ELEIÇÕES 2024
Confira na íntegra a entrevista com Marcos Mendes, candidato ao governo baiano
Por Yuri Pastori l A TARDE BA

Nesta entrevista, o candidato ao governo do estado Marcos Mendes (Psol), que já foi candidato a vereador e deputado estadual, explica porque é candidato pela terceira vez ao Palácio de Ondina, critica a política de alianças do governo Rui Costa e o projeto do BRT do prefeito ACM Neto.
É a terceira vez que o senhor disputa a eleição para o governo do estado, o senhor também já foi candidato a vereador e deputado estadual. De que forma o senhor pretende convencer o eleitor dessa vez? Porque quer ser governador agora?
Ao longo do tempo, esse processo politico é muito injusto. Para você ter uma ideia, nós vamos ter 13 segundos de televisão. Uma outra coisa importante é a estrutura financeira, o PSOL teve R$ 21 milhões nacionalmente enquanto que o MDB teve R$ 214 milhões, o PT em torno de R$ 204 milhões e R$ 185 milhões do PSDB. Eles tiveram 10 vezes o que nós do PSOL tivemos. É a campanha do tostão contra o milhão e do Davi contra o Golias. O PSOL tem um ponto fundamental que é independente e autônomo. Nós colocamos o dedo na ferida, porque nós não temos rabo preso com ninguém. Nós sabemos de todos os problemas do estado da Bahia e o único espaço real que nós temos para poder divulgar isso, é o espaço aqui como o Jornal A Tarde, inclusive, a gente agradece esse papel democrático do jornal de ouvir todas e todos sem nenhum tipo de discriminação e também o papel fundamental de alguns blogs e algumas rádios, porque vários outros meios de comunicação fecham as portas para que nós possamos colocar nossos desafios, propostas e ideias. Vou dar um exemplo não consegui até agora uma entrevista em nenhum blog e nenhuma rádio de Vitória da Conquista e da região sudoeste da Bahia, mas a apesar disso várias propostas de professores e professoras da Uesb tem dado apoio a essa luta da gente, tem nos ouvidos e dialogado com a gente seja em Conquista e Itapetinga, de qualquer forma vai ressoar essa proposta que estamos passando pra mudar a cara do estado da Bahia. Estamos usando muito as redes sociais, o twitter, o facebook, o instagram pra possamos informar a população as mazelas desse estado que não são ditas na propaganda do governo do estado, que gastou quase R$ 210 milhões em 2017 justamente para tentar iludir as pessoas e também para gente deixar claro que determinados candidatos como o José Ronaldo do DEM de Feira de Santana, que o grupo dele aqui colocou fuzis, deu tiros de bala de borracha, botou gás lacrimogênio e spray de pimenta em professores e professoras que estavam lutando por direitos, inclusive o vereador Hilton Coelho, que hoje é candidato a deputado estadual estava nessa luta e resistência e ontem (22) na Câmara de Deputados foi retaliado por Carbalhal justamente porque Hilton estava ao lado da luta de professores e professoras. Nós do PSOL não queremos ficar nos acordos de bastidores, não queremos fazer nenhuma negociata, a gente quer transparência, independência e por isso que hoje Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, deputado estadual, recebia na época uma media de 7 ameaças de morte por mês e hoje anda com 5 seguranças, todo um esquema de segurança justamente para não ser assassinado. Ele fez a CPI das milícias e botou mais de oitocentas pessoas na cadeia. Marielle Franco também que não se rendeu a essa modelo tradicional de fazer política, nossa vereadora, a quinta mais votada do Rio de Janeiro, começou a denunciar as mazelas do Rio de Janeiro e foi covardemente assassinada. Eles acham que Marielle morreu, ela não morreu. Ela é uma raiz e essa luta dela está sendo multiplicada com várias outras candidaturas negras de mulheres. Ela que é uma mulher negra, LGBT, uma mulher pobre da favela e que não se rendeu a esse modelo tradicional. Então essa é a nossa luta. Como estava dizendo, esse candidato José Ronaldo de Feira de Santana, o grupo dele aqui com ACM, o neto, mandou a Guarda Municipal dar tiro, bala de borracha, spray de pimenta em professores e professoras. Ele também é um partido onde todos os seus deputados e senadores, toda a sua bancada votou a favor de retirada de direitos de trabalhadores e trabalhadoras e da nossa população, principalmente a população mais pobre. Um exemplo é a reforma trabalhista, a terceirização, a emenda 95 que é o teto congela por 20 anos investimentos em educação, saúde e políticas públicas sociais, votaram também pra salvar Temer de investigação, entrega do pre sal e, com certeza, ia votar a reforma da previdência, não votou porque era ano eleitoral, mas querem voltar à tona essa votação para retirar o direito da nossa população. Então o DEM está intimamente ligado com o golpista Michel Temer e com o Geddel Vieira Lima que hoje está na Papuda, já denuncio os esquemas de Geddel desde 2010. Ele (José Ronaldo) vem com o papo que quer melhorar a educação, a saúde, a assistência social e quer está do lado do povo, mas o histórico do DEM é extremamente triste, inclusive com o povo negro. Nós somos um estado que tem a maior declaração de população preta e fora da África somos a capital mais negra desse planeta e de repente eles fizeram a Adin contra as cotas raciais e as populações quilombolas, inclusive é um partido racista. Outro é João Henrique foi considerado um dos piores prefeitos do Brasil, um dos piores que já passou por Salvador, com indícios fortíssimos de desvio de dinheiro público no caso das Transcons, que teve uma audiência se não me falha a memória em 2010 na Câmara de Vereadores de Salvador em que estava Cláudio Silva, que era o tal superintendente da Sucom, e Kátia Carmelo, que tinha sido superintendente da Sucom e também foi secretária do Planejamento de João Henrique, ela denunciando que ele tinha desviado R$ 500 milhões de Transcons, transferência do direito de construir, em vez de outorga onerosa que entra o dinheiro para o município, ele fez Transcons, onde quem se beneficia são os órgãos privados. A contrarresposta dele, que estava com um calhamaço de documento, é que ela na época como superintendente da Sucom houve um desvio de mais de R$ 700 milhões, ou seja, juntando os dois mais de R$ 1 bilhão, então eles hoje vem aqui com uma máscara. Inclusive, eu disse no debate que não há nada de ruim que não possa piorar. Agora ele está defendendo um candidato fascista, racista, homofóbico, que defende estupro, a morte, defende todo tipo de truculência, volta da ditadura, de tortura, então o que queremos dizer nessa sociedade, existe uma possibilidade grande, nós estamos subindo nas pesquisas, a gente não acredita nesse modelo de pesquisa, em um debate de um segundo turno que tem o PSOL , que vai ser muito ruim caso não seja, como a população quer mudança e o novo não vai colocar José Ronaldo. Então o PSOL tem uma expectativa grande de crescer e subir e no segundo turno, então a gente vai ter uma oportunidade muito clara da gente demonstrar o modelo dessa gestão completamente equivocada do atual governo do PT aqui no estado.
