ELEIÇÕES 2024
Confira na íntegra a entrevista com Célia Sacramento, candidata ao governo baiano
Por Aina Soledad | A TARDE BA | Margarida Neide / Ag. A TARDE

Única candidata mulher a entrar na disputa pelo governo da Bahia, a ex-vice-prefeita de Salvador Célia Sacramento (Rede), que compõe uma chapa puro sangue ao lado do empresário conquistense José Itamário (Rede), é a segunda postulante ao cargo a participar da série de entrevistas promovida por A TARDE.
A concorrente aposta na experiência na gestão municipal da capital baiana para chefiar o Palácio de Ondina. Ela afirma que a Bahia precisa de um olhar feminino, principalmente para promover políticas públicas para mulheres. Célia, que também é professora, defende que a educação, além da sustentabilidade e inclusão social, é a base para todos os programas da sigla.
Ela aposta em exercer um mandato com a participação popular e também pretende mobilizar a bancada de deputados estaduais para criar uma polícia em ciclo completo. Segundo a candidata, o trabalho compartilhado entre Polícia Militar e Civil não vem dando certo. Para isso, se eleita, pretende investir na polícia investigativa.
Quais serão os principais temas abordados durante a campanha?
Estamos juntos pela sustentabilidade e inclusão social. Esse é o mote de todo nosso trabalho. Sou professora e quase todos os dirigentes da Rede Sustentabilidade também são. Educação, para nós, é a base para todos os nossos programas. A partir da educação vamos dar uma resposta à série de mazelas que estão no cotidiano da nossa sociedade. A educação transitando então pela empregabilidade que é um programa real do nosso estado e, principalmente, as questões ambientais porque a Rede tem toda uma base que se fundamenta na sustentabilidade socioambiental: social, econômica e ambiental. Não podemos também esquecer da saúde. Considerando que no momento em que estamos vivendo, daqui a 12 anos 2/3 da população estará envelhecida e o caos no sistema de saúde não pode continuar e nós temos respostas em curto período de tempo. Mas também não esqueceremos a segurança, que tem sido tratada periodicamente.
Quantos municípios devem ser visitados no período e como se deu a escolha deles?
De acordo com nosso planejamento, nós estaremos três dias no interior e três na capital. Estamos prevendo visitar 36 municípios. Os critérios são: território do nosso governador, que é de Vitória da Conquista, e por isso iniciamos a campanha lá e depois para a região de Juazeiro e Capim Grosso, pois também temos pré-candidatos por lá. Agora estamos na região sul da Bahia.
Durante essas viagens ao interior, quais problemas têm encontrado e na sua avaliação, quais soluções poderiam ser aplicadas para melhorar a qualidade de vida dos baianos?
Os mesmos problemas que fazem parte das nossas propostas: empregabilidade, saúde, educação, ambientais e de segurança. Tudo o que tem acontecido em Salvador acontece em reservadas devidas proporções no interior do estado. No interior tem um aspecto mais alarmante, pois onde tem a maior parcela da população e onde estão todos os nossos dotes ambientais. O município de Caetité, Brumado e região, por exemplo, tem mais de 38 anomalias não estudadas. O que mais me assustou foi ver o parque eólico da cidade com energia subutilizada, pois falta o olhar do gestor para colocar linhas de transmissão. Ou seja, toda energia limpa que é gerada está sendo jogada fora. Se fosse utilizada teríamos, enquanto consumidores, uma drástica redução no consumo de energia, que atualmente é gerada para o Rio de Janeiro. O que percebi é que continuamos pagando energia cara desnecessariamente.
Quais as qualidades o próximo governador da Bahia deve ter?
Um olhar humano, pois não dá para aceitar que um gestor se coloque na condição de bem avaliado simplesmente assistindo o extermínio que vem sofrendo a juventude negra. A juventude está sendo exterminada, sem contar na quantidade de negros oficialmente mortos, porque oficiosamente é muito mais do que indicam as pesquisas. Sem falar nas meninas a partir de 11 anos que vem sendo violentadas na Região Metropolitana de Salvador (RMS) e nas questões de violência contra as mulheres. Então, ou os governantes os governantes passam a olhar com mais sensibilidade e para a questão da educação, pois tudo passa pela educação, ou nos não vamos conseguir avançar. Além disso, o gestor tem que estar qualificado, mas principalmente ele tem que ter um olhar humano. O que temos visto nos últimos 30 anos é que pouca coisa mudou, é o mesmo olhar, a mesma forma e a mesma sistemática, a mesma forma de fazer política.
