do Nordeste, José Gomes da Costa -

À frente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) desde janeiro, o baiano José Gomes da Costa diz que a maior fortaleza do banco “está na sua importância para a sociedade nordestina”. De acordo com ele, são “mais de R$ 41 bilhões alocados todos os anos no crédito produtivo, gerador de emprego e renda”. Em entrevista exclusiva ao A TARDE, José Gomes diz que “o BNB é um legado da sociedade do Nordeste” e que a “maior fortaleza do BNB está na sua importância para o nordestino”. Ao afirmar que o crescimento da economia vai surpreender esse ano, o dirigente diz que estão “prontos para a grande retomada” . E finaliza fazendo um alerta: “Quem não for ágil e não tiver melhores taxas vai perder mercado“. Confira.

Funcionário de carreira do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) há 38 anos, o senhor assumiu recentemente o comando da instituição. Que avaliação faz do banco hoje?

O banco está muito forte. Acabou de divulgar os resultados do exercício de 2021 em que realizou lucro recorde de mais de R$ 1,6 bi, cerca de 60% superior ao exercício anterior. Mas a maior fortaleza do BNB está na sua importância para a sociedade nordestina. São mais de R$ 41 bilhões alocados todos os anos no crédito produtivo, gerador de emprego e renda. Destes, mais de metade voltados para os micro e pequenos empreendedores. Esse ano comemoramos 70 anos de uma bela história de relacionamento com povo do Nordeste e estamos preparados para viver vários 70 anos nessa profícua relação.

O BNB é o maior banco de desenvolvimento regional da América Latina e tem a missão de atuar como banco de desenvolvimento da região Nordeste. Como tem sido a movimentação junto aos nordestinos?

É uma relação de amor recíproco com os nordestinos. É o banco mais querido e mais lembrado em qualquer pesquisa de avaliação. Costumo dizer que o BNB é um legado da sociedade do Nordeste. Acho que nossa face mais marcante nesse movimento está na relação com os microempreendedores, principalmente aqueles do setor informal atendidos pelo Crediamigo. São cerca de 2,5 milhões de família que utilizam o BNB como alavanca para a geração da renda do seu sustento. São mais de R$ 12 bilhões todo ano destinados a esse público que nos ajuda a protagonizar a maior experiência de microcrédito produtivo da América Latina.

O BNB financia atividades, como por exemplo, de fruticultura, por meio de diferentes programas de crédito. Quais as principais áreas de atuação do banco e quais linhas de crédito estão disponíveis?

A gente financia a agricultura desde o microcrédito, com o Pronaf B do Agroamigo, até as grandes corporações que exportam frutas, grãos e outros produtos agrícolas e agropecuários. É uma relação de acompanhamento e estímulo ao crescimento do produtor. O Agroamigo vai R$ 1 mil a R$ 21 mil. Depois a gente acompanha o crescimento até as linhas do Pronaf comum, que passam de R$ 100 mil, até a entrada do agricultor no que se chama de agronegócio, como mini e pequeno produtor. Ele vira empresa rural e cresce com as nossas linhas. Quase tudo é feito com as linhas do FNE- Fundo Constitucional do Nordeste, recursos da sociedade de todo o país (arrecadação de IPI e IR) distribuídos para diminuir a nossa desigualdade econômica com o restante do Brasil. Além da agropecuária, atuamos com o segundo maior volume de recursos no atendimento ao comércio e serviços. A indústria vem por último. O FNE também é fundamental para os financiamentos da infraestrutura, principalmente na geração de energia renovável, mas também na logística e saneamento básico. Cerca de 1/3 do orçamento do fundo se destina à infraestrutura, essencialmente para a dinâmica econômica dos empreendimentos privados e da sociedade.

Vivemos ainda a pandemia da COVID-19. Como o BNB tem atuado para minimizar os impactos da crise de saúde pública junto ao setor produtivo dos estados nordestinos?

Uma das nossas primeiras iniciativas, no início da pandemia, foi em conceder prorrogações (stend still) de todas as parcelas de financiamento que venceriam em 2020. Depois realizamos financiamentos com a linha FNE emergencial, orientados pelo governo federal (linha criada pelo Conselho Monetário Nacional), com ênfase ao suprimento de capital de giro para que as empresas se mantivessem vivas. Atuamos também com o Pronamp, com incentivo governamental. Na Bahia nós não ficamos esperando a procura dos clientes. Organizamos com as federações e entidades de empresários o atendimento de forma proativa, indo em busca dos clientes para conceder giro e prorrogar suas dívidas. A economia vem se recuperando e o nosso papel de banco público do governo federal é dar estímulo para que a economia volte a um ciclo de crescimento. O apoio à agricultura foi crescente e procuramos também dar apoio aos setores mais afetados, como o turismo e alguns setores industriais. A coisa que mais nos surpreendeu foi a capacidade de sustentação dos empreendimentos informais na crise. Os clientes do Crediamigo tiveram as menores prorrogações e o programa cresceu em demanda. A força da encomenda informal na crise. Nós estamos prontos para a grande retomada que há de vir após o arrefecimento da variante atual da pandemia. Acho que o crescimento da economiah vai surpreender em 2022 e o Banco do Nordeste está aqui para potencializar esse crescimento.