O senhor não fez alianças com muitos partidos. Como pretende governar sem apoios?
Estamos juntos com o PCB e vários outros movimentos sociais. Na verdade o que foi que o PSOL adotou inclusive nacionalmente. A nossa chapa majoritária é formada por Guilherme Boulos e Sônia Guajajara. Boulos é líder de um movimento que luta por moradia, MTST e Sônia é uma líder indígena nacional conhecida internacionalmente. Pela primeira vez uma indígena em uma chapa majoritária nacional. Nós adotamos o seguinte: nós não queremos fazer aliança com nenhum partido fisiológico. Eles acabam vendendo tempo de televisão. Nós queremos alianças com partidos programáticos e vários movimentos sociais, luta por terra, teto, várias comunidades quilombolas, comunidades tradicionais.
O senhor reclamou que tem 13 segundos na TV. Não seria necessário essas alianças para aumentar o tempo de TV?
Em hipótese alguma. Me diga um resultado positivo que teve no estado com essas alianças. Vou dar um exemplo, o grupo do José Ronaldo com 37 anos, desde de que ACM foi indicado pela ditadura militar em 1967, depois quando sai da ditadura foi prefeito biônico em 1971 e depois eleito, me diga o que foi que mudou? Ele deixou o estado como o 6° mais rico, mas a 4° população mais pobre. Agora com toda a aliança que o PT vem fazendo é o 4° mais rico mais com a 5° população mais pobre. O que mudou? Porque esses partidos quando entram fazem um acordo de bastidores para que o dinheiro seja desviado de alguma forma então quando entram no poder eles não podem fazer nada. Quem está comandando o governo atual? É João Leão e Mário Negromonte que são do PP, um dos partidos golpistas, Otto Alencar e agora Coronel do PSD, outro partido golpista. Então, nós temos dois pontos fundamentais para governar esse estado. Nós queremos fazer a democratização do estado justamente para evitar esses acordos de bastidores com esses partidos fisiológicos. A gente tem o artigo 31 que fala justamente da participação popular, extremamente antidemocrática essa constituição do estado da Bahia, porque a constituição federal fala de plebiscito, de referendo aqui a gente só fala em plebiscito quando é para destituir e restituir municípios. Então no artigo 31 diz que você pode ter um controle social do executivo pelas pessoas. Você não tem nenhum tipo de lei que referendasse isso, nenhum tipo de decreto. O que a gente quer um decreto para a participação efetiva da população, jogar as pessoas pro lado de dentro do tabuleiro. Esse é o ponto fundamental. A outra coisa é a gente combater essa desigualdade, porque somos o 6°,7° estado mais rico, pois varia, e somos o 5° povo mais pobre. Santa Catarina eles são o 5° povo mais rico a distribuição de renda ocorre, porque a concentração de renda existe? Justamente por causa desses acordos de bastidores.
O seu partido PSOL carrega a bandeira de que é o novo na política. No que vocês são diferentes dos outros partidos?
Nós somos o único partido que não estamos envolvidos nesses esquemas da Lava Jato e do mensalão. Estamos dentro do Congresso Nacional, mas nos envolvemos nisso. De todos os nossos parlamentares, nenhum foi citado em delação, pelo contrário tem denunciado toda a sujeira. Vou dar um exemplo. Se Eduardo Cunha está preso a denúncia é do PSOL. Se Michel Temer está sendo investigado denúncia do PSOL. Se Renan Calheiros também está sendo investigado, denúncia do PSOL. O acordo que faziam de caixa 2 para ser perdoado foi recuado porque o PSOL entrou na madrugada lá pressionando e eles tiveram que recuar. Então o PSOL vem demonstrando que é um novo partido contra essa velha política. E o PSOL votou contra as votações das reformas trabalhista, terceirização, a emenda 95, que é o teto dos gastos para a saúde, educação e políticas sociais, entrega do pré-sal. Eles queriam aprovar a reforma da previdência, os parlamentares do PSOL em bloco votaram contra tudo isso. Nós não fazemos oposição por oposição. Se tiver algum projeto bom em benefício da sociedade tenha certeza que votaremos a favor.
O senhor propõe uma rede de proteção social na área de segurança pública para acesso dos mais pobres ao sistema de justiça. Pode explicar melhor essa proposta?
Nós temos, por exemplo, a defensoria pública. Temos um contingente pequeno para atuar e defender essa população. Temos hoje um sistema prisional que você encarcera jovens negros e negras. Nesses últimos anos, se multiplicou. Nos últimos dez anos duplicou o sistema carcerário para os homens negros. E quintuplicou o número de mulheres presas nos últimos 17 anos. Quando você entra lá é uma vergonha aquele sistema prisional. Sem nenhum tipo de estrutura. Não tem programas de ressocialização efetivos. As pessoas tratam como verdadeiros animais os parentes das vítimas. Não têm nenhum tipo de respeito. Não tem nem local de fazer as necessidades fisiológicas. É um total abandono dessa população. Quando a gente fala de segurança as pessoas pensam logo num processo policialesco. Eu quero dizer que segurança não é problema de dinheiro. Tem mais de R$ 4 bilhões que se gasta em segurança. Aumentou o número de viaturas, está dizendo que está contratando mais gente , o número de equipamentos individuais, coletes a prova de bala, número de projéteis, mas a violência só faz aumentar. Hoje somos o estado que mais comete feminicídios, em números absolutos o que mais mata jovens negros na periferia e somos o estado que mais encarcera também. O Brasil é o segundo país que mais encarcera e em números absolutos é o terceiro, só perde pra China, mas como a China tem dez vezes a nossa população, então proporcional somos o segundo que mais encarceramos essa população. Então esse modelo repressivo é totalmente equivocado. Nós, pensamos segurança pública é políticas sociais para essa população. Investimento pesado em educação, não é atoa que mais de 800 escolas no campo foram fechadas. Só em Salvador mais de 20 escolas. Pela Bahia, centenas de escolas fechadas. Então é mais escolas e menos presídios. Saúde pública de qualidade com saneamento ambiental. É uma violência quando você vai na periferia e a população está submetida ao esgoto na sua porta. Então você não tem um trabalho preventivo nessa área de saneamento. Políticas sociais que faltam para idoso, deficiente, juventude, geração de emprego e renda. Tudo isso tem faltado nas periferias e tem aumentado a violência.
