POLÍCIA FEDERAL
Delegado que planejou morte de Marielle usou cargo para se beneficiar
Barbosa usou bancos de dados e servidores da Polícia Civil para prestar informações à Construtora Calper
Por Da Redação
A Polícia Federal apontou que Rivaldo Barbosa, delegado suspeito de participação na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, usou a estrutura da Delegacia de Homicídios (DH) para atender interesses particulares da empresa que possuía junto com a mulher, Érika Araújo.
De acordo com a investigação, Barbosa usou bancos de dados e servidores da Polícia Civil para prestar informações à Construtora Calper e elaborar relatórios a clientes. O caso foi revelado pelo portal ICL Notícias com base em documentos aos quais o blog também teve acesso.
Um exemplo do uso da estrutura da DH para atender interesses privados é um e-mail encontrado pela PF, enviado em 30 de junho de 2017 para Érika e para a sua empresa, a Mais I Consultoria Empresarial LTDA, a partir do endereço [email protected] que, segundo a PF, foi usado pela Delegacia de Homicídios.
Nele, consta um anexo com relatório da mancha criminal no entorno da Rua da Matriz, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, com dados oficiais de roubos e furtos ocorridos entre abril de 2015 e abril de 2017. O endereço refere-se a uma área onde a Calper pretendia construir um empreendimento imobiliário.
"Apesar de constar no relatório de mancha criminal que os dados de criminalidade ali presentes possuem como origem informações presentes no banco de dados aberto do ISP-RJ (Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro), o fato de o arquivo ter sido enviado para a MAIS I e para ERIKA por meio do e-mail institucional da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, levanta indícios do envolvimento de servidor da PCERJ na confecção de tal relatório e, consequentemente, na execução de trabalhos para a empresa de ERIKA/RIVALDO, sobretudo tendo em vista que o acesso a tal e-mail deva ser restrito a um número limitado de servidores", aponta a PF.
De acordo com os investigadores, a Mais I Consultoria Empresarial LTDA foi constituída em 18 de dezembro de 2014 por Érika e Rivaldo — ele assume a DH no ano seguinte. Durante o período em que permaneceu ativa, a Mais I não teve nenhum empregado com carteira assinada e, ainda assim, movimentou mais de R$ 2 milhões.
O relatório segue e aponta o delegado Rafael Aurélio, subordinado a Rivaldo, como um funcionário da Mais I e um interlocutor de Erika para a resolução de questões administrativas da empresa. Ele dá orientações sobre a confecção de cartão de visitas e aparece em fotos dando palestra para funcionários da Calper, cliente da empresa do casal.
Em outra mensagem, a policial civil Roseane Pinudo Balaro se refere à Erika como "chefe". Ela também encaminha à esposa do delegado informações pessoais e antecedentes criminais de dois funcionários da Calper.
Outro exemplo é um e-mail enviado em 3 de dezembro de 2014 com um pedido de bota para servidores da Polícia Civil e para Rivaldo, com equipamentos de proteção individual para acessar a construção da Calper. A mensagem indica até o tamanho do calçado usado pelo chefe da DH.
Érika solicitou ainda crachá para Rivaldo, com uma ressalva: o dele não poderia ter identificação.
O blog procurou a Calper, mas não recebeu retorno até a publicação desta nota. A defesa de Rivaldo disse que a questão já foi esclarecida nos autos, com a apresentação de 63 documentos, entre eles, o contrato de serviços prestados e as notas fiscais.
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