Os produtores rurais também tem recebido atenção especial do Banco do Nordeste. Esse suporte tem sido imprescindível para o fortalecimento da agricultura familiar e o agronegócio dos estados do Nordeste brasileiro?

Sem dúvida. A agricultura e pecuária, como quase toda a cadeia de alimentos, foi a menos afetada pela crise. Temos experimentado um significativo crescimento na demanda e temos dado pleno atendimento. Na agricultura família e na base do agronegócio (minis e pequenos produtores) não faltam recursos do FNE. No agronegócio de médios e grandes, além do FNE, teremos novidades esse ano com recursos especiais para os exportadores, principalmente os produtores de grãos do Oeste da Bahia e os fruticultores da região Norte do estado. Mudamos a forma de cálculo dos limites de crédito desses exportadores e eles terão linhas com custos inferiores aos do FNE, para seus custeios. Esperamos alocar cerca de R$ 0,5 bilhão com financiamentos em ACC com esse público só na Bahia. Temos mais novidades no BNB para as próximas semanas. Estamos encaminhando a criação de uma área específica para o agronegócio, que hoje é atendido em mais de uma área. Isso trará especialização e melhoria na qualidade do atendimento aos produtores. Também os mini e pequenos produtores terão uma nova forma de atendimento nos próximos meses. Ele tendem a ser atendidos através da metodologia mais eficiente utilizada no Agroamigo (o microcrédito rural), que realiza liberações em tempo muito menor. São todas melhorias voltadas para os nossos clientes. Temos ainda a ação dos agentes de desenvolvimento, que de forma suplementar ao crédito cuidam da estruturação das cadeias produtivas mais importantes de cada território, melhorando a eficiência produtiva e dando mais sustentabilidade para as ações de crédito.

O que o senhor aponta como maiores desafios a serem superamos em 2022?

O maior desafio a superar - para os bancos tradicionais de um modo geral - é a transformação no atendimento. O “open banking” já é uma realidade. É um processo que dará mais transparência e poderes aos clientes e isso exigirá dos bancos a necessidade de investimento em inovação e TI. O cliente passará a ter mais domínio na relação com bancos, mais facilidade de mudar de fornecedor de serviços financeiros. Quem não for ágil e não tiver melhores taxas vai perder mercado, porque tudo vai ficar escancarado. Para os bancos públicos, como o BNB, isso é mais complexo ainda. Teremos que modernizar a forma lenta de compra dessas soluções inovadoras, sem ter que fugir do cumprimento da legislação e do acompanhamento correto dos órgãos de controle e fiscalização. As fintchs serão cada vez mais essenciais aos bancos e precisamos estruturar boas parcerias estratégicas com essas entidades.

O senhor é apadrinhado político do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. A união do presidente Jair Bolsonaro com os partidos do Centrão deram novo fôlego ao governo?

Vejo a política como essencial para a democracia, mas eu sou um técnico, um executivo de carreira do banco. Não cabe a mim esse tipo de análise. Precisamos seguir as diretrizes do poder executivo federal, que tem o controle societário dos bancos públicos, e também ter boa relação com o Congresso Nacional, que aprova as legislações e as normas que devemos seguir. Meu papel, como executivo, é gerir o Banco do Nordeste de forma eficiente e equilibrada, contribuindo para que a empresa siga os requisitos essenciais de governança e possa gerar bons resultados empresariais e as externalidades positivas que a sociedade nordestina requer.

A proximidade da eleição impacta também sobre o mercado e novos negócios no país?

As eleições ocorrem há cada dois anos e são parte da nossa rotina democrática. Acho que elas afetam de forma positiva, com impactos nas demandas de produtos e serviços de alguns setores econômicos. Isso contribui para a geração de emprego e renda. A democracia gera estímulo aos mercados porque afeta o bem estar das pessoas, aumentando suas demandas e a necessidade de atendê-las com mais produção, que gera emprego e renda, estabelecendo um circulo virtuoso na economia.

Que mensagem o senhor deixa para a população?

Que o banco do Nordeste está preparando um conjunto de medidas para a melhoria da qualidade do atendimento, para ser cada vez mais o banco principal da sociedade nordestina. Nos próximos dias deveremos anunciar novas e melhores taxas de juros para o FNE e também uma nova experiência de atendimento em nossas agências, com mais celeridade. Essa é a grande contribuição que procuro dar na minha passagem pelo comando da empresa. Há muito tempo o banco não tem no comando alguém que experimentou tanta vivência na relação direta com os clientes. Passei os últimos quatro anos à frente da maior e mais desafiadora superintendência do banco, a da Bahia. Cada estado tem apenas um superintende. A Bahia é do tamanho de várias outras superintendências estaduais juntas. Eu conheço as dores dos nossos clientes e elas são iguais em todos os estados. Vou trabalhar de forma incansável vou para transformar essa relação, com o apoio da nossa diretoria e de todos os colaboradores do BNB.

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