Outro ponto é política para o campo. 80% das terras são públicas, o que poderíamos fazer? Temos a maior população rural quase 24 milhões de pessoas. Tem mais de 700 famílias de agricultores familiares. Temos 1.000 comunidades de feixo de pasto, 20 etnias indígenas e milhares de comunidades camponesas. Então qual é a proposta do PSOL fazer a regularização fundiária de todas essas comunidades tradicionais. Dá pra fazer isso no primeiro ano de governo. Não precisa gastar dinheiro com desapropriação porque as terras são do próprio estado. É só fazer parcerias com universidades para mapear essas terras. Porque não fazemos essa regularização? E dá todo apoio técnico o Ebda foi extinto. Tem o papel fundamental de levar apoio técnico e logístico. Como é que você tem a maior população rural aqui na Bahia e governo extingue a Ebda? Outra coisa é o Derba tinha um papel fundamental não só de construir, mas fazer a manutenção das estradas para o escoamento da produção dessas comunidades. Foi extinto pelo atual governo. E tem a Cesta do Povo, antes dela ser extinta todas as comunidades tentaram conversar com o governador e deu uma proposta, vale lembrar que a cesta tem a sexta capilaridade de lojas, são 278. O que foi que disseram: “vamos deixar a cesta para escoar os produtos das comunidades”. Agora imagine que revolução nós íamos fazer na Bahia. Você ia distribuir renda, ia movimentar a área rural como também fomentar a economia. Isso ia provocar também um êxodo urbano.
A gente precisa trabalhar com a valorização dos profissionais de segurança pública você gasta R$ 4 bilhões em segurança mais você tem um baixo salário, alta taxa de suicídio e de depressão dos profissionais. Por exemplo, carreira única você pode entrar como soldado e chegar a coronel. Em 2009 foi aprovado uma carreira superior para a polícia civil, mas até hoje eles recebem como nível médio. Isso é um absurdo vamos acabar com isso. Outro ponto é a inteligência. Investir pesado na investigação e inteligência. Sabe quanto se investe dos R$ 4 bilhões na inteligência? 0,4%. De cada 100 homicídios só 8 são investigados. E só 2 % são solucionados.
Tivemos vários casos de má conduta de policiais aqui no estado. Podemos citar o caso do artista plástico Nadinho em Candeias que foi morto por policiais militares. Eles fizeram a operação no endereço errado e acusaram o artista de estar armado, mas isso não ficou provado. Quais são as propostas do senhor para que o policial não cometa esse tipo de equívoco?
A polícia é um braço armado originado da ditadura militar. O treinamento desses policiais é como se fosse treinamento de guerra. Ele entende que a população é inimiga. Porque naquela época qualquer pessoa que se contrapusesse à ditadura era subversiva. Então foram tratados assim e até hoje esses policiais são formados dessa forma. Como se a população fosse inimiga. Isso é um modelo de polícia. Não estou culpando os policiais, eles são vítimas. Porque hoje nós temos a política que mais mata, aqui na Bahia, e também os policiais que mais morrem. É como se a gente tivesse em um mundo de guerra. Temos que modificar completamente a formação. A nível nacional, Guliherme Boulos está defendendo a desmilitarização da polícia. A gente quer um ciclo único tanto a política repressiva quanto a preventiva e uma pessoa que tenha direitos, porque hoje ele é tratado como um subcidadão, ele não tem direito a greve, de participar e se filiar a partidos políticos.
A gente também teve um caso de um policial que era um dos suspeitos de envolvimento no caso Geovane, sequestrado, morto, esquartejado por policiais da Rondesp em 2014. O policial estava solto e foi flagrado assaltando no bairro do Imbuí este ano. Esse policial estava afastado da rua, mas recebia ainda o salário do estado. Como agir nesses casos?
Ter uma corregedoria forte. Tem que ter um controle popular e social desse modelo de polícia por meio de um conselho. Existe um corporativismo muito grande dentro da polícia, a gente precisa combater esse corporativismo.
O senhor é a favor da redução da maioridade penal?
Completamente contra. Não vamos resolver o problema da violência diminuindo a idade das pessoas. Vamos resolver com políticas sociais, inclusão social, distribuição real de renda. As políticas sociais resolvem de imediato já começar a mudar essa realidade.
Quais as ideias do seu programa de governo para lidar com questões relativas a infância, juventude, mulheres, pessoas com deficiência e idosos?
Você tem o Estatuto da Criança e do Adolescentes (ECA) mas ele não funciona como está. Salvador nós temos mais de 150 mil crianças fora das creches. Existe inclusive uma denúncia no Ministério Público Federal (MPF) que o atual prefeito ACM Neto só gasta 40 % vem do Fundeb para passar para essas creches e tem um programa do governo federal o Brasil Carinhoso que ele não repassa praticamente nada. Então essas crianças estão completamente desguarnecidas. Essas mães precisam trabalhar e acabam deixando essas crianças a própria sorte porque não tem com quem deixar. Com a ausência de políticas sociais viram presas fáceis para entrar na criminalidade. Vão ser recrutadas pelo tráfico. A mesma coisa as mulheres. Hoje em Salvador você tem em torno de duas delegacias para a mulher. Somos o terceiro estado com o maior número de feminicídios. Não tem um trabalho preventivo. Você tem a lei Maria da Penha, mas não funciona como deveria funcionar efetivamente. Não adianta prender as pessoas e não ressocializar.
O senhor criticou a política de agricultura familiar do governo de Rui Costa, inclusive condenou a extinção do Derba, da Ebda e da Cesta do Povo. Quais as suas propostas para o setor?
