POLÍTICA
Deputados aumentam número de assessores na Bahia
Por Flávio Oliveira, do A Tarde
Sem nenhuma publicidade apenas uma discreta publicação no Diário Oficial, a Assembléia Legislativa da Bahia aprovou, há cerca de dez dias, projeto de resolução da Mesa Diretora que permite a cada deputado contratar um total de 26 assessores para seu gabinete, seis a mais do que era permitido até então.
O projeto, aprovado por consenso, uniu deputados tanto do governo quanto da oposição e aqueles que se denominam independentes. Todos argumentam, como justificativa, que a modificação na lei não aumenta o gasto público a verba para contratação de pessoal permanece a mesma (R$ 50 mil) e que permite melhor flexibilização dos recursos disponíveis para o pagamento na contratação de assessores.
A resolução ainda precisa ser sancionada pelo governador para poder valer, porém, já virou alvo da desconfiança da população (ver fala povo) e de duras críticas do diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo.
A organização é responsável por acompanhar casos de corrupção e suas conseqüências em todo o Brasil. Deputados federais e estaduais, assim como vereadores, precisariam, no máximo, de dois funcionários. O que eles conseguiram com essa lei foi ampliar o número de vagas de emprego para cabos eleitorais, sujeitos que trabalham unicamente para os reelegerem. Ou seja, o contribuinte está pagando cabos eleitorais de parlamentares, disse. A lei aprovada semana passada não mexeu no número mínimo de funcionários em cada gabinete, que continua de quatro. Também não mexeu na remuneração mínima, que é de R$ 350 para o cargo de secretário parlamentar 1 (SP-1) nem na tabela dos demais cargos, que chega a R$ 3.800 para o cargo de SP-18. Mas criou um novo cargo, o SP-19, cuja remuneração será de R$ 5 mil. Cláudio Abramo disse que a possibilidade de nomear funcionários para o gabinete dá origens a vários problemas, incluindo denúncias surgidas em outros parlamentos de que deputados cobram de seus assessores parte dos salários pagos a eles.
Esse é um problema subsidiário que surge com o poder de nomear. Bastariam dois funcionários, o resto teria de ser de pessoal da própria Assembléia, devidamente capacitado para acompanhar e fiscalizar as políticas públicas da Bahia. O resultado é que essa fiscalização não acontece, e não é só na Assembléia da Bahia, comentou.
Apesar das críticas, o presidente da Assembléia, Marcelo Nilo (PSDB), garantiu que as mudanças são uma antiga reivindicação dos deputados. A lei não aumenta um centavo dos gastos do erário, pois cada parlamentar continuará com a mesma verba para a contratação de pessoal que tinha antes dessa lei, a Casa continuará com as mesmas despesas que já tinha com o INSS. O cargo de SP - 19 já existia em Brasília, disse. O número de cargos em gabinetes e a estrutura salarial deles surgiram quando a verba para contratação de pessoal era de R$ 25 mil. De lá para cá, a verba cresceu para R$ 50 mil e a estrutura e a remuneração ficaram as mesmas, completou.
As palavras do presidente foram praticamente as mesmas de deputados como o líder da oposição, Gildásio Penedo (PFL): Não há aumento de despesas. Continuamos com o mesmo limite para contratar pessoal, mesmo que o salário de assessores chegue a R$ 5 mil. Já o petista Yulo Oiticica afirmou: A lei não aumenta o valor para contratações, aumenta o número dessas contratações e cabe ao deputado mexer ou não em seu gabinete. Eu mesmo não vou mexer. Não sabia que essa lei seria aprovada e já montei a estrutura do meu gabinete, estando impedido de reduzir salários para poder pagar mais a quem quer que seja. Um deputado do PFL, que pediu para não ser identificado, foi o único ouvido por A TARDE que deu uma explicação diferente: O aumento do número de funcionários de gabinete e a criação de um cargo com um salário maior é uma forma de reajustar o salário desse pessoal, congelado há pelo menos quatro anos. Já o líder do governo, Waldenor Pereira (PT), alegou que o aumento do número de cargos para assessores de deputados é fundamental para garantir a atuação regional dos parlamentares.
Eu atuo nas regiões da Chapada Diamantina, do Médio São Francisco, da Serra Geral e do sudoeste. São 60 municípios, e é preciso assistir e trabalhar em todos eles, argumentou o parlamentar. Benefícios Esses discursos, contudo, podem cair por terra a partir do momento em que a Câmara dos Deputados aprovar reajustes nos salários dos deputados federias e nas verbas de contratação de assessores naquela Casa. É dado como certo que os deputados federais depois da fracassada tentativa de aumentar em 98% os próprios salários vão aprovar uma majoração salarial de 28%, índice correspondente à soma da inflação dos quatro últimos anos. O salário de deputado estadual, hoje de R$ 9.500, equivale a 75% do que percebe um deputado federal.
A relação entre verbas de gabinete entre uma casa legislativa e outra obedece ao mesmo percentual. O aumento não é automático e depende de aprovação da própria Assembléia Legislativa. Salário e verbas para contratação de assessores não são os únicos benefícios aos quais os parlamentares têm direito. A Assembléia Legislativa disponibiliza aos deputados até R$ 3.600 em diárias de viagens; R$ 2.200 a título de ajuda de custo (auxílio-moradia); R$ 15 mil de verba indenizatória (comunicação do mandato, realização de eventos, etc.); R$ 6.500 de tíquetes combustível e R$ 5 mil para contas de telefone, xerox e correio. A liberação desses valores está condicionada à prestação de contas dos parlamentares (apresentação de notas fiscais). O valor excedente no uso de telefone, xerox e correios é descontado do subsídio do parlamentar.
A mesma lei que ampliou o número de assessores nos gabinetes também criou, na estrutura da Casa, mais dois cargos em comissão de Assessor Especial (símbolo FC-6). O preenchimento desses cargos, assim como os de símbolo FC-7, poderá ser feito com pessoas só com segundo grau completo. A legislação anterior previa o provimento apenas por portadores de nível superior. Outra importante modificação no Legislativo refere-se a direitos trabalhistas de servidores da Casa. Agora, os funcionários da Assembléia, mesmo ocupando cargos comissionados, quando forem demitidos, terão direito a receber o equivalente a um salário por ano trabalhado, mais 1/12 avos desse salário a título de gratificação por tempo de serviço.
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