POLÍTICA
Do PT ao bolsonarismo: o percurso político polêmico de Malafaia
Pastor transitou entre esquerda e direita ao longo das últimas décadas, tornando-se figura controversa na política brasileira
Por Redação

Alvo da Polícia Federal (PF) ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Silas Malafaia nem sempre nadou na direita bolsonarista. Em outros capítulos da política brasileira, o pastor não apenas agitava bandeiras para a esquerda, como chegou a estender o tapete vermelho para o próprio Lula (PT).
Histórico do outro lado

Malafaia começou a se destacar na política durante a eleição presidencial de 1989, quando o televangelista em ascensão integrou o comitê evangélico do trabalhista Leonel Brizola. Na época, com Brizola eliminado no primeiro turno, Malafaia nadou contra a corrente pastoral ao apoiar a candidatura de Lula.
Àquela altura, o petista já enfrentava a circulação de fake news de que fecharia igrejas evangélicas — rumores de que seria para agradar aliados católicos ligados à Teologia da Libertação.
Enquanto o já influente bispo Edir Macedo estimulava fiéis a irem a favor a Fernando Collor, Malafaia se alinhou à esquerda e ainda repetiu o movimento em 2002, chegando a aparecer na propaganda eleitoral do petista contra José Serra (PSDB).
Ainda em 2002, sua primeira opção era o presbiteriano Anthony Garotinho, que não avançou ao segundo turno. Ex-petista e candidato pelo PSB, Garotinho se apresentava como o mais à esquerda entre os concorrentes.
Malafaia rompeu com o PT antes de Lula encerrar seu segundo mandato. E até hoje sustenta que só apoiou Lula no primeiro pleito pós-ditadura militar por acreditar que o petista ajudaria os pobres, maioria nas igrejas evangélicas.
Diz ainda estar arrependido de não ter dado ouvidos ao pai, oficial da Marinha e também pastor. "Ele falava assim pra mim: 'Você está enganado, eles não se desvinculam de suas ideologias'.".
Os acenos conservadores de Malafaia, se intensificaram ao longo dos anos. Em 2010, ele estampou centenas de outdoors no Rio onde se lia: "Em favor da família e da preservação da espécie humana".
No mesmo ano, passou 15 minutos ao telefone com a candidata Dilma Rousseff (PT) explicando que não a apoiaria por acreditar que ela era pró-aborto, conforme o próprio relatou à Folha dois anos depois.
Malafaia foi um dos primeiros pastores a se lançar na onda bolsonarista em 2018, enquanto muitos de seus colegas ainda confiavam suas apostas eleitorais a Geraldo Alckmin, o cavalo de corrida tradicional da direita do PSDB.
Alvo de operação
Malafaia, aliado de primeira hora de Bolsonaro (PL), foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal nesta quarta-feira, 20, no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro (RJ).
A ação dos agentes federais aconteceu após o desembarque do líder religioso no equipamento aéreo carioca, de um voo que iria para Lisboa, capital de Portugal.
A operação contou com aval do Supremo Tribunal Federal (STF),em razão do processo sobre a tentativa de obstrução de Justiça ligada à trama golpista. O depoimento do pastor está sendo colhido nas dependências do aeroporto.
Na mesma decisão, o ministro Alexandre de Moraes determinou o cancelamento do passaporte do líder evangélico.
Medidas cautelares
Além da apreensão de aparelhos, como o celular do pastor, o líder religioso foi alvo de medidas cautelares diversas da prisão, entre elas:
- proibição de deixar o país;
- proibição de manter contato com outros investigados, como o Bolsonaro e o filho Eduardo Bolsonaro (SP), inclusive, por intermédio de terceiros.
- O magistrado impôs as medidas contra o pastor por considerar as condutas dele, em vínculo subjetivo com ex-presidente.
Investigado
Malafaia foi incluído no mesmo inquérito que apura a atuação de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo em ações contra o STF, agentes públicos e autoridades brasileiras.
O inquérito, iniciado em maio, investiga possíveis crimes como:
- coação no curso do processo;
- obstrução de investigação de organização criminosa;
- e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Para entender o caso do pastor Silas Malafaia
Malafaia foi o organizador do ato em apoio a Bolsonaro realizado em 3 de agosto. Durante o evento, o ex-presidente apareceu por vídeo, o que descumpriu decisões judiciais e levou à sua prisão domiciliar no dia seguinte.
Em vídeo publicado nas redes sociais na quinta-feira passada, 14, o religioso voltou a atacar Moraes, defendendo seu impeachment, julgamento e prisão.
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