Quais as principais experiências dos quatro anos como vice-prefeita de Salvador você levará para o governo da Bahia, caso seja eleita?
Foi uma experiência muito interessante e que quero levar principalmente o meu modelo de gestão que se preocupa com as pessoas. Nos primeiros quatro anos como vice-prefeita, tinha muita preocupação com as pessoas. Só tínhamos a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Periperi funcionando na cidade, quando eu saí tínhamos mais de 15. Além disso, o plano de cargos e salários dos professores que estava engavetado há 17 anos conseguimos tirar. Construímos projeto pedagógico com a realidade da cidade com educação em tempo integral em várias escolas do município. Esse meu modelo de fazer a gestão cuidando das pessoas é o que eu vou levar para governo do estado, principalmente se preocupando com a sustentabilidade. Nós, inclusive, criamos a primeira secretaria de cidade sustentável do Brasil.
A senhora é a única candidata mulher na disputa pelo Palácio de Ondina. Como classifica a importância da figura feminina na política?
É fundamental, pois nós representamos uma grande parcela de mulheres negras totalmente excluídas das políticas públicas. A figura e participação das mulheres na politica é importante para implementar as políticas públicas para todos. Precisamos dar para o estado da Bahia, o olhar feminino, que cuida de todos. Atualmente em todas as esferas políticas temos pouca representação feminina, além do pouco recurso para desenvolver as campanhas das mulheres. Eu vejo a minha participação como muito importante, pois é uma novidade. A primeira é que sou uma mulher e poucas tiveram essa oportunidade; a segunda é que sou negra, pois a Bahia nunca teve uma governadora negra, além, claro, da minha qualificação. Estou preparada para ser gestora, pois passei a minha vida inteira estudando.

Propostas
Quais os principais problemas enfrentados pelo estado atualmente e se eleita, como pretende solucioná-los?
Educação e saúde e o estado não dá resposta, pois as escolas continuam desestruturadas e os professores não tem tido nenhum tipo de valorização e não tem assistente social nas escolas. Em paralelo a isso, ainda temos a crise com a segurança pública onde o estado tem gastado valores altíssimos, mas não resolve. Os números mostram o contrário e nós vamos dar a solução através de professores na escola, assistentes sociais e professores de psicologia para cuidar dos professores. Também vamos viabilizar e mobilizar a nossa bancada de deputados estaduais para criarmos uma polícia em ciclo completo. Esse trabalho compartilhado entre Polícia Militar e Civil não vem dando certo. Vamos investir em polícia investigativa para identificar quem leva as drogas aos bairros periféricos e teremos cuidado com todo esquema de crime organizado. Nós entendemos que cuidar da educação e cuidar da segurança com a valorização policial e ciclo completo daremos resposta.
Vamos também investir pesado em saúde principalmente numa saúde preventiva. Esse é o nosso projeto.
Como pretende melhorar a qualidade dos serviços prestados na saúde, em especial, na Central de Regulação?
Com a educação. Uma médica do nosso grupo partidário fez uma pesquisa onde identificou que a maioria dos problemas relacionados à saúde das pessoas, como diabetes e pressão, onde as pessoas chegam às pressas nas unidades de saúde tem uma base na falta de qualidade de vida. Vamos investir pesado em qualidade de vida com educação alimentar para mudar os hábitos através de parceria nas cidades para que as pessoas passem a cuidar melhor da alimentação e da vida. Vamos também valorizar os médicos, enfermeiros e aos agentes de saúde e endemias, que estão na casa das pessoas diariamente. Um projeto de ação compartilhada vai saber e entender os problemas de perto.
Segundo o relatório bienal do Todos Pela Educação (TPE), a Bahia está abaixo da média brasileira em todos os indicadores. Enquanto professora, quais as medidas pretende adotar para melhorar qualidade da educação no estado?
Ações que valorizem o professor, educação integral e em tempo integral, vamos colocar assistente social e garantir merenda escolar de qualidade. Vamos também fazer parcerias com entidades sérias do terceiro setor que trabalhem com esporte, cultura e lazer. Não vamos seguir a legislação federal que tira do ensino médio a perspectiva de ingresso nas universidades. Vamos criar estrutura para atender as exigências, mas vamos além dando condições aos nossos estudantes de ensino médio, condições para que eles entrem no ensino superior, sim. Os jovens pobres da periferia são os que mais sofrem com a nova legislação, mas não vamos permitir isso.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no módulo Educação com dados de 2016 e 2017 indicou que seis em cada dez baianos não concluíram os estudos. Como reverter essa estatística?
