“Depois do coronavírus, as fake news foram o grande adversário na pandemia”, diz André Curvello | A TARDE
Atarde > Política

“Depois do coronavírus, as fake news foram o grande adversário na pandemia”, diz André Curvello

Publicado segunda-feira, 06 de setembro de 2021 às 06:00 h | Autor: Osvaldo Lyra
André Curvello, secretário de Comunicação do governo Rui
André Curvello, secretário de Comunicação do governo Rui -

O secretário estadual de Comunicação, André Curvello, é apontado como um dos melhores quadros do governo Rui Costa. Nessa entrevista exclusiva ao A TARDE, ele fala dos desafios do cargo e diz que a “comunicação foi um dos alicerces” para que o governo tivesse um excelente desempenho na gestão da crise de saúde pública. Para ele, o governador “esteve obcecado em salvar vidas”. ”Depois do coronavírus, o grande adversário na pandemia foram as fake news”. André é enfático ainda ao defender o legado do projeto político encabeçado por Rui e pelo ex-governador Jaques Wagner, e dispara: “o povo só quer mudança de governo quando ele está insatisfeito”. Confira:

Jornalista experiente, você é apontado até mesmo pela oposição como um dos melhores quadros do governo. Como avalia o trabalho feito na Secretaria de Comunicação?

O primeiro ponto é essa questão da oposição. Eu tenho, ao longo da minha vida profissional, sempre procurado atuar com máxima correção, buscando ouvir, buscando dialogar, buscando o debate saudável e respeitoso. Então existe da nossa parte um respeito muito grande pela oposição e respeito pelos posicionamentos adversos, pelo contraditório. Então isso aí termina por construir uma relação saudável e de respeito. Eu acho que a vida a gente vai construindo com respeito, vai tentando solidificar amizades ao longo dos anos.

Você conseguiu ajudar o governador Rui Costa a construir uma imagem de gestor, se distanciando da política e até mesmo dos desgastes do PT. Como se deu essa estratégia e como se dá isso no dia a dia?

Eu acho que o governador tem uma história de gestão ao longo dos anos como secretário do governo Jaques Wagner, foi uma peça fundamental, mostrou toda a sua competência como gestor, raras são as pessoas que conhecem a Bahia como ele conhece. Aprendeu muito na gestão Jaques Wagner. E a imagem, a parcela de contribuição da comunicação é apenas informar o trabalho fantástico que o governador Rui Costa vem fazendo pelo estado. Então eu digo que a contribuição é bastante simples, é informar a verdade, e a verdade é um trabalho que tem sido feito em todos os cantos da Bahia.

Com a segunda gestão de Rui, o PT completa 16 anos no poder. Como a comunicação ajuda a evitar os desgastes e cansaço de material que é gerado pelo tempo?

Olha, os desgastes existem em qualquer governo. Existe no primeiro ano, existe no terceiro, no quarto, e é normal isso em qualquer governo, seja ele na esfera municipal, estadual ou federal. Aqui na Bahia essa gestão é democrática, de muito trabalho, uma gestão de cuidar das pessoas que começou com o brilhante trabalho desenvolvido pelo governador Jaques Wagner. Teve a continuidade com o governador Rui Costa e a prova de que é um trabalho que não demonstra fadiga é justamente o resultado das eleições em primeiro turno, as vitórias consecutivas, e avaliações positivas das duas gestões. É um projeto de governo democrático, transparente, que visa cuidar das pessoas e que nesses últimos anos, seguramente, eu não me lembro de ter se realizado tanto em todas as áreas como nesse projeto Wagner-Rui. Então eu acho que os desgastes são naturais, existem em qualquer governo, mas que são minimizados e têm percentuais pequenos em virtude do trabalho que continua gerando esperança e que as pessoas querem que continue.

Wagner deve suceder Rui, porque é colocado hoje como o principal nome do PT e da base. Será um desafio grande fazer essa campanha, já que a crítica da oposição é que o PT não se renovou?

Olha, primeiro eu acho que o trabalho que tem sido feito em todo o estado, seja na agricultura familiar, seja no programa Água Para Todos, seja na mobilidade, seja em grandes obras, isso termina esvaziando o discurso da oposição, que é natural. A oposição está no papel legítimo dela, de fazer oposição e tecer as críticas que achar pertinentes. Mas, repito, esses anos de governo Wagner-Rui entram para a história como um governo de realizações históricas, espetaculares. E eu tenho certeza que isso vai continuar porque o povo só quer mudança de governo quando ele está insatisfeito. Então como existe uma satisfação muito grande com esse projeto, eu tenho certeza que esse projeto terá continuidade com uma renovação natural, que é a renovação do nome do ex-governador Jaques Wagner. Eu, enquanto secretário de comunicação, obviamente não poderei fazer campanha política e vou estar atento para as decisões que vão ser tomadas para cumprir até quando o governador Rui Costa achar necessário, cumprir as metas que a comunicação traçou.