Quem manda no governo hoje, Otto Alencar e João Leão que tem ligação com o agronegócio. Um irmão de Leão é de Formosa do Rio Preto. No primeiro ano do governo Rui Costa teve o primeiro grande desmatamento do oeste da Bahia, 158 mil hectares, justamente em Formosa do Rio Preto. Ele está ligado ao “agronegócio do veneno” que vem envenenando nossas terras, devastando nossas florestas inclusive o cerrado, que é a nossa caixa d’água do Brasil. Temos o segundo maior aquífero do Brasil. Estamos poluindo nosso ar, grilando as terras, expulsando as comunidades tradicionais. É isso que tem feito essa aliança com o agronegócio. Eles tem incentivos fiscais, então não tem arrecadação com o agronegócio. Nós queremos incentivar a agroecologia, baseado na permacultura. Queremos trazer saúde para nossas mesas, não quer trazer veneno. Se for pesquisar o oeste da Bahia, o leite que amamenta as crianças já está contaminado com agrotóxicos. Inclusive, a Bahia é o local que tem o maior número de conflitos agrários dividindo com o Pará, além de ter a maior população agrária e o maior número de agricultores familiares. No ano passado foram 130 conflitos agrários e em torno de 11 pessoas morreram, sete na mesma comunidade em Una, maior distrito de Lençóis. Coincidentemente de uma comunidade quilombola que estava negociando a regularização de terras. Então se o governo agisse, como deveria agir com essa regularização você já diminuía de imediato. Por exemplo, se ele regularizasse os fechos de pasto, 50 % dos conflitos deixariam de existir. E se fizesse a regularização fundiária de todas as comunidades ia diminuir assustadoramente os conflitos agrários, ia incluir as pessoas, distribuir renda, fomentar a economia regional tudo isso depende do governo. É muito simples fazer isso, porque as terras já são públicas. As discriminatórias que estão fazendo para saber se são terras griladas ou não já chegou a conclusão que a maioria das terras são griladas. No extremo sul, os eucaliptos de papel e celulose estão destruindo nossa Mata Atlântica. Concentra renda, gera poucos empregos, expulsa as comunidades tradicionais, destrói o meio ambiente e fortalece só um ente. Por isso que temos uma das populações mais pobres do país, favorece os grandes em detrimento das comunidades tradicionais. O ponto de fomento do DesenBahia este ano está previsto mais R$ 200 milhões para investir no agronegócio e pra investir na agricultura familiar pouco mais de R$ 250 mil, entre R$ 250 e R$ 270 mil. Menos de 1% detém 45% das terras. Boa parte delas griladas. Então, aumenta a violência no campo. Existe uma pesquisa do IBGE que diz que 70% das famílias querem voltar para as suas atividades no campo. Não volta porque não tem perspectiva de vida. Se você dá mais perspectivas e emprego, combate essa violência. Nessas minhas andanças pelo interior, conheci em Itororó a carne do sol. Lá não tem um matadouro e frigorífico público. Isso tem que ser feito pelo governo do estado e fazer uma propaganda para o turismo. Em Maiquinique tem a política de mineração que tem todos os incentivos fiscais e ao lado tem um pequeno laticínio. O laticínio gera 80 empregos e a mineração de grafite gera em torno de 100. E esse laticínio vai fechar as portas porque é uma carga tributária pesada. O grafite gera um passivo ambiental grande. Tem todos os incentivos fiscais, depois vai embora e deixa o passivo e as pessoas desempregadas. A Bahia tem alta taxa de desemprego e Salvador a capital do desemprego. Vou dar outro exemplo, a Azaleia em Itapetinga. Teve todos os incentivos fiscais e de uma hora pra outra fechou todos os galpões. Gerou uma crise social grande lá. As pessoas ficaram desempregadas na área. O que o governo deveria fazer pegava aqueles galpões fazia um sistema de cooperativa de calçados. Aí você ia incluir uma quantidade muito maior. Não ia ser uma empresa pra gerar lucro para uma empresa só ou para um grupo só, ia distribuir renda.
Como gerar empregos e dinamizar o turismo?
Temos o maior litoral. A Bahia é belíssima, divide com o Rio os dois estados mais belos. Tem outros claros, Ceará, João Pessoa. No nordeste temos vários estados que são bem bonitos. Rio Grande do Norte, Recife e outros mais. Mas, a Bahia, hoje pra mim, divide com o Rio entre os dois mais belos. Você tem todo tipo de turismo para desenvolver e gerar emprego e renda. Tem o turismo religioso, principalmente na região de Bom Jesus da Lapa, eu já fui com Plínio de Arruda Sampaio na caminha das águas, tem as romarias. Na caminha das águas tem várias coisas importantes, poque você tem os rios, o rio São Francisco que está hoje agonizando. Eu fui contra a transposição. Isso tem mostrado que eu, Milton Santos, Aziz Ab’ Saber, Aldo Rebouças, que é geólogo. Todos eles estavam certo. Veja a catástrofe que é aí. Começou com 6 milhões hoje passou dos 10 milhões e está tudo abandonado. Só tem 5% da mata ciliar. Dos 105 municípios que banham grande parte joga esgoto. Então precisava revitalizá-lo. Eu tô vendo o candidato Ciro Gomes batendo bola com Marina dizendo que não se resolveu e que vai se resolver. É um negócio que não vai se resolver nunca. Porque temos a maior válvula de transpiração do planeta e a perda de carbono é muito grande para você fazer transposição. Mas você tem um rio daquele maravilhoso que você poderia desenvolver o turismo náutico. Hidrovias poderiam ser desenvolvidas nele, por exemplo, o Sobradinho. Poderíamos desenvolver o turismo científico. Você vai no Parque de Morro do Chapéu, um turismo científico fantástico. Na região de Campo Formoso, você tem as cavernas, pra fazer espeleologia. Na Chapada Diamantina, o ecoturismo. Poderia gera empregos se desse esse incentivo que falta no governo atual quanto no anterior.
Qual a sua posição sobre Salvador ter dois Centros de Convenções?