A evasão escolar tem acontecido principalmente entre jovens a partir dos 12 anos por falta de atrativo na escola. Ou seja, o modelo de escola que está sendo apresentado não ajuda a permanência dos jovens na escola. Estamos falando da necessidade de utilizar a tecnologia que atraia os jovens, pois são criativos e precisam de atrativos. Quando nós tivermos qualificando o professor e colocarmos assistentes sociais nas escolas, que eles vão identificar quando o aluno falta e o motivo da falta. Vamos também fazer uma relação com as famílias, com os psicólogos e programas que envolvam a tecnologia, mais projetos que envolvam o jovem com equipes, como as gincanas, projetos que envolvam o desenvolvimento artístico, finanças pessoais só assim vamos reduzir o índice de evasão escolar.
A agricultura familiar é um dos principais meios de movimentar a economia de milhares de baianos. Quais as propostas para fortalecer a categoria?
Vamos criar estrutura de cooperativa para viabilizar o escoamento dos produtos e cuidar do pequeno produtor rural fortalecendo as empresas que trabalham com a área agropecuária. Vamos propor novo modelo de agência da EBDA e resgatar a memória histórica e cuidar do semiárido. Nosso problema não é falta de recursos ou produtos, nós precisamos de ações para cuidar das águas para ter produção do mercado agrícola.
Quais são as principais propostas para promover ações mais sustentáveis no estado?
ICMS verde. Queremos desburocratizar que o sistema que permite que o empresariado de uma forma geral consiga ter uma politica ambiental sustentável tendo o benefício da redução da carga tributária.

Marina
Quais as principais propostas da sua correligionária, Marina Silva (Rede) para o país, que também podem ser utilizadas na Bahia?
Ampliação dos benefícios sociais transformando em direitos sociais, recursos para educação, cuidar do ser humano, da mobilidade, da empregabilidade e a valorização da saúde. Ela também fala muito sobre a necessidade de ampliar as politicas de combate à violência contra as mulheres e também na necessidade de incentivar que empresas paguem o mesmo salário dos homens.
Governabilidade
Se eleita, como ela pretende consolidar uma base na Assembleia para aprovar as propostas do governo?
Não é só ter uma grande base, mas abrir um diálogo transparente com os parlamentares, apresentando os projetos que vão beneficiar a população e chamar a população para lá, para propor projetos. Se em algum momento a gente identificar que os eleitos para a Assembleia Legislativa não estiverem apoiando os nossos projetos, que são para o povo, vamos chamar a população para fazer cumprir a Constituição.
Já tem ideia do perfil de um futuro secretariado? As pastas atuais serão todas mantidas ou pensa em fazer algum ajuste?
Temos um projeto de fazer uma reestruturação. Não concordamos com esse numero de secretarias. Quando fui vice-prefeita, reduzimos para 12 secretarias e conseguimos fazer uma boa gestão. Ou seja, não é a quantidade de secretarias que fazem o diferencial, mas sim as políticas que precisam ser implementadas.
Programas sociais:
Quais as ideias do seu programa de governo para lidar com questões relativas à infância, juventude, mulheres, pessoas com deficiência e idosos?
Temos muitos projetos que se enquadram com as pessoas idosas, como a parceria com prefeituras para melhorar a mobilidade. A criança é o futuro do amanhã, precisamos ter creches para cuidar das crianças para que as mães possam estudar e trabalhar.
Temas polêmicos:
Qual o posicionamento da senhora em relação à descriminalização do aborto?
A primeira vez que discuti esse tema eu tinha 17 anos e estava em um encontro de estudantes e sempre tive o mesmo posicionamento: tem que descriminalizar. Nós temos uma constituição que defende quem tem condições. A menina que mora nos bairros periféricos se resolver fazer um aborto vai morrer. O número de mulheres que morrem por isso não cabe no gibi. Eu defendo que a mulher é livre para decidir o que vai fazer o serviço público deve cuidar da vida, e a vida que está ali para ser cuidada é a da mulher. Nenhuma mulher faz aborto porque quer, nenhuma é favorável ao aborto. Precisamos rever como tratar a decisão que a mulher fez.

Concorda com a redução da maioridade penal?
O problema dos jovens com 18 não são diferentes dos jovens com 16... Se os milhões que o governador tem dito que gasta com segurança ele gastasse só 10% investindo em políticas públicas com qualificação profissional, atividade cultural e esportiva mudaria por completo todo esse cenário.
Como é atualmente a relação da senhora com o prefeito ACM Neto?
Nos falamos socialmente. Se cumprimentar é o básico.
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