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Células neonazistas no Brasil crescem após ascensão de Bolsonaro, aponta estudo

Publicado domingo, 15 de agosto de 2021 às 11:25 h | Atualizado em 15/08/2021, 11:25 | Autor: Da Redação
Presidente Jair Bolsonaro ascena para apoiadores | Foto: Marcos Corrêa/PR
Presidente Jair Bolsonaro ascena para apoiadores | Foto: Marcos Corrêa/PR -

De 2015 a maio de 2021, células neonazistas no Brasil saltaram de 75 para 530, aponta um monitoramento feito pela antropóloga Adriana Dias, que pesquisa há duas décadas as atividades de grupos simpatizantes ao regime de Adolfo Hitler.

Já um levantamento na Central de Denúncias de Crimes Cibernéticos da plataforma Safernet Brasil contabilizou uma explosão de denúncias sobre conteúdo de apologia do nazismo nas redes. Em 2015, foram 1.282 casos, ante 9.004 em 2020 —  crescimento de mais de 600%.

De acordo com reportagem do jornal Folha de S. Paulo, o ano de 2020 marcou o recorde histórico de novas páginas de conteúdo neonazista e também o maior número de páginas removidas da internet por conta de conteúdo ilegal ligado às ideias nazistas. Foram 1.659 URLs (endereços) derrubadas no ano passado, contra 329 em 2015.

"Quando há remoção é porque o conteúdo era de fato criminoso ou violava os termos de uso dos serviços", afirmou o presidente da Safernet Brasil, Thiago Tavares. A Safernet Brasil é uma organização não governamental que atua na prevenção e no combate a crimes cometidos nos meios digitais. "Quando o conteúdo é ilegal, as plataformas removem as páginas voluntariamente porque constatam que, de fato, há crime", explicou. 

Além disso, o número de inquéritos que investigam o crime de apologia do nazismo no âmbito da Polícia Federal aumentaram, no mesmo período, de apenas seis em 2015 para 110 em 2020. Só de 2019 a 2020, o crescimento das investigações desse tipo de crime foi de 59%. Os dados da PF foram revelados pelo jornal O Globo.

O crime de apologia do nazismo é enquadrado no Artigo 20 da lei 7.716 de 1989. Ela prevê pena de dois a cinco anos de reclusão para quem fabrica, comercializa, distribui ou veicula símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica para divulgar ideias do regime. 

Tanto Dias, que acompanha as atividades desses grupos, como Tavares, que recebe e encaminha denúncias aos órgãos competentes, avaliam que a presença do neonazismo cresceu e ganhou visibilidade na esteira da ascensão do discurso sectário do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"A fala de Bolsonaro é inflamatória. Suas práticas e discursos são determinantes para a ação e manifestação desses grupos tanto na internet quanto fora dela", avalia a antropóloga que, no mês passado, encontrou em seus arquivos uma carta do então deputado federal Bolsonaro publicada em 2004 em um site neonazista. A página continha um banner com link direto para a página do político na internet. O caso foi revelado pelo site The Intercept Brasil.

O cenário no Brasil acompanha uma onda global de grupos de extrema direita que levaram o secretário-geral das ONU, António Guterres, a instar a criação de uma aliança global contra o crescimento e o alastramento do neonazismo, da supremacia branca e dos discursos de ódio, especialmente a partir da pandemia da Covid-19.

"Tragicamente, depois de décadas nas sombras, os neonazistas e suas ideias agora estão ganhando popularidade", declarou o chefe da ONU.

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