Acho um absurdo. Independente das diferenças entre o governo estadual e municipal, a gente precisa ter diálogo. Não tem necessidade nenhuma de ter dois centros de convenções. Vou dar um exemplo que poderia ter resolvido o problema. Lembra do esquema da Fonte Nova? Eu denunciei em 2014. Eu já denuncio desde 2010 que houve uma parceria entre o governo do estado na época era Jacques Wagner junto com a OAS e Odebrecht e eles aí resolveram construir de qualquer forma. O Dique do Tororó e o seu entorno em 1959 foi tombado. Então tanto a Fonte Nova como o Balbininho foram tombados. O Iphan cruzou os braços. Esse consórcio acabou derrubando a Fonte Nova, que não deveria ter derrubado. A Fonte Nova tinha os pilares verticais em perfeita qualidade e uma grande parte dos horizontais também, só aquele que caiu e já vinha sendo denunciado na época e não fizeram nada. O que o pessoal ia fazer todo o processo de revitalização para a manutenção dos verticais que estavam perfeitos , porque ali era uma grande lagoa, era área de charco , então tem bases profundas e ia trocar todas as horizontais, então ia ficar uma Fonte Nova moderna sem precisar botar pra baixo, mas aí dentro desse projeto alternativo que tinha você tinha uma piscina olímpica. Em cima da piscina um sistema sanduíche, uma de saltos ornamentais, uma de hidro massagem, ia fazer um grande shopping que ia se alto sustentar. Hoje sabe quanto está se gastando com a Fonte Nova em torno de R$ 150 e R$ 160 milhões por ano. Imagine esse dinheiro que poderia estar sendo investido no campo, nessas comunidades tradicionais. Na parte de cima ia ter um parque poliesportivo e onde estava o Balbinho seria o centro de convenções. Ia ser um projeto maravilhoso. A parte de estacionamento ia unir tanto Brotas quanto Nazaré. Terminava a Copa a população usaria aquilo para hidromassagem, saltos ornamentais. Edvaldo Valério treinava ali na Fonte Nova, idosos, hoje você não tem nada disso. Era um trabalho social essencial que o governo do estado fazia com a Fonte Nova. Hoje chama Arena Itaipava, mais uma vez beneficiando entes privados e que não tem retorno nenhum para a sociedade. Os indícios fortíssimos de esquemas de desvios, inclusive Jacques Wagner está respondendo processo agora. Se você fizer uma transparência, existem pessoas que recebem salários altíssimos nesses esquemas da Fonte Nova, até hoje. Aquilo tem que ser investigado com muita transparência. Eu vencendo, tenho que chamar o prefeito pra conversar sobre o centro de convenções. Tem que chegar a um acordo para ficar com um só, seja estadual ou municipal. A proposta é fazer um estadual, sem necessidade de um municipal.
Qual a sua posição em relação ao BRT?
Eles estão acelerando o BRT, mas nós queremos discutir outros modais de mobilidade. Tanto o estado quanto o município são altamente autoritários. Aprovam PDDU sem discutir com a população, com a academia, com o Ministério Público. A gente fez três encontros (plenárias) no MPE para discutir o PDDU . A Dra. Cristina Seixas, Dra. Hortência promoveu seminários e convidou a academia, universidade federal e estadual estava lá, foi fantástico o encontro. Os técnicos deram ideias belíssimas de estudos que já são feitos há muito tempo. Léo Prates, presidente da Câmara Municipal, e outros vereadores estavam lá, entrou por um ouvido e saiu por outro. Os únicos vereadores que estavam de acordo foi o nosso companheiro [Hilton] e Aladilce que participou. O que precisamos ouvir mais as pessoas. Quando você está discutindo mobilidade você tem que ouvir o CREA , “A Cidade também é nossa” que é um grupo maravilhoso, várias entidades ambientalistas. Mas o que ele fez, impôs um projeto de R$ 820 milhões, mais caro do Brasil, duas ou três vezes mais caro. O BRT é um modelo arcaico e obsoleto. As pessoas estão recuando o que foi feito. O pessoal de Curitiba veio aqui pra dizer que o BRT foi um equívoco lá. Depois de um certo tempo engarrafa e privilegia carros individuais e não um transporte coletivo. Ele foi aprovado para ser um transporte coletivo, mais tem seis pistas quatro para carros individuais, só duas para coletivos. A demanda também não justifica. A demanda é um quarto do que eles disseram para aquela situação. Você poderia ter alternativas como, por exemplo, o BHLS que é uma via exclusiva para um ônibus climatizado. O Tribunal de Contas está investigando. Antes de aprovar a primeira investigação de Temer, eles acabaram liberando a primeira parcela R$ 300 milhões. Justamente quando os cofres estavam fechados, então não tinha orçamento para isso. A bancada de ACM Neto do DEM voltou a favor da salvação dele [Temer], para ele não ser investigado. Outra coisa, ele não tem o projeto executivo, só o conceitual além de várias outras irregularidades. Não tem a rima do projeto executivo e do básico. Não teve o pedido de outorga para fazer o pedido hídrico. Se já está desmatando, você tem que ter isso. E também o resgate de fauna. Tanto o hídrico como o de fauna é pelo estado da Bahia. Mas o estado está de braços cruzados. Eu acho, que tem um acordo do estado com o município pra isso, porque parece que ele isentou o ISS do metrô. A gente fez várias denúncias no Inema. O Inema fez intervenção quando estavam fazendo desmatamento. Disseram que ali tinham várias abelhas em extinção. Outros animais não fizeram o estudo e o resgate de fauna.
A prefeitura alega que tem todas as licenças ambientais?
Não tem é mentira. Está no Ministério Público. Nós estávamos lá presentes. Outros advogados inclusive, ambientalistas. O Instituto Ambientalista do Brasil (IAB) inclusive fez esse levantamento com várias irregularidades, inclusive o projeto conceitual não tinha o projeto de engenharia. Faltava o projeto. Não tem nada disso legalizado. O estado poderia fazer a intervenção. Imagine, o projeto vai destruir 579 árvores. E tamponar dois grandes rios, Camarajipe e Lucaia. Um absurdo. Tantos os rios quanto as árvores têm um papel importante para deixar o clima ameno. Por exemplo, ali tem aquelas árvores todas , carros passam ali, absorve o CO2 e libera oxigênio pra gente. A mesma coisa é o BRT de Feira de Santana de José Ronaldo. O projeto inicial mais de mil árvores iam ser devastadas. É um projeto de mobilidade, que eles querem favorecer as empresas de ônibus. A comunidade foi pra rua, fez pressão, denunciou todos os esquemas que eles querem fazer, elevatórias de cimento, forma pra cima e ele teve que recuar. Hoje está lá um elefante branco. As mesmas irregularidades e lá não tinha nem um projeto de desenvolvimento urbano. Crimes ambientais lá da mesma forma que aqui. São projetos também ilegais. Estamos num movimento grande, mesmo assim ele [ACM Neto] está acelerando. Infelizmente, Dra. Cíntia agiu como se estivesse fazendo uma defesa nos pontos do BRT que a gente ficou muito triste, isso inclusive a gente fez um recurso nacional. Espero que com ele, a gente ainda consiga barrar o BRT, que é uma das obras mais equivocadas que está tendo aqui na Bahia e em Salvador, da mesma forma que foi equivocada com José Ronaldo em Feira de Santana. Quando assumirmos esse governo vamos parar essas obras na hora, porque temos que ouvir a população um projeto importante de mobilidade para o estado como um todo.
A gente sabe que a fila para realizar alguns tipos de cirurgias nos hospitais é uma realidade. Como resolver o problema da falta de vagas e da regulação?