A passagem do ex-presidente Lula pela Bahia serviu para apaziguar os ânimos entre o PT e a base aliada. Que avaliação você faz desse movimento político que fortalece o PT, o governador e o próprio Jaques Wagner?

O Lula é um ícone, é um líder mundial, e a Bahia o recebeu de braços abertos. Foram poucos dias, mas extremamente produtivos. Essa questão de acalmar a base aliada eu deixo muito para a imprensa que gosta de falar de inquietações da base aliada. Essas faladas inquietações são naturais de uma frente democrática que tem seus anseios, que todos legitimamente buscam ocupar mais espaço, isso faz parte da democracia, mas mostra, como você mesmo falou, que a base de sustentação do governo está cada vez mais unida, cada vez mais forte.

A gente ouve, vez ou outra, deputados chateados com a falta de liberação de emenda, com a falta de diálogo com o governador Rui Costa. Rui é melhor governador gestor que político?

Eu acho que Rui é um grande governador.

Como você avalia a saída de Fábio Vilas-Boas? Ele era apontado como um dos melhores secretários do governo. Aposta na permanência de Tereza Paim?

O cardiologista Fábio Vilas-Boas é um profissional extremamente respeitado na área científica, na área médica. Na pandemia, desenvolveu um excelente trabalho no enfrentamento ao coronavírus, tomando suas decisões e sugerindo ações sempre baseado na ciência. A secretária Tereza também desde o início foi uma verdadeira guerreira nesse combate à pandemia. Agora, sobre a questão de apostar em nomeação, apostar em permanência, eu prefiro não comentar esse assunto.

A comunicação tem sido fundamental no processo de informação da sociedade, sobretudo, nesse momento de pandemia. Como avalia a importância da comunicação nesse contexto de relacionamento com a população?

Olha, ao longo de tantos anos de mercado, eu nunca vivi como profissional de comunicação uma experiência dessa. E quis o destino que eu estivesse ocupando aqui o cargo de secretário da comunicação. Uma experiência nova, uma experiência muito dura, um verdadeiro aprendizado. Um verdadeiro doutorado, uma pós-graduação, tudo junto. E que a gente teve que aprender mesmo com o dia a dia. Tivemos que aprender com erros, mas sob a liderança do governador a gente conseguiu comunicar, aliás, estamos conseguindo comunicar de forma bastante transparente. Eu acho que em todo esse processo a comunicação tem sido de uma importância fundamental. Difícil, só para quem está aqui, só quem viveu, quem está vivendo isso, toda uma equipe unida. Deus queira que os índices continuem caindo, mas até aqui foi um momento de muito sofrimento, muita angústia. E que, realmente, eu concordo com você, a comunicação foi fundamental pela sua forma incisiva, pela sua forma dinâmica, evoluindo ou involuindo a reboque dos números da pandemia. Eu acho que o desgaste é algo que não dá nem para descrever, tem sido, ainda. Mas realmente a comunicação foi um dos alicerces para que o Governo do Estado, liderado pelo governador Rui Costa, tivesse um excelente desempenho e que tenha sido destaque nacional na gestão dessa pandemia.

Ao longo dos últimos 17 meses, o momento de maior tensão foi o episódio dos respiradores? Um desgaste muito grande para o governo, para o governador?

Eu não chamaria de desgaste. Eu chamaria de uma gestão contra oportunismo, contra fake news. No resto, o governo do Estado foi extremamente transparente na sua comunicação, agiu de forma extremamente ágil, agiu com responsabilidade e agiu para salvar vidas. Mas repito: processo de aprendizado internacional, mundial. Aconteceram problemas com respiradores não só na Bahia, como no Brasil e em diversos países do mundo. Então quando você age de maneira séria, quando você tem todos os seus processos feitos de maneira ética e responsável, visando salvar vidas, eu acho que é o que termina importando.

Na pandemia, a relação entre o governador Rui Costa e o ex-prefeito ACM Neto foi destaque, inclusive no cenário nacional, pela construção de um projeto comum para salvar vidas. Como avalia a relação hoje entre Rui e Bruno?

Primeiro que o governador se relacionou com os 417 municípios de uma maneira bastante ética, de uma maneira bastante republicana, de uma maneira bastante humanista, eu sou testemunha disso. O governador esteve sistematicamente obcecado em orientar, em dar a mão, em dar o braço a todos os prefeitos. O governador esteve obcecado em salvar vidas na pandemia. Foi um trabalho hercúleo o do governador, visando minimizar toda a tragédia da pandemia. Repito: por causa desse trabalho do governador, dessa visão estadista junto aos 417 municípios, é que a Bahia terminou se destacando positivamente no cenário nacional. Com relação aqui à capital, a visão que o governador tem de parceria com todos os municípios se repete também na gestão do prefeito Bruno Reis, que tem, nessa questão da pandemia, um aliado extremamente positivo que é o secretário Leo Prates.