Meu padrasto ficou 5 dias na UPA de Itapuã, foi muito bem atendido pelos profissionais que são verdadeiros heróis, mas se eu não denunciasse e fosse ao Ministério Público, denunciei nos blogs, acionei os hospitais, fui pra cima da regulação depois do 5° dia ele foi regulado e foi para o Hospital das Clínicas e assim foi atendido com excelência. Hoje ele está vivo. Muito bem. Está sendo medicado. Uma nutricionista viu que ele estava tendo uma alimentação irregular. Queria parabenizar o pessoal do Hospital das Clínicas. Ele foi recebido por Dr Lindemberg, Charles que é um profissional do EBSER teve uma enfermeira que resolveu o problema de uma escara porque ele ficava numa posição só, tem também o diretor atual do Hospital das Clínicas, que é médico pneumologista. Meu padrasto está numa qualidade de vida excelente. Então, queria dizer porque não funciona. O SUS é um programa maravilhoso surgiu na década de 80 por um programa de sanitaristas, em 86 foi o ponto alto em que instituíram o programa universal para atender a todos. 1990 foi aprovado o SUS. 1991 Otto Alencar foi nomeado Secretário da Saúde por ACM, a partir daí ele ia ser eminentemente público mas com alguns convênios privados, em alguns lugares você fazia convênios privados até resolver o público. Mas os privados têm que ter o interesse real, público, mas não foi isso que aconteceu. Foi o que aconteceu na época de Otto Alencar ele começou a fazer vários convênios privados no interior, ele é da área de ortopedia. Nessa época tinha mais cirurgias ortopédicas na Bahia do que no estado de São Paulo. A partir daí, Paulo Souto também começou a privatizar, colocar regras e desarticular o sistema público de saúde. Isso ao longo de todo o governo carlista. Agora, o governo do PT traz esse modelo carlista, quando trouxe Otto Alencar, Mário Negromonte, João Leão e agora Coronel, e todos os hospitais são parceria público-privada ou administradas por OS, deixou de ser eminentemente público como o Roberto Santos, o Clériston Andrade, o HGE e outros. O Hospital do Subúrbio, por exemplo, você recebe hoje R$ 190 milhões por ano, é quase 10 vezes o que recebe o Clériston Andrade, esse a gente não tem uma transparência real porque eles acabam analisando os hospitais como um todo. Mas deve ser 10, 15 não sei se chega a 10 milhões de reais por mês. Você tem uma barreira de entrada em determinados hospitais para fazer cirurgia. Ele não é aberta para qualquer pessoa que chegue lá pra fazer uma cirurgia como Clériston Andrade e o Roberto Santos, por exemplo. É um hospital de excelência sim, mas não atende todo mundo. É um desperdício de dinheiro para beneficiar o ente privado. Lá acho que você tem a Allianz com a Promédica administrando. Ou seja, uma empresa financeira administrando hospitais. Você tem uma empresa que trabalha com produtos agropecuários, muda só o CNPJ. Essa mesma empresa administra o Instituto Fernando Filgueiras (IFF), que administra vários hospitais a exemplo do Hospital Carvalho Luz, em Nazaré, que deixou de agosto até dezembro os profissionais de saúde sem receber salários, eles iam fazer uma demissão coletiva e sentar com o advogado para dialogar, UPA de Feira de Santana, Periperi, Jequié, o Hospital Eládio Lasserre, a SM Serviços Hospitalares junto com a Metro Engenharia, que é de Mário Prates, primo carnaval de Léo Prates, presidente da Câmara. Depois das licitações com a prefeitura, essa empresa aumentou o faturamento em mais de quatro vezes com a Prefeitura de Salvador está licitando com o estado e o Hospital Couto Maia quando foi construído em Cajazeiras foi a Metro Engenharia e a SM Serviços hospitalares, mesmo dono do IFF. Mudam os nomes, mas os donos são os mesmos. Ele é dono de empresa agropecuária, de empresa de engenharia, estão administrando hospitais. Então é um grande esquema na saúde pública administrar hospitais públicos, aí existem indícios fortíssimos de dinheiro público enquanto deveria fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS). Em vez de contratar os profissionais REDA deveria fazer concursos públicos. O governo do estado abriu mão do concurso público. Nós queremos fazer concursos e valorizar o servidor público de saúde para que ele tenha uma dedicação exclusiva, recebendo bons salários para que eles não trabalhem em 3 ou 4 hospitais. Para resolver o problema da regulação, a gente precisa fazer o que? Eles dizem que a atenção básica é responsabilidade do município, mas o governo do estado precisa ter essa responsabilidade, o que a gente chama de municipalização solidária. O governo do estado em parceria com o município faz o fortalecimento da atenção primária que é responsável por 70 a 80% dos atendimentos. Fazer concurso público para os agentes de saúde. O agente de saúde tem que ser retirado da própria comunidade e fazer esse atendimento preventivo, ir nas casas das pessoas saber se estão utilizando o medicamento de maneira correta, tirar pressão, fazer um trabalho preventivo associado com as comunidades populares. Os saberes populares, as ervas, a medicina alternativa, a naturopatia, a homeopatia junto com a alopatia, a medicina alternativa com a tradicional, se a gente faz um mixer disso, então você diminui os medicamentos e a gente favorece as empresas de saúde e a indústria farmacêutica. A gente poderia reduzir os gastos com medicamentos, hoje temos vários medicamentos que o governo acaba fomentando esse modelo tradicional de política. Na década de 20 os Rockefeller na década de 40 os Rothschild eram empresas de petróleo que pegaram os royalties do petróleo e colocaram milhões de reais nas universidades americanas e eles queriam mudar o currículo voltadas para a indústria farmacêutica, eles queriam desenvolver essa indústria, a medicina da doença virou a medicina da saúde. Antigamente essas pessoas eram controladas de maneira natural e hoje são esses remédios que tem os efeitos colaterais. O modelo da gente é esse modelo integrativo (integra os saberes de várias medicinas). Se você faz essa atenção básica funcionar. Você tem uma argola de ouro em um focinho do porco. O Hospital do Subúrbio gasta muito dinheiro e boa parte desse dinheiro é para o lucro dessas empresas que administram ele, mas no entorno há uma atenção primária de mais ou menos 38,8% então você não chega a 40% da atenção básica do município, é disso para mais baixo. Então, se não tem uma atenção básica de qualidade, você superlota os outros hospitais. Então, vamos fazer essa municipalização solidária e uma atenção básica de qualidade, preventiva fortalecendo, valorizando os agentes de saúde que é fundamental e essas equipes de saúde da família para que esse trabalho funcione para que a gente desafogue esses hospitais de média e alta complexidade. Se você desafoga esses hospitais de média e alta complexidade, fortalece os hospitais públicos de qualidade e diminui o lucro dessas empresas a gente vai aumentar o número de leitos , profissionais de saúde valorizados e bem remunerados eu digo que essa fila da morte vão ser as filas da saúde e a regulação da vida, as pessoas vão ser atendidas com qualidade.
A Bahia deve fechar o ano com um deficit na previdência de R$ 3,3 bilhões e a expectativa para o próximo ano é que esse deficit aumente para R$ 4 bilhões. O governador já declarou que esse quadro é insustentável. Quais as suas propostas para enfrentar essa questão?
É bom que a gente diga que os governos carlistas causaram muito mal ao estado da Bahia. Esse deficit da previdência no Brasil, que José Ronaldo disse que é a mesma situação aqui é mentira. A seguridade social é superavitária. A tese de doutorado de Denise Gentil da UFRJ provou isso. Foi feita uma auditoria no Congresso Nacional que disse o mesmo. O que eles querem aqui é favorecer as empresas de saúde privadas, esse é um problema sério que está acontecendo no nosso país. Aqui ouve um desejo muito grande do governo quando fez o programa não foi sustentável. Os trabalhadores pagam determinados valores na ativa e há uma política atuarial. Paulo Souto fez a privatização da Coelba. Como existia um rombo causado principalmente pela política estadual dos governos carlistas na época Paulo Souto que começou com Antônio Carlos Magalhães, um dos maiores negócios do país. O que é um absurdo. Eu acho que o negócio da energia elétrica tem que ser administrado pelo estado. Um equívoco muito grande. Você vê hoje o absurdo que pagamos de conta de luz. Eu tô pagando mais de R$ 300, um absurdo para um trabalhador. Sou funcionário da Caixa Econômica Federal. E Paulo Souto disse que esse dinheiro dessa privatização seria para acabar justamente com esse rombo da seguridade social e não fez. Ele desviou esse dinheiro para outra coisa. Então esse rombo começou a aumentar e está totalmente insustentável. O atual governo do estado está cometendo o mesmo erro. Saiu o Funprev, criou o BahiaPrev e aí diz que está criando pra os que estão entrando e vai ver o que faz com os outros. Tinha 2,5 bilhões no BahiaPrev, implantou R$ 8 bilhões, desviou o do Funprev, então cometeu dois problemas. Primeiro já começou com problema atuarial desse BahiaPrev. As pessoas vão fazendo as coisas de qualquer jeito e aí futuramente vai gerando um problema insustentável. A gente precisa sentar e dialogar verdadeiramente. Chamar de uma maneira muito transparente todas as pessoas envolvidas que estão aposentados e os que ainda estão na ativa e ainda vão se aposentar e chegar num denominador comum. Vai ter uma parcela dos trabalhadores, mas esta tem que ser a mínima possível. A provisão do Estado tem que sair maior. Essa arrecadação é justamente para resolver esse problema que não é fácil de resolver. A mesma coisa é a URV, até hoje não resolveram o problema. Já deveriam ter pago.
Há um descolamento ainda muito grande entre as exigências do mercado de trabalho e das empresas empregadoras, e o que se ensina nas escolas? O fato é que a escola não prepara adequadamente os jovens para cumprir as exigências do mercado de trabalho. O senhor tem alguma proposta para essa questão?
As escolas hoje são voltadas há dois pontos específicos, formar mão de obra e diga-se de passagem formar mão de obra barata para as empresas e para se preparar para o vestibular. Precisamos ter uma outra discussão sobre esse modelo de educação com um modelo pedagógico que vá além das quatro paredes. Tem que haver uma discussão com alunos e professores, os pais e mães desses alunos e a comunidade do entorno. Dentro da sua realidade, ele analisar porque não tem saneamento e políticas públicas aqui para que eles possam transformar a sua realidade através disso ele vai ter uma consciência política para ele saber quem escolhe. Nós defendemos a democracia direta, a população decidindo, mas enquanto estamos em um sistema representativo ele tem que saber quem escolher para representá-lo. Esse é o primeiro ponto. O segundo é que a gente precisa fazer um investimento maior em educação. O governo Rui Costa em dois anos de 2015 a 2017 mais do que duplicou os contratos de REDA. Esse regime vem da época de Paulo Souto, César Borges e dos governos carlistas. É um trabalho temporário, a precarização do trabalho na área de educação. Porque abriu mão de concurso público? Você tem que fazer concurso e contratar os melhores profissionais do mercado. Eu tenho uma meta que quando eu sair do governo do estado, o estado da Bahia tenha os melhores salários do Brasil na área de educação. Educação é investimento. 32 por cento dos professores da Bahia não recebem o piso nacional, ou seja, praticamente um terço. Triplicaram os Redas e o governo do PT critica o Reda dos governos carlistas passado. Claro que a gente vai respeitar a lei, o Reda vale por dois anos prorrogáveis por mais dois. São 4 anos sem reajuste. O valor que o governo tem do reajuste prudencial dá em torno de 3,6 quase 4 %, então poderia fazer um aumento com segurança sim e a gente pode provar isso. A gente precisa respeitar os servidores estaduais porque são eles que constroem o nosso estado. O segundo ponto é que várias escolas foram fechadas, só aqui em Salvador foram vinte e centenas de escolas na Bahia. No campo, mais de oitocentas foram fechadas. Para transformar qualquer sociedade precisamos investir pesado em educação e isso não está acontecendo. Precisamos ter uma formação pesada no campo para que as pessoas sejam inseridas no mercado de trabalho emprego e renda. Houve uma pressão muito grande para investimento em escolas de famílias agrícolas no campo no MEC, pelo menos até o mês passado o governo federal não tinha destinado essa verba. Se temos uma maior população rural e se faz um maior investimento nela. Inclusive o governo Rui Costa está defendendo a militarização das escolas pois diz que os resultados são melhores, mas, na verdade, os melhores resultados são das escolas agrícolas. Então você não precisa militarizar. É um grande equívoco. Não tem que militarizar, a escola tem que ser pública e de qualidade. Sou totalmente a favor do sistema de cotas na educação e no funcionalismo, não só raciais, mas também LGBTs, há um processo muito grande de discriminação com essa população, é a que mais é assassinada na Bahia, é um dos estados mais homofóbicos também e o que mais mata. Criando as condições no campo e a regularização fundiária você garante emprego e renda e combate a violência também. As escolas profissionalizantes também tem um papel fundamental. As pessoas precisam fazer o que elas querem, tem pessoas