A gente vê aí o avanço do processo de vacinação na Bahia, os índices de contaminação da Covidcaindo e há sempre uma especulação sobre esse retorno das festas. É possível falar em festas de Réveillon, pensar em planejamento de Carnaval?

Bom, eu vou falar aqui a minha visão de cidadão. Eu acho que é um processo de aprendizado diário. Eu acho que o governador tem pautado as suas decisões com base na responsabilidade, com base na filosofia de salvar vidas e com base na ciência. Então eu particularmente considero prematuro se falar em qualquer evento com multidões neste momento, neste dia de hoje, dia 2 de setembro, ainda é prematuro. Mas compreendo os anseios de quem vive do entretenimento. A pandemia causou e causa ainda danos muito graves à economia.

As redes sociais ajudaram e ajudam o governador a se mostrar mais próximo da população, inclusive, através do projeto Papo Correria. Qual o maior desafio de se comunicar através das redes hoje, André?

Olha, o Papo Correria é um projeto do próprio governador, são as redes pessoais dele, extremamente bem sucedido. Ele sistematicamente sempre valorizou essa questão das redes sociais. As redes do governador terminam se transformando numa grande ouvidoria. Ele termina aprendendo muito, dialogando muito, interagindo muito com o cidadão, com a cidadã baiana. Isso é muito importante, segue como uma ferramenta de gestão. Ele aprende, ele ouve, sabe que existem caminhos a serem corrigidos, sabe que existem ideias que podem ser aplicadas. Eu acho que essa questão das redes sociais, quando bem utilizadas, elas significam um relacionamento bastante próspero e bastante transparente do gestor público com a população.

Qual a marca principal da gestão Rui Costa? Como ele será lembrado por esses oito anos?

Eu acho que como um humanista, um homem família, um trabalhador e um gestor histórico.

O combate às fake news é um desafio que envolve não só o poder público como a iniciativa privada. Como o governo e a secretaria de comunicação estão se posicionando nessa trincheira?

Voltando a falar um pouco em pandemia, eu acho que depois do coronavírus, as fake news foram o grande adversário na pandemia. Você promover fake news em plena pandemia, você vendo no seu estado, no seu país milhares de pessoas morrendo, é de uma covardia absurda. Isso antes mesmo da pandemia tomava muito tempo da gente, enquanto secretaria de comunicação, e se intensificou também na pandemia. Nós criamos um site, a Bahia Contra o Fake, e isso é um adversário bastante forte, porque nós somos o terceiro país que mais utiliza o WhatsApp, por exemplo. E é justamente essa ferramenta, essa plataforma que é mais utilizada para a propagação de fake news. A gente vê que nas pesquisas mais de 60% das pessoas compartilham o WhatsApp sem ler, sem a leitura devida e sem conferir a informação. Eu digo que é um câncer maligno porque efetivamente destrói reputações ou destrói vidas, famílias. Eu considero um crime absurdo, um crime cometido por pessoas sórdidas e covardes. É um elemento de enfrentamento constante, mas que infelizmente as redes sociais que deveriam ser utilizadas como um instrumento de aproximação, como aprimoramento de informação, como disseminação de informações, de conhecimentos positivos, terminam sendo ocupadas por criminosos covardes.

A educação foi um gargalo e ficou muito tempo parada por conta da pandemia. Faltou ação, mais incentivo e mais diálogo para não deixar esse setor estratégico tão fragilizado?

Não. Pelo contrário. Existiu sim um excesso de responsabilidade. Toda a pandemia foi administrada seguindo critérios científicos, e os critérios científicos apontavam para o fechamento das escolas. Isso aconteceu no mundo inteiro e no Brasil não foi diferente. O governador seguiu parâmetros científicos para isso.

Para finalizar, qual a influência que seu pai, José Curvello, tem na sua trajetória profissional?

Eu estava falando com minha mãe o seguinte: eu tenho 55 anos e tudo o que eu tenho na vida eu devo a meu pai e a minha mãe, que me deram educação, me deram amor. E meu pai foi um grande jornalista, aprendi muito com ele e efetivamente foi uma fonte de inspiração. Desde os 14, 15 anos eu já sabia exatamente o que eu queria ser. E fruto de estar frequentando o Jornal A Tarde, indo buscar meu pai, eu me apaixonei pelo jornalismo desde cedo. Meu pai depois se aposentou e foi trabalhar a minha empresa e foi responsável por um grande impulsionamento dela. Então, meus pais têm uma peça muito forte em minha vida, eu sou muito grato a eles, e meu pai tem 19 anos de morto e parece que foi ontem. Uma saudade imensa, um vazio imenso, meu melhor amigo que é uma lacuna que não se preenche nunca. Mas repito, todas as vitórias aí que ao longo de minha vida eu tenho conquistado eu com certeza devo a toda inspiração e todo o apoio que meu pai me deu ao longo da vida.

Publicações relacionadas