que não querem entrar na universidade. Elas vão ser forçadas a entrar na faculdade? Tem pessoas que querem trabalhar com cursos profissionalizantes. No governo Lula teve uma coisa positiva aumentou o número de escolas técnicas. Eu acho que deveria ter maior valorização dos servidores dessa escola. Aumentou também o número das universidades federais, mas precisa ter uma quantidade maior de servidores e valorizados. O problema é o seguinte o investimento maior no FIES e no Prouni deixa um passivo social muito grande porque as pessoas têm que pagar e às vezes não tem dinheiro para pagar quando se formam. Se pegasse esse dinheiro e investisse na universidade pública de qualidade geraria três, quatro vezes mais vagas e não deixaria essas pessoas na situação que tem um rombo bilionário no FIES. As universidades têm um papel fundamental de fomentar a economia e o desenvolvimento regional. A Uneb tem vários campus espalhados na Bahia em três grandes campus Jequié, Conquista e Itapetinga. Temos a UEFS e a Uesc. O governo Rui Costa retirou R$ 200 milhões de custeio, investimento e manutenção das universidades. Os professores e administradores disseram que isso está afetando a pesquisa e extensão. Tem laboratórios que está faltando matéria, nada está funcionando, não tem provadores para fazer pesquisa, estava um caos total nas universidades estaduais. Ele gastou quase 210 milhões com propaganda em 2017 é quase o orçamento da UEFS ou UESC. Tem uma luta dos professores e alunos, eles pedem 7% da riqueza líquida de impostos, hoje está em torno de 5%, para as universidades estaduais e mais 1% para a manutenção desses alunos nas universidades que querem se manter estudando mas acabam desistindo. Uma coisa foi retirada no governo carlista e que foi mantida pelo governo Rui Costa e foi uma promessa de Wagner na época que ia acabar com isso é a falta de autonomia. A gente quer encaminhar esse dinheiro, mas que as universidades tenham autonomia para resolverem onde vão encaminhar esse dinheiro.
O PSOL é um partido com ideias contra hegemônicas na política brasileira. Se eleito, como o senhor pretende consolidar uma base na Assembleia para aprovar as propostas do governo?
Nós não queremos estar subordinados na Assembleia Legislativa, nem a nível nacional na Câmara de Deputados Federais. Eles são representantes do povo são. Temos uma constituição totalmente antidemocrática, porque não tem a participação das pessoas, então a gente quer sentar e dialogar para que a gente aprove determinadas leis. A Suíça, que não é um país tão bolivariano assim, você tem 10 consultas populares no ano e se você tiver se não me engano 100 mil assinaturas não passam nem pelo congresso, o projeto passa e vira lei. Porque na Bahia eles não fazem isso. Nós vamos ter um respeito com o legislativo. A gente não quer toma lá dá cá dessa política tradicional. Esse favorecimento de grupos políticos e vamos denunciar isso. Inclusive queremos eleger os nossos deputados pra isso. Eu não posso afirmar que o PSOL será 100% porque não estou na cabeça das pessoas, mas temos um trunfo muito grande. A maioria de nós era militantes do PT que quando o PT começou a se desviar nós não concordamos com isso, saímos do PT e viemos para o PSOL. Se quiséssemos fazer a mesma coisa continuaríamos no PT. Mesmo porque o PT estava no poder agora e agente podia entrar no poder. Ouve vários convites para botar uma mordaça em mim e várias outras pessoas um carguinho ali pra ver se nós ficávamos calados mas nós não aceitamos. O PT se aliou a vários partidos da direita e isso resultou no impeachment de Dilma que nós fomos extremamente contrários, foi golpe dado pelo presidente Michel Temer e a cúpula dele e também a prisão de Lula, nós entendemos também que é uma prisão injusta e que é uma prisão política. Não há provas, para o que ele foi condenado, a não ser que tragam provas novas. Agora não estou dizendo que ele é nenhum santo e outras coisas não aconteceram mas precisa apresentar provas em relação a isso. Podem ser até que vieram porque não tiveram espaço no PT, mas foi uma minoria, boa parte foi porque não concordou com a política de aliança de classe adotada pelo PT e continua em vários locais está apoiando Sarney, o grupo de Calheiros, aqui está alinhado com o PSD e o PP de João Leão, Mário Negromonte, Otto Alencar e agora Coronel. Uma senadora como Lídice da Mata, posso até ter críticas políticas a ela, mas é uma senadora de esquerda que lutou contra o golpe, ela foi descartada para você botar mais um líder de um grupo golpista.
O senhor já tem uma ideia do perfil de um futuro secretariado? As pastas atuais serão todas mantidas ou o senhor pensa em fazer algum ajuste?
A gente precisa dialogar com a população e com os servidores. Na pasta de educação, por que colocar alguém fora da área, tem que tirar da própria dos quadros da educação, da saúde, da segurança pública. Casa Civil e Administração você vai colocar alguém da sua confiança. Temos que privilegiar cargos técnicos de confiança. Fazer auditoria sempre e ter transparência.
Como é atualmente a relação do senhor aqui na Bahia com outros partidos mais à esquerda, como PT, PSB e PCdoB?
Temos diálogo, mas que a gente possa fazer aliança, tem que ter aliança programática. Tenho amigos no PT, PSB e PC do B, mas não dá pra fazer aliança com partidos de direita e que contribuíram para o golpe.
Qual o posicionamento do senhor em relação à descriminalização do aborto?
Ninguém é a favor do aborto. Somos a favor da legalização. Precisamos entender que é uma questão de saúde pública. As mulheres é que entendem sobre o seu corpo, não o homem. Vamos ter a disposição da mulher, médicos, assistentes sociais, psicólogos, técnicos de saúde e tentar convencer do contrário, caso ela não aceite ela vai fazer um aborto acompanhado. A gente precisa salvar essas mulheres. De cada 5 mulheres, 3 já cometeram aborto. 2/3 das evangélicas fazem. As mulheres ricas fazem de forma clandestina. As mulheres negras e da periferia acabam fazendo aborto indiscriminado e acabam morrendo. A gente precisa educar essas mulheres sobre métodos contraceptivos para evitar o aborto. A gente precisa discutir gênero, raça e sexualidade nas escolas para combater a homofobia, o machismo e o racismo. A escola sem partido é um grande absurdo.
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